Yuri Bezmenov se apresenta como um dissidente do serviço de inteligência da União Soviética que abandonou suas operações para buscar uma outra vida no ocidente na década de 1970.
Conta que após conseguir fugir de seu posto na embaixada da Índia, conseguiu se mudar para o Canadá e adotou por anos o pseudônimo de Thomas Schuman, para evitar retaliações.
Posteriormente, foi morar nos EUA, onde ensinou sobre as táticas de manipulação social que empregava a serviço da URSS.
Diferentemente do que se espera do trabalho de um espião, a função de Bezmenov não seria roubar informação, mas trabalhar para abalar estruturas sociais por meio da subversão e ataques às bases culturais.
Em uma palestra concedida pela Summit University em Los Angeles no ano de processo que Bezmenov chama de subversão ideológica consiste na implementação lenta e gradual de um plano de sabotagem cultural dividido em quatro etapas:
Entenda cada uma dessas etapas segundo a própria explicação de Bezmenov, e como elas são implementadas.
A primeira fase do plano de destruição da sociedade é chamada por Bezmenov de desmoralização.
O processo dura um período que vai de 15 a 20 anos aproximadamente, o suficiente para educar uma geração de crianças.
O objetivo dessa etapa é influenciar as várias áreas nas quais a opinião pública e o imaginário coletivo são formados, para mudar o entendimento que o povo atingido tem da própria realidade.
O dissidente destaca que a desmoralização é uma via de mão dupla, uma vez que só é possível subverter países abertos à entrada e propagação de discursos e ideologias contrários aos seus valores fundamentais.
Isso significa que a maior parte desses processos seria feito por movimentos de cidadãos do próprio país, que têm crenças e práticas opostas à sociedade vigente.
Agentes estrangeiros, porém, teriam o papel de alimentar esses movimentos internos com propagandas, capacitação e outras formas.
Bezmenov afirma que muitas figuras-chave dentro desses grupos eram levadas à URSS e países alinhados para serem ensinados sobre como se infiltrar em organizações como a grande mídia, órgãos públicos não eleitos e movimentos sociais.
Com isso, seria possível iniciar um processo de dissolução das bases de uma estrutura social sem que os responsáveis fossem percebidos ou impedidos.
O ataque à religião é mencionado como uma atividade fundamental para o decorrer do processo, uma vez que mina pilares sociais e culturais, além de reduzir o ímpeto de resistência da sociedade que sofre com a subversão.
Com o objetivo de descredibilizar as igrejas e afastar as pessoas da fé, o propagandista afirma que a KGB fomentava o avanço de organizações "falsas", que fariam a ideia de buscar por espiritualidade soar como "ridícula".
A educação também é apontada como um dos alvos prioritários para que uma sociedade seja desmoralizada.
Bezmenov explica que a agenda da inteligência soviética mandava impedir as pessoas de aprenderem coisas construtivas, pragmáticas e eficientes para dar lugar a outras atividades:
"Distraia-os de aprender algo que seja construtivo, pragmático e eficiente. Em vez de matemática, física, línguas estrangeiras e química, ensine-lhes história da guerra urbana, alimentação natural, economia doméstica, sua sexualidade, qualquer coisa, desde que os afaste do essencial".
Um dos objetivos dessa fase seria reduzir a responsabilidade individual e a iniciativa. Para isso, é importante tornar as pessoas dependentes de burocracias e trazer seu convívio social para ambientes como associações de trabalho ou coletivos políticos.
Os infiltrados iniciam um processo de relativização moral, enaltecendo pessoas que lutam contra o que seria certo e criticando aqueles que seguem os padrões sociais.
Um dos exemplos em que isso acontece, segundo o soviético, é com as forças de segurança, que são retratadas como corruptas e violentas, ao passo que criminosos e usuários de drogas são apresentados como bons ou vítimas da sociedade.
As relações entre funcionários e empregadores também são tensionadas para que os sindicatos e órgãos controlados pelos infiltrados ganhem mais poder.
"Eles alcançaram o salário? Não, eles perderam. Quem se beneficiou? Os líderes sindicais. Qual é a motivação para a greve? Melhorar as condições dos trabalhadores? Não, obviamente não é. Então, o que é? Ideologia, para provar a esses capitalistas. E a horda obediente de trabalhadores, como ovelhas, segue essas pessoas e não pode desobedecer. Por quê? Porque se o fizerem, você sabe o que acontece com eles: ameaças, assassinatos, tiros em caminhoneiros."
Isso também fortalece o poder da narrativa marxista clássica, de que a luta de classes levaria os trabalhadores a conseguir melhores condições graças à guerra revolucionária.
Com isso, a sociedade perde sua unidade e os valores fundamentais, se tornando mais suscetível a conflitos internos e aceitando melhor o uso da violência para atingir fins propagados como justos.
Essa etapa se baseia em criar tensões em todas as relações humanas, de modo que até discussões banais levem a debates extremamente polarizados e radicais.
Nessa fase, a vida em sociedade é levada a um alto nível de agressividade, em que as pessoas acabam por se tornarem incapazes de chegar a consensos.
"Exatamente, é como essa radicalização das relações humanas, não há mais compromisso, apenas luta, luta, luta. As relações tradicionalmente aceitas são desestabilizadas. As relações entre professores e alunos nas escolas e faculdades se tornam conflituosas. No âmbito econômico, as relações entre trabalhadores e empregadores são ainda mais radicalizadas, não há mais aceitação da legitimidade das demandas dos trabalhadores."
A mídia exerce o papel de retratar essas relações conflituosas dentro da narrativa de embate entre opressores e oprimidos, legitimando e normalizando até mesmo atos de violência.
"A sociedade como um todo se torna cada vez mais antagônica entre indivíduos, entre grupos de indivíduos e a sociedade em geral. A mídia se coloca em oposição à sociedade em geral, separada, alienada."
É durante esta fase que os infiltrados passam a radicalizar os movimentos em que estão inseridos, aumentando os choques sociais em intensidade e volume:
"Não importa o que seja, pretos contra brancos, amarelos contra verdes, não importa onde a linha divisória esteja, desde que esses grupos entrem em confronto antagônico, às vezes militantemente, às vezes com armas de fogo, esse é o processo de desestabilização."
Ao fim do processo de desestabilização, espera-se uma sociedade dividida, de modo que o ódio seja a regra entre grupos antagônicos.
A próxima etapa descrita pelo dissidente tem como objetivo elevar ainda mais as tensões e iniciar o caos social.
O processo de crise ocorre quando os órgãos de poder legítimos não conseguem mais comportar as tensões, o que leva a sociedade a recorrer às instituições paralelas dominadas pelos infiltrados.
Os grupos, cada vez mais fortalecidos, começam a lutar para conseguir cada vez mais poder, criando Estados paralelos.
Nesse cenário, a sociedade tornaria-se tão caótica que a população passaria a buscar por uma solução capaz de trazer estabilidade e melhores condições.
Os movimentos de esquerda apoiados pela KGB apareceriam como salvadores, conduzindo o país à guerra civil ou à ocupação estrangeira.
O processo de subversão ideológica parte para sua sua etapa final.
O termo normalização foi criado pela propaganda soviética após o fim dos levantes populares na Tchecoslováquia, que ficaram conhecidos como Primavera de Praga de 1968.
Na ocasião, o Kremlin enviou batalhões de blindados para esmagar os revoltosos e por fim aos protestos, “normalizando” a situação.
Bezmenov explica que a ideia dessa etapa seria estabilizar o país por meio da força, uma vez que os líderes revolucionários já teriam alcançado o poder e agora precisam acabar com a revolução.
Nessa fase, os artistas, militantes e outros que haviam sido úteis no decorrer do processo são mortos ou mandados para o ostracismo, para não causarem problemas para a nova classe dominante:
"Isso é o inverso da desestabilização, basicamente é a estabilização do país pela força. Então, todos esses infiltrados, ativistas, assistentes sociais, liberais, homossexuais, professores, marxistas e líderes estão sendo eliminados,às vezes fisicamente. Eles já fizeram seu trabalho, ok, eles não são mais necessários. Os novos governantes precisam de estabilidade para explorar a nação, para explorar o país, para tirar vantagem da vitória."
A ditadura socialista seria imposta ao fim desse processo, de modo que dificilmente o país conseguiria voltar a ser uma sociedade livre sem uma intervenção estrangeira.
Bezmenov conclui mencionando que a cada etapa o processo de restauração da sociedade é mais difícil, reafirmando a necessidade de interromper a ação ainda no período de desmoralização.
Cupom aplicado 37% OFF
Cupom aplicado 62% OFF
MAIOR DESCONTO
Cupom aplicado 54% OFF
Assine e tenha 12 meses de acesso a todo o catálogo e aos próximos lançamentos da BP