Antes da hegemonia do Primeiro Comando da Capital (PCC), uma outra facção dominava os presídios paulistas: a Seita Satânica.
Segundo o site Aventuras na História, a facção era composta por adoradores do demônio, suas origens remontam ao final dos anos 60, embora tenha se consolidado como facção organizada a partir de 1993, com a chegada do líder Idelfonso José de Souza ao Carandiru.
Uma das facções mais antiga ainda em atividade, a Seita Satânica usou o culto ao demônio como forma de dominação e intimidação por décadas.
No Carandiru, membros da organização se encontravam no quarto andar do Pavilhão 9, com presença também no Pavilhão 8.
Suas celas eram facilmente identificáveis: pintadas de preto, exibiam símbolos como o número 666, pentagramas, cruzes invertidas, tridentes e imagens de demônios como Baphomet.
Agentes penitenciários que trabalhavam na época relatam o ambiente sombrio e o medo que o grupo inspirava. Ronaldo Mazotto Lima, agente aposentado, contou ao UOL sobre o desconforto nas revistas:
“Enquanto conduzia revistas em suas celas, eu enfrentava o desconforto de mexer nos utensílios utilizados em rituais, como vasos de oferendas, velas e símbolos satânicos. Retirava objetos, encontrava odores repugnantes, números 666, roupas escuras, e até mesmo recipientes contendo sangue. Meus colegas tinham medo de mexer nessas coisas.”
O agente Diorgeres de Assis Victorio, que teve contato com a Seita por mais de 20 anos, descreveu ao portal Uol odor fétido das celas, vindo de vasilhames com sangue velho e de uma "garrafa PET furada" usada em rituais:
“Uma das coisas que mais me impressionou foi uma garrafa PET furada que eles tinham e que fedia muito. Eles disseram que o cheiro forte agrada a Lúcifer. Na primeira vez que fui revistar a cela — e eu era um dos poucos que aceitava fazer isso — eu quase vomitei. [...] Essa 'garrafa PET furada' era usada como um chuveiro, só que o banho não era de água, era de sangue humano, de ratos, ou de qualquer tipo de sangue que eles conseguissem.”
Outro ritual relatado por Victorio envolvia queimar as próprias mãos como oferenda. Os presos diziam que "o cheiro da carne no fogo é o elixir de Lúcifer" e frequentemente precisavam de curativos.
Mazotto conta que os membros da facção arrancavam o coração desafetos, e o órgão era comido em rituais.
Idelfonso José de Souza, conhecido como "O Pai" ou "Pai Fundador", foi a figura central que unificou os praticantes de satanismo nos presídios sob a bandeira da Seita Satânica em 1993/1994.
Descrito como frio, inteligente e com conhecimentos de artes marciais, ele era reverenciado pelos membros como o próprio "Satã".
Preso por homicídio, cumpriu cerca de 17 a 20 anos e foi solto em 2010. Seu paradeiro atual é desconhecido.
A entrada na Seita exigia um compromisso profundo, e os membros não podiam recusar participação em rituais ou oferendas, como as queimaduras nas mãos.
O agente Victorio teve acesso ao estatuto da Seita através do detento Benedito Honorato (que também foi líder do grupo). O texto continha três pontos focados na "verdade justiça infernal".
Durante anos, a Seita Satânica conviveu e disputou território com outras facções. Com a ascensão do PCC nos anos 90, iniciou-se um conflito pela hegemonia.
O Carandiru tornou-se o principal palco dessa guerra. No início dos anos 2000, o confronto explodiu: membros de facções rivais foram mortos ou forçados a aceitar o domínio do PCC.
Em fevereiro de 2001, três líderes importantes da Seita foram assassinados no Carandiru em uma semana: Nilson César Camargo ("Caveira"), José Eduardo Assaf e Benedito Honorato.
Os inquéritos das investigações apontaram ligação com ordens do PCC, mencionando o nome de Marcola.
Idelfonso, o "Pai Fundador", foi transferido para outra unidade para sua segurança. A Seita Satânica, acuada, aceitou a condição de inferioridade para não ser extinta.
Diorgeres de Assis Victorio afirma que, embora diminuída e mais reclusa, a Seita Satânica ainda existe em presídios do interior de São Paulo, com membros dedicados à sua religião e causando faltas disciplinares.
Ele também ressalta o impacto brutal do sistema prisional e dos conflitos entre facções na saúde mental de presos e funcionários, descrevendo a cadeia como uma "fábrica de fazer loucos".
De fato, muitos grupos criminosos que aterrorizam as ruas do Brasil tiveram início dentro das celas.
Atualmente, aproximadamente 23 milhões de brasileiros vivem em regiões dominadas pelo crime organizado.
O controle de territórios pelas facções é uma questão que afeta o Brasil inteiro. A cidade do Rio de Janeiro é um dos exemplos mais famosos desse cenário.
O paraíso tropical que já foi retratado por alguns dos maiores artistas do país se transformou em uma zona de guerra.
Diferentes facções buscam expandir seus territórios, se combatendo nas ruas de uma das cidades mais famosas do mundo.
A Brasil Paralelo investigou como a capital carioca chegou a esse ponto e o que pode ser feito para evitar que o mesmo se repita em outros lugares com o documentário Rio de Janeiro: Paraíso em Chamas.
Clique aqui e ative uma notificação para não perder a estreia gratuita no dia 15 de abril.
Como um veículo independente, não aceitamos dinheiro público. O que financia nossa estrutura são as assinaturas de cada pessoa que acredita em nossa causa.
Quanto mais pessoas tivermos conosco nesta missão, mais longe iremos. Por isso, agradecemos o apoio de todos.
Seja também um membro da Brasil Paralelo e nos ajude a expandir nosso jornalismo.
A Brasil Paralelo traz as principais notícias do dia para todos os inscritos na newsletter Resumo BP.
Tenha acesso às principais notícias de maneira precisa, com:
O resumo BP é uma newsletter gratuita.
Quanto melhor a informação, mais clareza para decidir.
Cupom aplicado 37% OFF
Cupom aplicado 62% OFF
MAIOR DESCONTO
Cupom aplicado 54% OFF
Assine e tenha 12 meses de acesso a todo o catálogo e aos próximos lançamentos da BP