"Exijo meu direito de defender a minha dignidade. Eu fui violentada e agredida em todas as dimensões. Fui agredida física, psicológica e sexualmente, e também fui agredida por uma posição de poder", declarou Zoilamérica Narváez Murillo na denúncia contra Daniel Ortega.
Em 2001, Zoilamérica Narváez Murillo, enteada de Daniel Ortega, acusou o atual líder da Nicarágua de abusá-la sexualmente, estuprá-la e violentá-la durante 20 anos. Segundo seu depoimento, desde seus 9 anos de idade o ex-líder guerrilheiro e atual ditador da Nicarágua abusou e violentou-a de diferentes formas.
Em um depoimento inédito, concedido à Brasil Paralelo, Zoilamérica diz mais:
"Eu sofria abuso sexual de Daniel Ortega desde a época da clandestinidade, quando ele era um guerrilheiro. Quando as coisas curiosamente mudam e chegam os acordos de paz, ocorre uma transição à democracia e a minha família perde o poder. O poder do Estado que eles possuíam, foi o momento que eu saí de casa."
Mesmo tendo saído de sua casa, Zoilamérica relata que os abusos de Ortega seguiram:
"Eu já não estava mais lá, mas Daniel Ortega ainda me assediava sexualmente, porque sentia que ainda tinha o poder para fazer isso."
A ex-enteada do governante da Nicarágua sabia que os episódios de violência prejudicavam o desenvolvimento de sua vida e de sua família:
"Eu precisava que o abuso sexual terminasse. Eu precisava dar um fim à experiência de violência que estava vivendo. E eu teria que fazer isso através de uma denúncia, porque eu já havia tentado de outras maneiras e não tinha conseguido".
Na época, em 2001, a denúncia foi feita para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Tanto a comissão quanto a Zoilamérica Narváez buscavam um acordo amistoso.
Naquele ano, Daniel Ortega era deputado da Assembleia Nacional da Nicarágua e gozava de imunidade parlamentar. Assim, não pôde ser condenado pela denúncia de sua ex-enteada.
Em 09 de junho de 2009, Zoilamérica Narváez retirou a denúncia contra Ortega. O processo havia sido aberto contra o Estado da Nicarágua e a vítima solicitou à Comissão de Direitos Humanos que guardasse a confidencialidade dos motivos que a levaram a retirar a queixa contra o agressor.
À época da denúncia, Daniel Ortega participou de um programa de televisão para defender-se das acusações. O então deputado apenas pontuou:
"Isso é tudo mentira". Ao que a jornalista retrucou: "você diz que a Zoilamérica está mentindo?", Ortega manteve seu discurso:
"Digo que é uma mentira, só isso".
A denúncia de Zoilamérica foi respaldada com um depoimento descritivo e detalhado dos abusos. Seu testemunho preencheu 43 páginas, descrevendo o que ela afirmou serem 20 anos de abuso.
"Escrever esse depoimento foi uma das coisas mais difíceis da minha vida, eu sequer o editei. Lembro que pus tantos detalhes porque eu sabia que se eu não fizesse isso, ninguém acreditaria em mim. Eu precisava pintar, desenhar com palavras um Daniel Ortega que ninguém conhecia."
Em sua entrevista para a Brasil Paralelo, Zoilamérica Narváez diz que uma de suas maiores dificuldades foi não encontrar apoio de sua mãe:
"Acho que ninguém está preparado para aceitar que seu companheiro esteja abusando sexualmente da sua filha.
Provavelmente ela não sabia o que devia fazer e nem como fazer. Mas, evidentemente, no momento da denúncia, que foi um momento que, por razões que eles sabem, ela não esteve presente como mãe, mas viveu aquilo pelo lado político.
Isso a levou a tomar a decisão sobre o lado em que ficaria.
Evidentemente, a ferida que causou o distanciamento com a minha mãe foi a mais difícil de lidar, de entender.
Hoje temos que entender isso de vários pontos de vista, tanto do lado pessoal, quanto a respeito de como isso também levou à tomada de decisões políticas mais do que decisões humanas."
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