O governador de Minnesota, Tim Walz, intensificou sua rivalidade pública com o bilionário Elon Musk, CEO da Tesla e da SpaceX.
Em um discurso em Ohio, no dia 9 de abril, Walz defendeu que os democratas devem “demonizar” figuras como Musk, apontando o que considera ganância e sonegação fiscal. O governador declarou:
“Está tudo bem na América ser bem-sucedido, devemos celebrar isso. Minha bronca é que, uma vez que você alcança o sucesso, não seja um ganancioso e deixe de pagar seus impostos. O que devemos demonizar são pessoas como Elon Musk.”
As palavras de Walz, gravadas em vídeo e espalhadas pelas redes, ecoaram em um contexto de atritos com Musk, que assume papel central no Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) do governo Trump.
Walz tentou equilibrar sua mensagem, afirmando:
“Devemos transmitir a mensagem de que está tudo bem ser bem-sucedido. Devemos celebrar isso.”
Ele enfatizou que sua crítica mira quem não contribui socialmente:
“Meu problema é com aqueles que, ao alcançarem o sucesso, não contribuem de volta para a sociedade.”
No entanto, o governador não apresentou provas contra Musk, dizendo apenas:
“E quando alguém como Musk usa sua influência para moldar narrativas ou evitar responsabilidades, isso prejudica a todos nós.”
Musk negou as acusações, alegando ter pago quase R$ 60 bilhões em impostos, segundo a CNBC (2021).
A tensão entre Walz e Musk não é nova. Em 2022, durante um town hall em Wisconsin intitulado “O Povo vs. Musk,Walz zombou da desvalorização da Tesla:
Musk respondeu nas redes, aludindo à derrota democrata de 2024:
“Às vezes, quando preciso de um gás, penso no JD Vance na Casa Branca e dou graças a Deus.”
As declarações de Walz dividiram opiniões. A deputada Maria Thompson, presente no evento, apoiou:
“Ele está certo em chamar a atenção para os bilionários que não jogam limpo. Não é sobre odiar o sucesso, é sobre justiça.”
A senadora Elizabeth Warren, que defende impostos mais altos para bilionários, alinha-se a essa visão, segundo reportagem do The New York Times em 2021. Já os republicanos criticaram. James Carter, estrategista político, disse à Fox News: “Chamar alguém de ‘ganancioso desgraçado’ e sugerir demonização não é exatamente uma estratégia unificadora. Isso pode ser bom para estimular a base democrata, mas também dá munição aos adversários.”
Em entrevista ao Daily Wire, Ben Shapiro, chamou a fala de “populismo barato”. Além disso, acusou Walz de desviar atenção do déficit de US$ 6 bilhões (cerca de R$ 30 bilhões) de Minnesota.
Discurso de ódio, segundo o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos, é qualquer comunicação que incite discriminação, hostilidade ou violência contra pessoas ou grupos por características como raça, religião ou filiação política.
Nos EUA, a Primeira Emenda protege a liberdade de expressão, salvo indicações claras à violência. No Brasil, a Lei nº 7.716/1989 pune preconceito, mas não críticas políticas a indivíduos.
André Marsiglia, especialista em liberdade de expressão, alerta:
“O termo é subjetivo e muitas vezes usado para silenciar debates. A legislação brasileira, de certa forma, segue o mesmo caminho da americana ao estabelecer que só são puníveis os discursos em que há intenção do emissor de lesionar o outro. O conceito de discurso de ódio está totalmente focado na sensibilidade de quem ouve, e não na intenção de quem fala. Por isso, não é possível classificar o discurso de Tim Walz como discurso de ódio. Pode ser um discurso ácido, questionável, mas discurso de ódio não é.”
Adriano Cerqueira, cientista político do IBMEC, questiona o termo discurso de ódio:
“Eu não gosto de usar esse termo discurso de ódio, porque o considero muito subjetivo e, quando existe algum consenso sobre isso, não é um consenso que inclua todo o espectro político, é um consenso mais ideologizado de uma parte do espectro político.”
Ele entende o discurso de Walz como combativo, mas não incitação ao ódio. Enfatiza que se trata de uma estratégia política de se posicionar dentro do partido:
Cerqueira compara Walz a Bernie Sanders, que defende políticas sociais e regulação estatal, e aponta a crise democrata:
“Essa ala saiu ferida com a derrota da Kamala Harris. Foi uma aposta ruim.”
Para Cerequeira, Trump e os republicanos conectam-se melhor com o “cidadão comum”, enquanto os democratas assumem uma “agenda elitizada”. Ele afirma:
“Pesquisas mostram que trabalhadores de fábricas americanas estão se identificando mais com o Partido Republicano do que com o Democrata, que assume uma agenda elitizada.”
Walz, segundo ele, busca liderança na ala radical, mas, se indicado a uma eleição, “precisará abandonar esse discurso, pois o eleitorado americano atual não embarcaria em propostas de extrema-esquerda.”
A retórica de Walz não é isolada. Durante a campanha de 2024, Kamala Harris chamou Trump de “fascista” e “ameaça existencial à democracia”. Também de acordo com o The Telegraph, também chamou de “predador sexual, fraudador e trapaceiro” (The Telegraph).
Barack Obama, em 2020, afirmou:
“Donald Trump não cresceu no cargo porque não pode. E as consequências desse fracasso são severas. 170.000 americanos mortos. Milhões de empregos perdidos. Nossos piores impulsos desencadeados, nossa reputação orgulhosa ao redor do mundo gravemente diminuída”.
Maxine Waters, em 2018, incentivou os confrontos:
“Se você vir alguém do gabinete Trump em um restaurante, junte uma multidão e grite que não são bem-vindos” (CNN).
Joe Biden, em 2022, descreveu as eleições como uma batalha contra “MAGA Republicans” que ameaçam “igualdade e democracia”, segundo a Fox News. Ele afirmou que as “forças MAGA” buscam “levar o país para trás”, ameaçando direitos como privacidade e igualdade no casamento.
Marsiglia diz que, se compararmos os democratas com a esquerda brasileira, é possível fazer paralelo interessante.
“A polarização, sobretudo política e discursiva, alimenta muito a esquerda, tanto aqui quanto lá. Quando você cria essa polarização, tem a possibilidade de dizer que algo que acontece lá também acontece aqui, especialmente em campanhas. Os democratas podem se posicionar como uma reserva moral, um paraíso da democracia, enquanto os republicanos são vistos como uma ameaça a ser repudiada. Cria-se, assim, uma dicotomia que facilita a compreensão política do eleitor.”
Para Marsiglia, neste momento de modo geral, a política está um pouco mais robusta com a direita, e os republicanos nos Estados Unidos:
“Neste momento, o povo está mais interessado no discurso dessas pessoas, desse espectro ideológico”, afirma.
Ao continuar, afirma que a esquerda está um tanto perdida, dividida entre sua origem operária e uma nova vertente identitária, mas ainda não se encaixa plenamente nesse novo papel:
“Essa esquerda, em sua desorientação, aproveita o discurso de 'nós contra eles' para se posicionar como uma reserva moral e, assim, justificar sua eleição. Portanto, acredito que esse divisionismo, que chamamos de polarização, possa ser atribuído a uma estratégia construída para favorecer os democratas e a esquerda no jogo político."
Trump também adota retórica combativa
Segundo a CNN, Donald Trump também adota retórica agressiva. Em 2020, ele chamou Kamala Harris de “desagradável”. De acordo com o the Guardian, a democrata foi chamada de “preguiçosa”, “deficiente mental” e “burra”.
“Alguém percebe que Kamala Harris não dá entrevistas? Isso é porque ela é realmente burra! Não consegue falar sem um teleprompter”.
Contra Joe Biden, ele usou “Crooked Joe” e afirmou: “Joe Biden ficou mentalmente incapacitado. É triste” (NPR, 30 de setembro de 2024).
Após Biden abandonar a campanha, Trump o chamou de “fraco e patético” (Postagem em X, 10 de setembro de 2024). De acordo com o the Washington Post, Trump se referir a Barack Obama como o “pior presidente”.
A retórica combativa de Walz, Harris, Obama e Biden, ao atacar Trump e Musk, e de Trump, ao insultar Harris e Biden, reflete uma política que aposta na divisão para mobilizar eleitores.
Marsiglia aponta que os democratas se posicionam como “reserva moral”, criando um “nós contra eles” que polariza, Cerqueira, por sua vez, alerta para o fato de que esse tipo de discurso sempre existiu e faz parte de estratégia para marcar posição no partido e conquistar apoio.
Ambos concordam que, neste momento histórico, independente do discurso incisivo, neste momento, o eleitor parece se conectar com a agenda democrática.
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