No dia 4 de março de 1983, o então Papa João Paulo II desembarcou em Manágua, capital da Nicarágua, pela manhã. O pontífice realizava uma viagem apostólica a um país dividido em meio a guerra civil.
De um lado, o governo de Daniel Ortega que comandava o país e a Frente Sandinista de Libertação Nacional, do outro, os camponeses articulados no exército conhecido como “Os Contras”.
A Frente Sandinista havia tomado o poder ao derrubar a ditadura de Somoza, no lugar, implementaram outro governo de caráter ditatorial, mas com um viés socialista.
Os contra receberam esse nome por se opor à revolução sandinista.
O Papa João Paulo II foi recebido por Daniel Ortega e outras autoridades da junta do governo Sandinista.
No aeroporto, o pontífice foi recebido com faixas que diziam: "Bem-vindo à Nicarágua livre, graças a Deus e à revolução". Nessa ocasião, Ortega fez um discurso louvando o regime sandinista que chefiava.
João Paulo II cumprimentou as demais autoridades que o esperavam e se dirigiu para saudar Ernesto Cardenal, padre e militante da teologia da libertação que era ministro da cultura do regime sandinista.
Cardenal tirou sua boina e se ajoelhou tentando saudar o Papa. João Paulo II recolheu suas mãos e, com o dedo em riste, censurou publicamente o sacerdote.
João Paulo II havia proibido padres de exercerem cargos políticos de qualquer natureza. Se o fizessem, teriam que se demitir do estado sacerdotal.
“Quando ele se aproximou de mim, fiz o que tinha planejado para esse caso: Tirar a minha boina e dobrar o meu joelho para beijar seu anel”, disse Cardenal em seu livro A Revolução Perdida.
“Ele não me deixou beijá-lo, e erguendo o dedo como se fosse um bastão, me disse em tom de reprovação: Você deve regularizar sua situação. Como não respondi nada, ele repetiu de novo”.
Além de Ernesto Cardenal, outros padres também faziam parte do governo de Ortega:
Em seu discurso inaugural, João Paulo II disse que chegava à Nicarágua:
“Em nome d'Aquele que por amor deu a sua vida pela libertação e redenção de todos os homens, desejaria dar um contributo para que cessem os sofrimentos de povos inocentes desta área do mundo; para que terminem os conflitos sangrentos, o ódio e as acusações estéreis, deixando espaço ao genuíno diálogo”.
Hugo Torres, então chefe da liderança política do Exército da Nicarágua naqueles anos, lembra que o sistema de segurança para proteger o papa era muito grande, até porque um dia antes da chegada do papa, 17 jovens sandinistas foram mortos pelos contras.
João Paulo II foi de helicóptero para León, onde dirigiu algumas breves palavras aos fiéis presentes antes de retornar a Manágua.
Em Manágua, o Papa João Paulo II celebrou uma Missa com centenas de milhares de nicaraguenses presentes junto ao arcebispo de Manágua, dom Miguel Obando Bravo. No local da celebração, foram espalhados diversas imagens de revolucionários sandinistas, mas não havia um crucifixo no local.
O arcebispo de Manágua saudou João Paulo II e comparou sua visita a uma do papa São João XXIII a uma prisão de Roma.
Durante a homilia de João Paulo II, além dos fiéis aplaudirem o papa e dom Obando, grupos de sandinistas também gritaram palavras de ordem em favor de sua revolução.
“Entre o cristianismo e a revolução não há contradição”, “Poder popular”, “O povo unido jamais será derrotado”, “A Igreja popular”, “Queremos a paz”, foram algumas das frases que gritaram.
Os gritos enfureceram o Papa, que pediu silêncio mais de uma vez e finalmente lhes disse:
“Silêncio. A primeira que quer a paz é a Igreja”.
Segundo o jornal espanhol El País, João Paulo II também disse de improviso:
“Cuidado com os falsos profetas. Eles se apresentam em pele de cordeiro, mas por dentro são lobos ferozes".
Em sua segunda viagem à Nicarágua, em 7 de fevereiro de 1996, o Papa João Paulo II falou da primeira vez que esteve no país, em 1983, como uma "grande noite escura".
Ao final da missa, os sandinistas tocaram seu hino. O Papa foi levado ao aeroporto, onde foi novamente recebido por Daniel Ortega. O atual governante da Nicarágua, que já está em seu 5º mandato, o repreendeu por ter saído sem rezar pelos 17 jovens mortos e justificou os gritos sandinistas na missa.
"O papa não o fez porque acho que pensou que qualquer palavra que dissesse nesse sentido poderia ser interpretada como uma palavra de apoio à revolução", disse Hugo Torres a esse respeito.
Em seu discurso de despedida, João Paulo II não respondeu aos ataques de Ortega, mas agradeceu a acolhida e encorajou os cristãos.
“Na fidelidade à sua fé e à Igreja, abençoo-os de coração — sobretudo os anciãos, as crianças, os doentes e os que sofrem — e asseguro-lhes a minha permanente oração ao Senhor, para que Ele os ajude em todos os momentos.”, disse o Papa Peregrino.
Deus abençoe esta Igreja! Deus assista e proteja a Nicarágua!".
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