Nesta sexta-feira, 8 de novembro, o Aeroporto Internacional de Guarulhos foi palco de um uma cena de horror.
O corretor de imóveis Vinicius Lopes Gritzbach 37 anos, foi assassinado a tiros no Terminal 2 do aeroporto, destinado a voos domésticos. Nos últimos meses, ele havia fornecido informações ao Ministério Público de São Paulo sobre as operações criminosas do Primeiro Comando da Capital (PCC). Segundo a Polícia Militar, o empresário foi alvo de 29 tiros.
Logo após o crime, equipes do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) e da Rota (tropa de elite da PM) foram direcionadas para o aeroporto.
O atentado ocorreu por volta das 16h, quando Gritzbach retornava de uma viagem a Goiás acompanhado de sua namorada.
Ao sair do Terminal 2, ele foi surpreendido pelos atiradores. Além dele, outras três pessoas foram gravemente feridas: dois motoristas de aplicativo e uma mulher que estava na calçada.
Os tiros foram disparados por dois indivíduos em um veículo Gol preto, usando fuzis de calibre 765. Apesar dos esforços do Corpo de Bombeiros, Gritzbach não sobreviveu aos ferimentos.
O corretor contava com a colaboração de quatro seguranças, todos policiais militares de São Paulo. No entanto, o carro em que eles estavam quebrou a caminho do aeroporto. Apenas um deles conseguiu chegar ao terminal, acompanhando o filho de Gritzbach.
Pessoas próximas ao corretor relataram que Antonio Vinivicus temia por sua vida, sabendo que seus desafetos estavam cientes de sua colaboração com o Ministério Público.
Segundo o jornal o Estado de São Paulo, no submundo do crime era oferecida uma recompensa de R$3 milhões pela vida do delator.
Por uma série de motivos, o corretor estava jurado de morte. Em primeiro lugar, ele teria desaparecido com US$100 milhões do PCC (cerca de R$574 milhões).
Era também suspeito de ter mandado matar dois integrantes da facção. Além disso, havia fechado um acordo de delação premiada com a Justiça.
Até o momento, a principal tese de investigação sobre o crime aponta para uma possível "queima de arquivo". Além de se vingar pelo dinheiro desaparecido, a organização teria interesse em ocultar as informações conhecidas por Vinícios.
Gritzbach era alvo de um processo por supostamente lavar cerca de R$30 milhões do tráfico de drogas para a organização criminosa.
O inquérito apontava que isso era feito, em grande parte, por meio de postos de combustíveis e negócios imobiliários.
Durante seus depoimentos, Gritzbach revelou detalhes sobre as atividades do PCC e prometeu fornecer mais informações.
As investigações também indicam que ele exercia influência significativa dentro do PCC, chegando a participar do chamado "tribunal do crime", onde se decidia o destino de membros considerados desleais à facção. Os tribunais do crime são conhecidos por serem extremamente violentos.
Vinicius Gritzbach era corretor de imóveis no Tatuapé, zona leste de São Paulo. Investigações revelam que ele começou a se envolver com o PCC através de negócios feitos com Anselmo Bicheli Santa Fausta, conhecido como "Cara Preta". O membro movimentava milhões em drogas e armas para a facção.
Gritzbach ajudava Santa Fausta a investir o dinheiro do crime em imóveis, usando "laranjas" para evitar suspeitas. Posteriormente, ele teria convencido Santa Fausta a investir R$200 milhões em criptomoedas. Quando Santa Fausta quis reaver parte do dinheiro, em 2021, Gritzbach começou a se esquivar do pagamento, apresentando desculpas para não cumprir o combinado.
Após uma discussão acalorada, Santa Fausta e seu motorista foram assassinados em uma emboscada no Tatuapé.
Os dois homicídios foram cometidos em 27 de dezembro de 2021, com a participação do agente penitenciário David Moreira da Silva. Ele foi denunciado por ser o executor dos membros do PCC que foram assassinados em 16 de janeiro do ano passado.
O Ministério Público acusa Gritzbach de ter ordenado esse crime para evitar ter que devolver o dinheiro.
Em 2023, ele voltou a ser alvo de processo, pela suspeita de ter utilizado o dinheiro do crime para comprar imóveis em Riviera de São Lourenço, na praia de Bertioga, litoral paulista São Paulo.
Segundo as investigações, o verdadeiro proprietário dos imóveis seria um "notório integrante da facção criminosa armada e internacional denominada Primeiro Comando da Capital", segundo a denúncia. O nome do criminoso seria Claudio Marcos de Almeida, conhecido no mundo do crime como “Django”.
Há oito meses, em março deste ano, Vinicius iniciou um processo de delação premiada pelo qual, durante dois anos, iria colaborar com o Ministério Público. Até o momento, ele já havia prestado sete depoimentos.
O PCC tinha conhecimento do acordo:
“Sei que corro risco de vida, mas é preciso que as autoridades saibam a verdade”, teria afirmado Vinicius, segundo veículos de imprensa.
Na delação entregou série de documentos à Justiça, que incluíam áudios de whatsapp, comprovantes de pagamentos, contratos e putras provas da realiação de operações ilegais.
A Polícia também investiga a ligação do PCC com a contratação de jogadores de futebol, como uma outra forma de lavar dinheiro. O que Gritzbach falou na delação?
Em 2018, o empresário teria iniciado seu envolvimento com o Primeiro Comando da Capital (PCC) enquanto trabalhava na Porte Engenharia. Informações divulgadas pela imprensa indicam que a empresa está sendo investigada pelo Ministério Público (MP) por supostamente vender dezenas de imóveis a traficantes, com pagamentos elevados realizados em espécie.
Na delação, o empresário teria afirmado que conheceu membros do PCC durante seu período na empresa, quando os criminosos negociavam a compra de dois imóveis na região do Tatuapé, zona leste de São Paulo. Ele tinha contato com um corretor que teria vendido apartamentos para Santa Fausta.
Segundo reportagem publicada por O Estado de São Paulo em 23 de julho de 2024, essa região se tornou um reduto dos líderes do PCC nos últimos anos
O MP também está investigando se a Porte Engenharia tinha ciência de que essas compras de imóveis estavam sendo feitas por meio de "laranjas". Em nota à "Brasil Paralelo", a Porte Engenharia afirmou desconhecer transações envolvendo pessoas associadas a atividades criminosas ou "laranjas".
A empresa confirmou que Vinicius Gritzbach trabalhou como corretor de imóveis de 2014 a 2018. Além disso, destacou que não tolera atividades ilícitas por parte de seus funcionários e que sempre colaborou com as autoridades, fornecendo documentação sobre as atividades do ex-funcionário durante seu período na empresa.
Vinicius Gritzbach afirma ter conhecido Anselmo Santa Fausta enquanto ele adquiriu dois apartamentos na região do Tatuapé de um corretor conhecido por ele.
Santa Fausta, também conhecido como Magro ou Cara Preta, era sócio de várias empresas, inclusive a de ônibus, UPBus, que controlaria 13 linhas de ônibus em São Paulo. A UP Bus é uma das companhias que, segundo reportagens da grande imprensa, teriam contratos com a prefeitura municipal de São Paulo.
Ele negava ter matado o traficante.
O assassinato de Vinicius Gritzbach, à luz do dia, em São Paulo, deixa claro a escalada de violência do tráfico de drogas, especificamente, de uma das principais organizações cominosas do país.
O governador Tarcísio de Freitas declarou, hoje, sábado, 9 de novembro, que os responsáveis pelo crime serão severamente punidos.
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