Para Adriano Gianturco, professor de ciências políticas da Universidade IBMEC, não é estranho que políticos mudem de lado ao chegar no poder. Em sua aula na Travessia, da Brasil Paralelo, o professor explicou a lei de ferro das oligarquias.
Confira a explicação do professor:
Ao estudar ciências políticas na Itália, o professor alemão Robert Michel observou diversos fenômenos aparentemente estranhos na política local. Diversos grupos ideológicos aparentemente mudavam seus ideais ao chegar no poder.
O que poderia parecer uma mera traição de valores, ou até mesmo algo sem explicação, foi elucidado por Robert Michel em uma nova teoria: a lei de ferro das oligarquias. Segundo ele, essa teoria se aplica de forma extensiva a todos os partidos, todas as organizações e até ao Estado (político) propriamente dito.
A lei de ferro das oligarquias infere que qualquer associação, partido e movimento nascem inicialmente com ideais sinceros de seus fundadores, mas gradualmente, conforme o crescimento do grupo, as pessoas precisam se dividir e fazer uma divisão e especialização do trabalho.
Surgem os cargos de presidente, diretor, secretário, tesoureiro, e assim por diante. Uma vez que essas pessoas assumam esses cargos, elas terão interesse em mantê-los, porque os confere posição social, áreas de moderação e outros benefícios.
Na melhor das hipóteses, muitos deles acreditam honestamente que seus objetivos mereçam ser aplicados, e tentam se manter no poder contra outros opositores que querem tomar seus cargos, seja por poder, por status, por interesse privado, ou para aplicar a própria agenda política.
Ao imaginarmos um contexto em que dois opositores disputam o mesmo posto, é razoável inferir que aquele que está no poder e deseja apenas se perpetuar no cargo terá mais chances de sucesso, já que seu opositor terá de enfrentar dificuldades para alterar a ordem vigente.
Quem se encontra em um determinado cargo já é detentor de tal poder, tendo a capacidade de se manter no cargo e fazer aplicar na política os seus interesses originários e sinceros.
Quando alguém alcança o cargo político, não é raro que surjam interesses pessoais contrapostos aos seus ideais originários. Quando isso acontece, é esperado que a pessoa não esteja disposta a se sacrificar pessoalmente para uma causa coletiva, segundo Robert Michel.
Nesses casos, é habitual que haja uma associação dos interesses originários, com os individuais. Na melhor das hipóteses, o membro do grupo ideológico poderá almejar uma candidatura de vereador, posteriormente prefeito, deputado estadual, governador, e assim por diante.
Dessa forma, acontece uma moderação dos fins originários do partido, isto é, o movimento que geralmente nasce com objetivos louváveis de mudança sincera, termina por se moderar ao longo do tempo, como sabemos ter acontecido em vários países e em diferentes períodos.
Um bom exemplo é o caso de um partido italiano chamado de “Liga Norte”. Foi fundado como um partido independentista do norte da Itália, (Milão, Turim, Florença), a área mais rica do país. Eles queriam a independência do resto da Itália, e chamavam Roma de ”Roma ladra”, devido aos casos de corrupção da capital.
Utilizaram publicamente esse slogan até começarem a eleger os primeiros deputados em Roma. Gradualmente, a pauta inicial, a secessão da Itália do norte, passou a ser identificada apenas como uma reivindicação de mais autonomia para criar macrorregiões da Itália.
Posteriormente, para angariar mais votos de outras regiões italianas, adotaram uma nova agenda política; em vez de pautas contra a unificação com o resto da Itália, atualmente retiraram o termo “Norte” do nome do partido e identificam-se apenas como a “Liga”.
Eles passaram a se denominar nacionalistas, criando pautas contra a União Europeia. Essas alterações permitiram angariar mais votos, como desejavam.
O que possibilita a existência desse tipo de fenômeno político?
Os partidos que chegam ao poder entram em conflito com as oligarquias vigentes, que já possuem a tendência de se manter no poder como vimos anteriormente, ou seja, a oligarquia tende a se perpetuar no poder e acabar com as concorrências que surgem.
Esse tipo de burocratização modera os interesses iniciais. As minorias organizadas, abordadas anteriormente, criam um cenário de crise quando alcançam e se perpetuam no poder.
Existe uma correlação direta entre os ciclos eleitorais e os ciclos econômicos (períodos de alta e de baixa). Podemos observar um período de pujança econômica antes do período eleitoral e a sua oscilação após as eleições.
Isso acontece devido ao fato de os políticos poderem proporcionar incentivos antes das eleições; utilizam os recursos disponíveis para abaixar a taxa de juros, diminuir impostos, dentre outras práticas que podem dar a impressão da população estar com mais dinheiro “sobrando”, muito embora esse cenário seja uma situação artificial conhecida como “bolha”.
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