Imagine uma manhã comum em uma cidadezinha inglesa: crianças indo para a escola, pais correndo para o trabalho. De repente, sirenes cortam o silêncio, e uma casa é invadida por policiais.
Um garoto de apenas 13 anos é algemado, acusado de esfaquear uma colega de classe até a morte. Essa é a cena que abre Adolescência, nova minissérie da Netflix que estreou em março de 2025 e já está entre as mais vistas em 71 países, incluindo o Brasil.
Mas por trás do protagonista fictício, o garoto Jamie Miller, há um grito real que ecoa nas ruas da Inglaterra: histórias verdadeiras de jovens que, com facas nas mãos, mudaram vidas para sempre.
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Criada por Stephen Graham e Jack Thorne, a série não resultou da adaptação de um caso específico. O ator e roteirista Stephen Graham declarou que a obra partiu de um choque pessoal dele:
Houve um incidente em que um jovem garoto [supostamente] esfaqueou uma garota”, contou ele ao Tudum, site oficial da Netflix.
“Fiquei chocado. Em ficava pensando: ‘O que está acontecendo na sociedade em que um garoto esfaqueia uma garota até a morte?’
E então outros casos aconteceram várias vezes.”
Esses crimes reais, noticiados por veículos na Inglaterra e País de Gales, acenderam a faísca para a trama. Segundo o autor, a série foi inspirada em três crimes reais.
O primeiro ocorreu em uma noite comum em Liverpool, em 25 de novembro de 2021, quando Ava White, uma menina de apenas 12 anos, saiu para ver as luzes de Natal com amigos. Minutos depois, ela estava morta, esfaqueada no pescoço por um garoto de 14 anos após uma discussão banal sobre um vídeo no Snapchat.
No segundo, uma adolescente trans de 16 anos, chamada Brianna Ghey, foi atraída para um parque e assassinada com 28 facadas por dois jovens de 15 anos. O crime havia sido planejado por mensagens e a motivação alegada foi transfobia. O crime ocorreu em 11 de fevereiro de 2023 e chocou a Inglaterra.
Graham também menciona uma terceira inspiração, menos específica: o esfaqueamento de uma jovem no sul de Londres. Os detalhes permanecem vagos — talvez uma referência ao assassinato de Jaden Moodie, de 15 anos, em 2020, ou outro dos dezenas de crimes com faca que “mancham a capital” a cada ano. Seja qual for o caso, está claro que Adolescência não está atrelada a uma única história, mas a um padrão. Apenas em 2023, o Ministério da Justiça relatou quase 18.500 infratores por crimes com faca na Inglaterra e no País de Gales, com mais de 17% entre 10 e 17 anos. As estatísticas são frias; as histórias por trás delas, devastadoras.
Além disso, segundo o Office for National Statistics, entre 2023-24, 83% dos homicídios entre adolescentes no Reino Unido envolveram armas brancas, um aumento alarmante que reflete a epidemia de violência juvenil que Graham quis explorar.
Jamie Miller: uma história que poderia ter ocorrido em qualquer família
No entanto, o autor deixa claro que Jamie Miller não é inspirado em especificamente em nenhum criminoso específico.
Enquanto o assassino de Ava agiu por impulso e os de Brianna tramaram com precisão, a história de Jamie é totalmente fictícia.
Thorne, o aclamado escritor de His Dark Materials, mergulhou na subcultura incel — homens radicalizados online para odiar mulheres que os rejeitam.
“Queríamos mostrar como um garoto pode ser cooptado por algo maior,” disse Thorne em um evento para a imprensa. Ele encontrou inspiração adicional em Cries Unheard de Gitta Sereny, um estudo sobre Mary Bell, a menina de 11 anos que matou dois meninos em 1968. Embora separada por décadas, a história de Bell alimentou a missão de Thorne de humanizar, não desculpar, um perpetrador infantil.
O que diferencia Adolescência é sua recusa em culpar bodes expiatórios fáceis.
Os pais de Jamie, Eddie e Sarah (Rosie Cavaliero), não são negligentes ou abusivos, são pessoas comuns, trabalhadoras, pegas desprevenidas pelas ações do filho. “Esse é o horror,” diz Graham. “Pode ser qualquer família.” Filmada em Liverpool com a intensidade característica de Barantini em plano único, a série se desenrola como um acidente de carro em câmera lenta, forçando os espectadores a enfrentar as consequências de um único momento irreversível.
Os casos reais permanecem reverberando. A família de Ava ainda chora seu futuro roubado; a mãe de Brianna, Esther Ghey, faz campanha por apoio à saúde mental nas escolas por meio de sua iniciativa “Peace in Mind”. Adolescência não pretende resolver sua dor ou a crise de crimes com faca na Grã-Bretanha. Mas, ao canalizar essas tragédias em Jamie Miller, Graham e Thorne criaram algo raro: uma ficção que parece verdadeira demais, um alerta gravado em sangue.
Críticos apontam a influência da cultura incel sobre a personalidade do jovem Jamie.
A cultura incel, abreviação de "celibatário involuntário", começou como um grito de ajuda nos anos 1990, quando uma canadense chamada Alana criou um espaço online para pessoas que, como ela, tinham dificuldade em encontrar amor ou sexo.
Mas o que era para ser apoio virou outra coisa com o tempo. Hoje, é uma subcultura que reúne, em sua maioria, homens frustrados, muitos deles navegando em fóruns como 4chan ou sites próprios, destilando raiva contra mulheres e a sociedade.
Eles falam em "Chads", os caras atraentes que supostamente levam todas, e "Stacys", as mulheres que só olham para o topo. Tem até a "blackpill", uma ideia sombria de que, se você não nasceu bonito, já era. O que começa como desabafo muitas vezes vira misoginia — e, em casos extremos, violência.
Essa onda sombria aparece em Adolescência, a série britânica da Netflix que estreou em 2025. A história narra a saga de Jamie Miller, um garoto de 13 anos que mata uma colega de classe depois de ser rejeitado por ela, guiado por ideias incel que pescou na internet.
Stephen Graham e Jack Thorne, que criaram a série, queriam mostrar como um menino qualquer pode ser sugado por algo maior e mais perigoso.
Não é como o assassinato de Brianna Ghey, planejado por sadismo e transfobia, ou o de Ava White, que explodiu de um impulso bobo no Snapchat.
Em Adolescência, a rejeição vira combustível, e a cultura incel dá o fósforo — uma trama fictícia que cutuca uma ferida real: o poder da web em moldar mentes jovens.
O link com a vida real não é coincidência. Especialistas, como os do Counter Extremism Project, já perceberam que adolescentes, ainda tentando entender quem são, podem cair facilmente nessa rede. Jamie, na série, não nasce monstro; ele é um garoto normal que, isolado e magoado, encontra nos fóruns incel uma explicação para sua dor — e uma desculpa para atacar.
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