Após finalizar o período de seis dias de internação, o presidente Lula concedeu uma entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo.
Foi a primeira oportunidade em que Lula comentou seu estado de saúde, mas a jornalista Sônia Bridi foi além e o questionou sobre outros assuntos. Nas redes sociais, repercutiu amplamente os comentários sobre uma fala em que o presidente afirma “não ter tido direito de defesa” na época dos processos da Operação Lava Jato.
Na entrevista, ele comenta a recente prisão de Walter Braga Netto. O general fez parte de um grupo de 37 iniciados por por tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado democrático de direito. O ex-presidente Jair Bolsonaro faz parte do grupo.
O presidente disse que espera que os acusados tenham total presunção de inocência, “como ele não teve”:
“[...]Eu vou te dizer uma coisa. Eu defendo que eles tenham a presunção de inocência que eu não tive. Eu quero que eles tenham todo o direito de defesa. Mas se for verdade as acusações, essa gente tem que ser punida severamente para que sirva de exemplo ao Brasil”, afirmou o presidente.
Assim que Lula finalizou, a jornalista Sônia Bridi imediatamente apresentou um histórico dos acontecimentos, indicando que a declaração do presidente poderia estar incorreta ou imprecisa:
“Presidente, se o senhor me permite, quando o senhor foi preso, condenado, o senhor passou por várias instâncias da justiça, né? O senhor considera que nesse processo todo da justiça, todas as instâncias, o senhor não teve um direito de defesa?
Lula, então, reafirmou que não pôde se defender:
“Veja, eu não tive direito de defesa. Eu não tive. Eu fui preso primeiro, mas depois eu me defendi”.
Neste momento, a edição do Fantástico interrompeu a entrevista e esclareceu:
“Quando o presidente Lula foi preso em 2018, no caso da cobertura no Guarujá, com participação da defesa dele em todas as etapas do julgamento. Na época, o entendimento do Supremo Tribunal Federal era de que condenados em segunda instância poderiam ser presos. Esse entendimento mudou em 2019. A prisão voltou a ser apenas depois do processo transitado em julgado.”
Explicaram também que Lula foi solto:
“Em março de 2021, o ministro Edson Fachin anulou a condenação do presidente Lula porque considerou que a Justiça de Curitiba não tinha competência pra julgar o caso. Três meses depois, em junho, o plenário do STF validou o julgamento da 2ª Turma, que considerou o juiz Sérgio Moro "parcial na condenação”.
Mesmo veículos de esquerda criticaram a entrevista. Arnóbio Rocha, advogado e colunista do site Brasil 247, classificou a entrevista como problemática, acusando a Globo de ser uma rede monopolista e inimiga da verdade. Ele afirmou ainda que a emissora escalou a experiente jornalista Sônia Bridi como parte de uma "ratoeira" para a qual Lula foi atraído.
Outra reportagem do mesmo site afirmou que a Globo editou entrevista de Lula e reiterou seu apoio à Lava Jato. Segundo a reportagem:
“À época, o presidente Lula foi alvo de uma investigação conduzida por um juiz suspeito e parcial, como reconheceu posteriormente o STF, que instruiu as etapas do processo em conluio com a acusação, chefiada na ocasião pelo ex-procurador e deputado federal cassado Deltan Dallagnol. Além disso, juiz e acusação contavam com o apoio irrestrito da imprensa hegemônica brasileira, que com horas de noticiários voltava a opinião pública contra Lula e o PT, de modo geral.”
Gleisi Hoffmann também criticou a reportagem de maneira incisiva. A presidente do PT disse que “ao tentar corrigir Lula e defender seu apoio à Lava Jato, a Globo esqueceu de dizer que Lula foi condenado por “fatos indeterminados”:
“Os abusos contra ele, a começar pela condução coercitiva ilegal, só foram reconhecidos e corrigidos quando caso chegou ao STF”.
Completou ainda:
“Corrigindo o Fantástico: Lula nunca teve direito à presunção de inocência porque foi processado e julgado por um ex-juiz parcial, não apenas incompetente. E o seu direito de defesa foi cerceado por Sergio Moro e pelos desembargadores do TRF-4, que negaram sistematicamente pedidos de perícias e produção de provas.”
Ex-juiz da Lava Jato, responsável por algumas das condenações do presidente, Sérgio Fernando Moro disse que Lula “teve muito mais direito à defesa do que qualquer brasileiro jamais teve, inclusive mais do que as pessoas presas preventivamente no 8/1”.
“Lula foi desmentido ao vivo na entrevista ao Fantástico. Teve garantido o direito de defesa na Lava Jato e só foi preso após o julgamento. Depois, ainda foi beneficiado por uma reviravolta política”.
A advogada e deputada federal Rosângela Moro postou em suas redes sociais:
“No caso da #LavaJato, ele [Lula] teve garantido o amplo direito de defesa, como manda a Constituição, e só foi preso após um julgamento legal, com base em provas e decisões colegiadas. Lula nunca foi preso preventivamente. Ele mentiu e segue mentindo. Não podemos permitir que Lula siga espalhando mentiras.”
Postou também:
Na entrevista o presidente comentou também alguns outros assuntos.
Lula falou sobre vários desafios de saúde que enfrentou ao longo da vida, desde não ter comida até ter sobrevivido a um câncer em 2021. Também disse que sobreviveu a uma pane em um avião que sobrevoou a cidade do México durante cinco horas. Depois, comentou o acidente recente:
“Ou seja, eu estava sentado, cortando a minha unha. Unha da mão. Eu acabei de cortar a unha, lixei a unha e fui guardar o estojo. Ao invés de eu afastar o banco, eu tentei afastar só a minha bunda, isso é verdade. E acabou o banco, eu caí de costa e bati em uma cabeça na hidromassagem”.
Afirmou ainda que fez cinco ressonâncias e que está tecnicamente “bem bom”.
O presidente também afirmou que a recomendação médica é que ele fique 60 dias sem viajar.
Lula reafirmou sua confiança na gestão econômica do país, afirmando seguir um modelo de rigor fiscal. Ele apontou que o único problema atual seria o elevado patamar dos juros, assegurando que a inflação está sob controle.
Contrariando essa visão, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual na semana anterior à declaração do presidente. Esta decisão foi tomada por consenso, incluindo o apoio dos membros indicados pelo próprio governo Lula, como Gabriel Galípolo, que em breve assumirá a presidência do BC.
A instituição financeira justificou a medida argumentando que os índices inflacionários estão acima da meta estabelecida, com indícios de disseminação por diversos setores econômicos. O Banco Central enfatizou que o ajuste da taxa de juros é o principal mecanismo disponível para conter a escalada dos preços e manter a inflação dentro dos parâmetros desejados.
Esta situação evidencia uma aparente discrepância entre a avaliação do presidente sobre o cenário econômico e as ações adotadas pela autoridade monetária, que julga necessária a manutenção de uma política monetária mais restritiva para combater as pressões inflacionárias.
O presidente destacou os sucessos econômicos de sua gestão anterior, mencionando que entregou crescimento de 7,5% e níveis recordes de massa salarial. Expressa também o desejo de replicar esses resultados.
Lula mais uma vez criticou o mercado:
“E não é o mercado que tem que se preocupar com os gastos do governo. É o governo. Porque se eu não controlar os gastos, se eu gastar mais do que eu tenho, sabe quem vai pagar? O povo pobre”.
Lula enfatizou que seu governo está tomando medidas possíveis, incluindo propostas ao Congresso Nacional, dentro dos limites institucionais. Também criticou o atual nível das taxas de juros, considerando-o como o único problema significativo na economia.
A entrevista de Lula no Fantástico serviu para reafirmar compromissos de campanha, atualizar seu estado de saúde e divulgar as entregas do governo.
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