Um autodidata que usou a lei para libertar escravos. Luiz Gama foi um baiano que após ser vendido pelo próprio pai, conseguiu sua liberdade usando o texto da lei. Nascido na Bahia, Gama foi abandonado com o pai pela mãe, uma ativista abolicionista. Ela o teria deixado para lutar em uma revolta pró- abolição, segundo reportagem da BBC Brasil de 2021.
Filho de mãe negra e pai português, o advogado nasceu livre no ano de 1930. Gama teria sido vendido por seu pai aos 10 anos de idade para pagar uma dívida de jogo, algo que era proibido pela lei brasileira da época. O texto afirmava que era crime submeter uma pessoa livre à condição de escravo.
Aos 18 anos, conseguiu provar que era filho de um português e uma escrava liberta, o que o tornava um homem livre. Após se libertar, aprendeu a profissão de advogado e passou a utilizar a mesma lei que lhe devolveu a liberdade para alforriar outros escravos. Ao todo, estima-se que Gama tenha libertado cerca de 500 pessoas. Segundo reportagem da revista Isto É, nunca revelou o nome de seu pai, a fim de poupá-lo da vergonha pública de ter vendido um filho.
Trabalhou como colunista no então jornal “A Província de São Paulo”, hoje “O Estado de São Paulo”. Em uma de suas colunas, escrita em 1880, Gama narra um episódio que chocou a sociedade de Limeira, cidade do interior de São Paulo. O artigo descreve como quatro escravos mataram seu senhor dois anos antes, um fato que causou horror na sociedade civil da época.
Gama afirma que milhões de homens nascidos nas areias da África foram roubados e escravizados, perdendo seus direitos, sua pátria e sua religião. O verdadeiro horror para a sociedade estava no fato de que esses quatro homens haviam matado seu senhor.
Seu ativismo em prol da liberdade dos escravos levou à primeira ação coletiva pela libertação de cativos no Brasil. Na ocasião, ele foi designado por um juiz como advogado para defender a causa de 240 pessoas que haviam sido libertas através do testamento de seu senhor.
A vontade do falecido não estava sendo respeitada pelos herdeiros. Ao tomar conhecimento do caso, Gama se prontificou a ajudar a que o testamento fosse cumprido. O caso foi parcialmente aceito e os cativos foram libertados anos depois.
O abolicionista morreu pouco antes da assinatura da Lei Áurea. Seu trabalho é uma prova de que , de fato, existiu luta da sociedade civil durante a escravidão, e que o negro brasileiro não é uma figura de segunda classe como algumas vezes é representado.
Não foi sempre assim na colônia e não é assim atualmente. Por esta razão, é necessário relembrar que o povo brasileiro festejou o fim da escravatura.
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