Em abril de 2018, o governo de Daniel Ortega foi acusado de atear fogo na Rádio Darío, na cidade de León, na Nicarágua. Segundo o diretor da rádio, a ação foi planejada como uma tentativa de represália à divulgação que o canal deu às manifestações que ocorriam naquele ano.
Em abril, ocorreram protestos contra a nova política previdenciária do governo de Ortega. As manifestações pacíficas foram duramente reprimidas por grupos pró-governo. Mais de 300 pessoas foram mortas.
A Rádio Darío fez a cobertura dos protestos e noticiou o evento. Aníbal Toruño, diretor da rádio, contou em entrevista exclusiva à Brasil Paralelo que seu veículo de comunicação foi ameaçado:
“Dois dias depois que aconteceram os primeiros protestos, havia ameaças contra a minha pessoa e contra a rádio. Se ouviam rumores que a rádio seria atacada.”
Na entrevista, Toruño relembra a noite do ataque:
No dia 20 de abril, éramos 12 pessoas lá dentro. Aproximadamente às 6h30 da tarde, eu escutei um barulho, um morteiro. Era a porta arrombada e começaram a espalhar combustível por toda a emissora.”
O diretor acredita que o ataque foi premeditado para matar as pessoas presentes na rádio:
“Ao sair (da rádio), disseram aos seguranças: ‘vocês fiquem aí. Vocês não podem sair’. Naquele momento passaram mil imagens na minha cabeça. Queria me lembrar em um flash dos meus entes queridos.
Havia uma porta que levava à casa vizinha e fazia divisória, ela havia sido selada. Então conseguimos derrubá-la, sair pela casa vizinha e sair para o exterior.”
O incêndio destruiu completamente a Rádio Darío e a Rádio Sky, que dividiam o mesmo edifício. Durante o incêndio, os bombeiros de León foram acionados, mas não compareceram.
Segundo o jornal Confidencial Digital, esta foi a sexta vez que grupos pró-Ortega atearam fogo na rádio.
Fundada em 1949, a Rádio Darío foi um meio importante para o sucesso da revolução sandinista de 1979.
“Nós, como jornalistas, notamos uma mudança quase de imediato porque começaram a fechar as portas das instituições que, por muitos anos, haviam nos fornecido informação para fazer o nosso trabalho.
Tomaram a publicidade estatal dos meios independentes e deram uma orientação às instituições de que só compartilhassem informação com meios que eram leais ao projeto político do governo.
Também vimos que havia uma retórica na qual nós éramos vistos quase como inimigos.”
Em entrevista exclusiva à Brasil Paralelo para o novo documentário NICARÁGUA: Liberdade Exilada, Camilo de Castro Belli afirmou como a partir de 2018 o regime de Ortega fechou o cerco contra os jornalistas e a liberdade de expressão.
As principais ações vistas como meios de cercear a liberdade de imprensa e expressão foram:
Jennifer Ortiz dividiu em entrevista exclusiva à Brasil Paralelo como o governo se relacionou com o jornal em que trabalhava:
“Eu trabalhava no primeiro meio de comunicação que Daniel Ortega comprou naquele momento, que foi em 2009. E eu me lembro que o diretor, proprietário desse veículo, chorou e nos confessou que tudo aconteceu por conta da pressão extrema sofrida”.
Elvira Cuadra, socióloga nicaraguense, divide as irregularidades da compra dos canais de comunicação em entrevista para o novo Original BP “NICARÁGUA: Liberdade Exilada”:
“Para conseguir o controle desses meios, utilizaram diferentes mecanismos como pressão, chantagem, o uso da publicidade estatal como castigo, extorsão. E isso começou a gerar nos meios nicaraguenses um processo muito rápido de autocensura”.
Segundo investigação do jornal El País, o governo de Ortega montou em 2020 um tripé legislativo para minar a liberdade de expressão no país:
“Quem, usando as tecnologias da informação e da comunicação, publicar ou difundir informação falsa e/ou tergiversada, que gere alarme, temor, desânimo na população, ou a um grupo ou setor dela, a uma pessoa ou a sua família, ficará sujeita à pena de dois a quatro anos de prisão e 300 a 500 dias de multa”, diz o artigo 30 da lei. Nos artigos seguintes a pena é elevada a até cinco anos de prisão.
“A aprovação desta lei constitui uma forma de endurecimento das relações dos governantes com a imprensa. Uma medida destinada a calar vozes, que vai além de suas fronteiras para se inscrever num universo maior: o conjunto da sociedade nicaraguense”, disse ao El País o especialista em meios de comunicação Guillermo Rothschuh.
Da mesma forma que a liberdade de expressão e imprensa foram sendo gradualmente tomadas pelo governo, o poder na Nicarágua passou pelo mesmo processo.
Dia 08 de fevereiro, às 20h, estreia NICARÁGUA: Liberdade Exilada. Uma investigação inédita que explica como foi o processo de tomada do poder na Nicarágua por Daniel Ortega. Toque no link e saiba mais.
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