Em uma tarde de 2017, Guilherme Boulos descia e subia de um carro de som em um comício no na Praça da República. Na ocasião, revezava-se entre conversar com as pessoas e negociar com a PM:
“Para todos aqueles que desacreditaram da nossa luta, para o sr. Michel Temer, para todos aqueles que estão incomodados, o nosso recado é direto e reto: daqui não arredamos pé até ter nossa conquista nas mãos. Não tem arrego: ou negociar, ou não vai ter sossego”.
Na ocasião, Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, protagonizou a retomada do programa Faixa 1 do “Minha Casa, Minha Vida”, do governo federal. O objetivo do programa é auxiliar famílias cuja renda é de até R$1.800 reais.
A retórica sempre foi considerada um dos pontos fortes de Guilherme Boulos. De acordo com a doutora em ciências sociais, Esther Solano, ele personifica um estilo de líder cada vez mais raro: capaz de fazer uma ponte entre os movimentos sociais e institucionais. Naquela tarde de 2017, Boulos já tinha quase duas décadas de atuação na militância progressista. Na época, estava há 15 anos nos movimentos sociais.
Sete anos depois, Boulos se encontraria ao lado do presidente Lula em um comício em comemoração ao Dia do Trabalho de 2024. O atual chefe do Executivo Federal pede votos para o psolista de maneira explícita:
“Vou fazer apelo para quem votou no Lula desde 89, tem que votar no Boulos para prefeito”, afirmou. Antes disso, já havia dito: “Esse rapaz [Boulos], esse jovem está disputando uma verdadeira guerra aqui em São Paulo, está disputando contra nosso adversário nacional, estadual e principal. Ninguém derrotará esse moço se vocês votarem no Boulos para prefeito de SP.”
A ação rendeu multas aos dois por campanha antecipada. Em junho de 2024, o Tribunal Regional Eleitoral determinou o pagamento de R$20 mil pelo presidente Lula e de R$15 mil pelo deputado Guilherme Boulos. A proximidade entre dois dos mais populares líderes da esquerda brasileira não é recente.
Nascido em 19 de junho de 1982 em Pinheiros, São Paulo, Guilherme Boulos é filho de médicos infectologistas.
Estudou em escolas particulares até optar pela rede pública, onde iniciou seu engajamento político, tornando-se militante da União da Juventude Comunista aos 15 anos.
Formou-se em filosofia pela USP, com especialização em psicologia clínica pela PUC e mestrado em psiquiatria pela mesma universidade onde se formou. Poucas pessoas sabem, mas também é psicanalista.
Vive em união estável com Natália Szermeta, mãe de suas duas filhas.
Boulos afirma ter atuado profissionalmente como professor de filosofia. No entanto, uma investigação publicada pela Folha de São Paulo em 12 de agosto deste ano concluiu que sua atuação na docência é inconsistente, sendo mais destacada em seu currículo do que na prática.
Segundo o jornal, ele lecionou por cerca de nove anos em períodos intercalados, mas apenas durante um ano e meio teve dedicação exclusiva à função na rede estadual paulista. A reportagem também destaca a duplicidade de informações em seu currículo:
“Em relação ao período como professor, a reportagem encontrou uma informação duplicada no currículo de Boulos. Ele afirma que, em 2019, foi professor de curso livre no IREE (Instituto para a Reforma das Relações entre Empresas e Estado), e também diz que foi coordenador de curso na Escola Kope, entre 2021 e 2022.”
Sua principal atuação sempre foi política, mais recentemente na política partidária, e antes disso, nos movimentos sociais. Ele ganhou projeção pública como coordenador nacional do MTST, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, desde 2002.
Liderado por Boulos, O MTST declara defender o direito à moradia digna para todos. O principal meio de ação utilizado pelo grupo é a ocupação de terrenos e imóveis de propriedade pública ou privada. Segundo os manifestantes, 11 mil famílias foram afetadas por cortes no programa Minha Casa Minha Vida.
Os adversários acusam Boulos de invasor de propriedades, mas ele defende que o MTST apenas ocupa locais em situação irregular, sustentando seu argumento na Constituição Federal e no Estatuto da Cidade.
Boulos também esteve envolvido em ações de cunho político-ideológico, como a invasão do triplex atribuído a Lula em 2018, que durou quatro horas e teve o propósito de protestar contra a prisão de Lula.
Além disso, há relatos de um sistema de pontuação no MTST para forçar o comparecimento em manifestações, configurando a manipulação de grupos vulneráveis para interesses políticos.
Há mais de 20 anos existem denúncias de que movimentos como o MTST cobram taxas dos chamados assentados.
Uma reportagem do jornal Gazeta do Povo em agosto deste ano, informou que o MTST, do qual Boulos não é mais líder, tentou neste ano obter a posse de um prédio que ocupava no centro de Porto Alegre. O imóvel pertence ao Instituto Nacional de Seguro Social e é avaliado em R$50 milhões.
A Advocacia-Geral da União entrou com um processo de reintegração de posse, mas o grupo afirma que o prédio cumpre função social.
Em 2018, Boulos ingressou na política partidária, filiando-se ao PSOL para concorrer à presidência da República.
Em campanha, defendeu a legalização do aborto e propôs um debate sobre a descriminalização das drogas.
Em um dos episódios mais polêmicos de seu mandato, Boulos defendeu o arquivamento do processo de cassação contra o deputado André Janones, acusado de rachadinha.
A afinidade entre Boulos e Lula se reflete no apoio do presidente à sua candidatura à prefeitura de São Paulo, o que resultou em multas por propaganda antecipada.
Boulos conta com o apoio financeiro do PT, que investiu R$30 milhões em sua campanha. A aliança com o PT também se manifesta na escolha de Marta Suplicy como candidata a vice-prefeita. Boulos busca equilibrar seu discurso para conquistar o apoio dos eleitores centristas, adotando uma postura mais moderada e conciliadora, conhecida como "Boulos paz e amor".
A campanha atual do psolista é chefiada pelo mesmo marqueteiro que trabalhou com João Doria e Geraldo Alckmin.
O candidato procura se distanciar de posições radicais do passado, como a defesa da legalização das drogas e do aborto. Boulos enfrenta desafios em calibrar sua imagem pública, mantendo a eloquência e a capacidade de se esquivar de questionamentos sobre seu passado.
Para conhecer o perfil dos outros dois principais concorrentes à vaga de prefeito da maior cidade da América Latina, assista aos outros episódios deste especial da Brasil Paralelo sobre as eleições municipais de 2024: Ricardo Nunes e Pablo Marçal.
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