A maioria das pessoas conhece Getúlio Vargas pelo seu papel como presidente do Brasil, mas antes de chegar ao topo da vida política, ele foi militar e quase terminou lutando contra a Bolívia. Entenda essa curiosa história.
“O jovem Getúlio estava resolvido. Decidiu que seria militar.”, assim contou Lira Neto no primeiro volume da sua biografia sobre Vargas. Essa decisão o faria seguir os passos de sua família.
Evaristo Vargas, avô de Getúlio, foi um militar que lutou na Revolução Farroupilha que aconteceu durante o Império entre os anos de 1835 e 1845. O movimento fundou a República do Piratini que separou o estado do Rio Grande do Sul, durante um período, do restante do país.
O pai de Getúlio também era militar, lutou durante a Guerra do Paraguai, considerado o maior conflito bélico que ocorreu na América do Sul. Vargas conta que cresceu ouvindo as histórias de seu pai nas linhas de batalha.
No ano de 1898, Getúlio Vargas entrou no Batalhão de Infantaria, que ficava na cidade de São Borja no Rio Grande do Sul, cidade em que Vargas nasceu. Lá, fazia as tarefas mais básicas destinadas aos oficiais rasos: limpar o chão, lavar banheiros e vigia noturna.
No ano seguinte, Vargas conquistou a patente de segundo-sargento, o que lhe daria acesso à Escola Preparatória e de Tática de Rio Pardo. Esse era o caminho que poderia fazer com que jovens militares crescessem na carreira e alcançassem o alto oficialato.
Enquanto Vargas se preparava para dar o próximo passo de sua formação, o Ministério da Guerra lançou uma nota afirmando que não havia vagas o suficiente e, devido a isso, novos alunos não seriam aceitos. O que atrasou a vida de Getúlio em um ano.
Apenas um mês antes de completar seus 18 anos de idade, Vargas conseguiu acesso à Escola Preparatória e de Tática de Rio Pardo.
O seu biógrafo, Lira Neto, conta um caso curioso. Que para conseguir fazer a sua matrícula no dia 27 de março de 1900, Vargas teve que mentir a data em que nasceu. Em sua certidão de nascimento, riscou o ano de 1882 e inseriu o ano de 1883, uma mentira que o acompanharia durante toda a vida.
Getúlio Vargas desempenhou acima da média na escola de Rio Pardo. O que chamava atenção, pois o nível de cobrança da escola era alto, ocasionando cerca de um terço de repetentes nas turmas.
As teses positivistas que ganharam força com o golpe que derrubou a monarquia fizeram da formação intelectual dos soldados uma preocupação para o governo.
Apesar do bom desempenho, Getúlio estava prestes a ser expulso da Escola Militar. A decisão viria por seu envolvimento com um movimento rebelde de alunos.
Crítico à cidade de Rio Pardo, Getúlio achava que a única coisa boa daquele município era a Escola Militar. O jovem vinha conquistando boas notas e tomando gosto pela farda, inclusive projetando uma carreira vitoriosa pela frente.
Essa sensação não era compartilhada por todos os alunos. Alguns deles começaram a se revoltar contra a autoridade de seus superiores. Um episódio em que um aluno chamou o seu capitão de bandido, como reação ao ser chamado de cínico, levou dezenas de estudantes a se rebelarem e se posicionarem a favor do colega.
A revolta estudantil foi respondida com uma série de expulsões. Os estudantes reagiram convocando uma assembleia. Getúlio, que até então não participava do movimento, participou da reunião e se posicionou favorável à decisão dos alunos de se solidarizar com os manifestantes.
A diretoria endureceu a resposta e expulsou 31 alunos e prendeu outros 98. Na lista dos expulsos, estava Getúlio Vargas.
Enquanto aguardava a oficialização da sua expulsão do exército, uma notícia mudou a vida de Getúlio Vargas. O Brasil estava prestes a entrar em guerra contra a Bolívia.
Neste momento, Vargas já estava com a cabeça na faculdade de Direito e em seu objetivo de trocar de área, mas teve que trocar o terno pela farda. Foi marchando para embarcar no navio Itaperuna, que navegaria em direção ao Mato Grosso.
O motivo da guerra seria a posse do Acre, um grande número de brasileiros que viviam no local se revoltaram contra o governo boliviano.
Essa disputa era antiga, datava desde a colonização dos espanhóis e portugueses. No império, um acordo chamado de Ayacucho, oficializou o estado como pertencente à Bolívia, mas oficialmente ocupado por brasileiros.
Esses brasileiros passaram a acusar os bolivianos de perseguição e se revoltaram, gerando a chamada Revolução Acreana. O governo brasileiro interveio para tentar resolver a questão diplomaticamente, mas com a elevação das tensões, o país começou a se preparar para uma guerra.
Já em Mato Grosso, na cidade de Corumbá, Getúlio Vargas escreveu uma carta ao seu amigo Martim Gomes, contando sobre os seus sentimentos na iminência da guerra:
“Quando segui para cá, apesar da dor cruciante das saudades causadas por uma separação que bastante me custou, vinha contudo alegre, porque trazia a alma cheia de ilusões, porque julgava vir defender a minha pátria e, portanto, tinha satisfação íntima de quem cumpria o seu dever.”
As tropas ficaram acampadas durante dois meses, sofrendo com todo tipo de escassez, desde comidas a remédios. Relatos mostram a enfermagem lotada de soldados que ficavam mais suscetíveis às doenças devido à subnutrição.
“Enquanto Getúlio via os colegas padecerem com diarreias, febres palustres e picadas de mosquitos no pantanal mato-grossense, a ameaça de guerra reverberava a centenas de quilômetros dali, nos corredores do antigo Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro.”, afirmou Lira Neto no volume 1 da sua biografia sobre Getúlio Vargas.
Em novembro de 1903, foi assinado o Tratado de Petrópolis que resolvia o conflito entre Brasil e Bolívia de forma pacífica.
Esse resultado só foi possível devido às habilidades diplomáticas do Barão que recuperou documentos históricos para convencer os bolivianos a aceitarem uma indenização no lugar de cederem o território do Acre.
A Bolívia também ficou com um pedaço dos territórios em disputa e garantiu a construção da ferrovia Madeira-Mamoré.
Getúlio Vargas voltou para seu Estado onde foi cursar Direito. Na faculdade, seus colegas descobriram o seu talento como orador.
Talento que aliado às circunstâncias históricas o levou a entrar na vida política e no futuro se tornar o presidente que governou o Brasil por mais tempo.
Militar de formação, Vargas assumiu como presidente após um golpe militar em 1930. Esse personagem e os acontecimentos em sua biografia mostram como o Brasil teve a sua história impactada pelo exército.
Seja nos bastidores ou no palco, os militares marcam presença. Qual a visão do povo sobre isso? A ação dos militares ao longo da história foi positiva ou negativa?
Vilões ou heróis?
Traidores ou salvadores da pátria?
É essa disputa de visões que será analisada na nova produção original da Brasil Paralelo: Amada e Ultrajada - o Exército na História do Brasil. Novo documentário da Brasil Paralelo que estreia no dia 22 de agosto.
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