Os alunos brasileiros chegam ao ensino médio com o conhecimento equivalente ao de alunos do 5º ou 6º ano do ensino fundamental de outros países. Segundo dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), coordenado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD).
O PISA avalia as habilidades de leitura, matemática e ciências de estudantes de 15 anos de mais de 72 países e economias.
Na avaliação de 2018, o Brasil ficou abaixo da média dos níveis alcançados por outros países em todas as três áreas:
“No Brasil, convencionou-se ensinar nada, praticamente nada, até o 5° ano. Depois, muito pouco até o 9° ano; e tudo fica complexo no ensino médio”, lamenta Ilona Becskeházy, mestre e doutora em política educacional.
“Os alunos do ensino médio são muito imaturos intelectualmente, trazem pouco conteúdo. Em três anos, o ensino médio não consegue ensinar, porque o aluno é imaturo e não consegue entender. Então, o estudante sai do sistema, pois não entende o que está aprendendo”, complementa.
Para Claudia Costin, diretora do Centro de Políticas Educacionais da FGV e ex-diretora de Educação do Banco Mundial, o novo ensino médio era uma proposta interessante para contornar o problema.
“A lei do novo ensino médio busca resolver alguns dos problemas, em especial, a baixa carga horária e o excesso de disciplinas fazendo como outros países que têm bons sistemas educacionais. Fazendo o jovem ser exposto a disciplinas e escolher uma área de aprofundamento”, destaca Claudia Costin.
A reforma começou a ser implementada em 2022, no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em 2023, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os prazos de implantação foram suspensos.
Claudia Costin destaca que há no Brasil um preconceito com o ensino técnico profissionalizante, mas que é necessário avançar nessa área:
“Tanto o jovem que não vai para a universidade ou aquele que deseja ir pode ter disciplinas que dialogam com o mundo do trabalho. O Paraná, por exemplo, inseriu programação em todos os anos. Acho uma boa ideia, isso vai ajudar a profissionalizar o jovem e prepará-lo para o mundo que está mais complexo”.
A reforma do ensino médio tentou evitar a evasão escolar com os itinerários formativos de preparação para a universidade e ensino técnico.
Países como Alemanha e Coreia do Sul adotam este modelo de formação para 50% de seus alunos.
Nem todos enxergam o novo ensino médio como a solução para a educação no Brasil. Para a coordenadora da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Andressa Pellanda, o novo modelo:
"Faz um reducionismo no direito à educação, ao restringir as disciplinas, modificar algumas para conteúdos vinculados somente a um modelo de sociedade baseada no que dita o mercado".
Ela diz acreditar que a proposta falha por flexibilizar a docência, ao "aceitar como educadores pessoas sem formação na área, precarizando ainda mais o trabalho do professor e o próprio ensino".
A nova grade foca "em uma agenda conteudista" e "pouco crítica", segundo Pellanda. E, por não ser oferecida "de forma isonômica e com equidade a toda a população secundarista", deve aumentar ainda mais as discrepâncias educacionais do brasileiro.
Como as escolas têm autonomia para a construção dessas matérias optativas, há um temor de que instituições públicas não consigam oferecer conteúdo adequado.
Para entender o motivo do Brasil chegar às últimas posições em todos os rankings educacionais internacionais, é necessário dar um passo para trás. Nesta jornada pela educação, conceitos, análises e denúncias sobre as diferentes ideologias e personagens que pensaram o sistema de ensino brasileiro são apresentados:
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