Cerca de 24 horas antes da celebração do Dia das Crianças, um vídeo protagonizado por meninas viralizou nas redes sociais. Na publicação, as meninas pedem à Nike que proteja os esportes femininos.
O vídeo começa em tom questionador:
“Querida Nike, por que você não vai me defender?”
Em seguida, as meninas dizem que a empresa afirma apoiar as mulheres, mas, quando elas mais precisam, permanece em silêncio:
“Hoje, homens estão reivindicando nossa identidade, nossos esportes, nossos espaços. Homens e meninos estão roubando oportunidades, medalhas, troféus e nosso futuro. E isso não é justo nem correto. Na verdade, muitas vezes é perigoso.”
De modo incisivo, o anúncio afirma que a empresa se recusa a usar sua plataforma para defender os esportes e, em consequência, os direitos de meninas e mulheres:
“Você diz que é a favor da justiça social e do progresso. Então, por que permite que os direitos dos homens venham antes dos nossos?”
Ao final, as pequenas protagonistas do vídeo clamam que a empresa as defenda:
“Você vai me defender? Apenas faça isso."
A Nike é a principal marca esportiva da atualidade. De acordo com a Brand Finance, ocupa a 62ª posição entre as marcas mais valiosas do mundo. O valor de mercado da empresa é de US$29,8 bilhões (cerca de US$147 milhões de reais).
A Nike tem um histórico de polêmicas relacionadas à diversidade de gênero.
Em agosto de 2016, a empresa celebrou a participação do primeiro homem transgênero nas Olimpíadas. Pioneiro na seleção norte-americana, Chris Mosier é competidor de duathlon e triathlon e foi patrocinado pela Nike.
No vídeo da campanha da época, um narrador pergunta se alguma vez Chris pensou em desistir, diante dos desafios e do preconceito que poderia vir a sofrer.
“Sim, pensei. Mas não desisti”, respondeu o atleta. “Apenas faça” (Just do it) era o slogan da campanha da Nike.
Ao estrelar a ação de marketing da empresa naquele ano, cujo slogan era “Unlimited Courage”, o atleta afirmou:
"Ser o primeiro homem transgênero na equipe dos EUA foi um sonho que se tornou realidade para mim. Eu sempre quis o meu nome em um uniforme. Representar o nosso país no mais alto nível no meu esporte é simplesmente extraordinário".
Desde então, a publicidade da marca promoveu a diversidade de gênero de modo claro e incisivo.
Um exemplo foi a campanha “Até todos vencermos” (“Until we all win”), realizada em 2022. A iniciativa era focada em apoiar comunidades que eles consideram marginalizadas, por meio da promoção da igualdade de gênero, raça e orientação sexual no esporte.
A empresa também lança regularmente coleções e campanhas durante o mês de junho, considerado o mês do Orgulho LGBTQIA +. Um exemplo é a "BE TRUE", que celebra a diversidade e apoia organizações que trabalham em prol dos direitos LGBTQIA +.
No site da empresa consta que “ao combater desigualdades históricas e defender a inclusão fora dos campos, quadras e pistas, [a Nike] continua a promover a igualdade de participação no esporte para que atletas* de todos os perfis tenham a oportunidade de vencer.
Com este objetivo, apoia iniciativas que reflitam a diversidade dos nossos funcionários, atletas e consumidores, promovendo o esporte como plataforma de acolhimento, geração de oportunidades e desenvolvimento humano.”
Em 2023, a empresa lançou um anúncio com a influenciadora transgênero Dylan Mulvaney. No vídeo, Mulvaney aparece se exercitando com roupas da marca.
The acordo com o NY Post, a campanha resultou em um boicote em massa, denominado “Desafio queime o sutiã” (Burn Bra Challenge), em que consumidoras apareciam em redes sociais queimando roupas íntimas da marca, em protesto pelo fato de a Nike escolher um trans como representantes das mulheres.
De acordo com o jornal, uma usuária do Tik Tok afirmou:
“Você escolheu um garotinho sem seios e com algo nas calças para representar as mulheres de verdade.”
Outra, que tem 140 mil seguidores e utiliza o nome de usuário “chatterbox.mama” conclamou “todas as mulheres reais por aí” a entrarem na luta, ou seja, no boicote.
Uma terceira mulher desafiou outras mulheres a “queimarem seus sutiãs da Nike... como uma forma de mostrar nossa solidariedade e o quão sérias estamos sobre sermos reconhecidas.”
Este boicote não foi a primeira crise enfrentada pela empresa envolvendo o tema. Em 2019, a conduta da Nike em relação às mulheres foi severamente questionada.
A empresa foi acusada de reduzir ou até retirar patrocínio de atletas mulheres que engravidassem. Na ocasião, a corredora Alysia Montaño publicou um artigo no The New York Times denunciando o caso. Na época, ela afirmou:
"O esporte tem um grande impacto no corpo humano e os patrocinadores reconhecem isso ao nos conceder folgas em caso de lesões. No entanto, raramente nos oferecem tempo para podermos ter um filho".
Montaño se tornou conhecida por ter disputado provas até o nono mês de gravidez e, mesmo assim, ter tido gestação e partos saudáveis.
Na ocasião, a Nike admitiu que seus contratos possuem cláusulas que possibilitam redução ou até rescisão dos contratos em casos de as atletas engravidarem.
Além de Montaño, as corredoras americanas Kara Goucher e Allyson Felix denunciaram as políticas de patrocínio da Nike em relação às mulheres grávidas.
A empresa parece estar voltando atrás em suas políticas alinhadas às questões de gênero. A campanha publicitária divulgada nas Olimpíadas de Paris 2024 teve como lema: “vencer não é para todos”. Focados na valorização do esforço pessoal, os anúncios privilegiam características dos atletas de ponta e não questões identitárias.
Ao divulgar o anúncio, a Nike mais uma vez enfrentou polêmicas.
O movimento da Nike de restringir suas políticas de inclusão e diversidade segue uma tendência entre outras gigantes em seus segmentos.
O Google e a Meta, dona do Facebook, Instagram e WhatsApp recentemente cortaram seus programas de diversidade. O X, antigo Twitter, acompanhou a tendência. Seu fundador, Elon Musk afirmou que políticas de inclusão como “uma distração e uma forma de socialismo corporativo”
Na última semana, a Toyota afirmou que não irá mais patrocinar eventos LGBTQIA +.
Além da empresa, Harley Davidson, Ford e John Deere também cancelaram políticas e ações afirmativas. O objetivo é aumentar o alinhamento com seus públicos e sua competitividade.
Leia a transcrição completa do vídeo:
"Querida Nike, por que você não me defende? Por que você não me defende? Por que você afirma apoiar mulheres e meninas, mas quando mais precisamos de você, permanece em silêncio? Hoje, homens estão reivindicando nossa identidade, nossos esportes, nossos espaços. Homens e meninos estão roubando oportunidades, medalhas, troféus e nosso futuro. E isso não é justo nem correto. Na verdade, muitas vezes é perigoso. Ainda assim, você se recusa a usar sua plataforma para nos defender. Você diz que é a favor da justiça social e do progresso. Então, por que permite que os direitos dos homens venham antes dos nossos? Veja, com uma grande plataforma vem uma responsabilidade ainda maior. Você tem a chance de fazer a coisa certa, não apenas fazer o que é fácil. Então, estamos perguntando a você, Nike. Então, estamos perguntando a você, Nike. Então, estamos perguntando a você, Nike. Como a maior voz em todos os esportes, você vai me defender? Você vai me defender? Você vai? Apenas faça isso."
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