Tudo parecia ser comum em Canoas, no Rio Grande do Sul. Victor Hugo saiu de lá para trabalhar na capital, Porto Alegre. Quando notou que chovia muito, decidiu voltar para casa.
Ao chegar diz à esposa que esqueceu algo no escritório e que vai buscar. Ao sair, ele se vê preso no trânsito. À frente, a água subia; atrás, o horizonte preenchido de carros. Foi o suficiente para pensar que não voltaria para casa.
O relato acima foi dado ontem pelo advogado mineiro Victor Hugo Januario Pereira em entrevista ao Portal Brasil Paralelo. Vivendo há alguns anos em Canoas, contou que mesmo tendo vivido em regiões de Belo Horizonte que inundavam, nunca se imaginou em uma situação assim.
A maior catástrofe do Rio Grande do Sul já afetou mais de um milhão de pessoas, segundo dados da Defesa Civil divulgados hoje mais cedo.
Ontem à noite, no Cartas na Mesa, programa semanal ao vivo da Brasil Paralelo, nossos analistas deram um parâmetro da situação baseados em relatos de pessoas como Victor Hugo.
Lucas Ferrugem, Christian Lohbauer, Luiz Phillipe de Orleans e Bragança e Adriano Gianturco buscaram dar visibilidade ao tamanho da catástrofe que assola o povo gaúcho. Também analisaram o contexto atual e as expectativas para daqui em diante.
O programa começou mostrando dados comprovando que esta é a maior tragédia que o Rio Grande do Sul já viveu.
Dados oficiais mostram que as inundações atingiram 3 vezes mais cidades do que em setembro do ano passado. No mapa abaixo, é possível ter noção da proporção da tragédia. ⅔ do estado estão sob inundação.
O fato de a região ser um vale contribuiu para o agravamento da situação. A barragem da usina hidrelétrica 14 de julho, que fica a 196 km de Porto Alegre, está sob risco de romper, o que obrigou muitas pessoas a sair de casa.
Outra situação grave diz respeito à comunicação. Até a noite de ontem, centenas de municípios estavam sem serviços de telefonia e internet, o que está dificultando um pouco as operações de busca e salvamento.
A falta de água e energia elétrica também está dificultando a vida dos gaúchos. Já são 418,2 mil pontos da cidade sem energia elétrica e 1,06 milhão de pessoas sem fornecimento de água potável.
Por fim, antes de começar efetivamente a análise, o quarteto informou que o aeroporto de Porto Alegre está inundado e fora de operação pelo menos até o dia 30 de maio de 2024. Segundo os analistas, isso agrava ainda mais a situação na região.
A análise começou com Ferrugem dizendo que diante de todo o caos era possível tirar algo bom de tudo o que está acontecendo. Destacou que a forma como os gaúchos estão lidando com a situação tem sido emocionante.
“Uma coisa que felizmente chamou a atenção de muita gente é o voluntariado da sociedade civil. A população de forma descentralizada se organizou através de redes sociais e está ajudando. Eu não me lembro de já ter visto mobilização semelhante.” - disse ao abrir o debate.
O cientista político Luiz Phillipe de Orleans e Bragança argumentou que a efetividade dessa mobilização civil não deveria ser surpresa. Afirmou que em países em que já existem grupos comunitários organizados e exercendo o que é prioritário, planos de ação para calamidades são pensados com antecedência.
Esse trabalho é feito em conjunto com o poder público para que em caso de situações adversas os serviços efetivos de salvamento já estejam coordenados com as pessoas. Além disso, é feito um planejamento financeiro e de logística.
Para Bragança isso não acontece no Brasil porque há uma falência ampla dos serviços públicos, o que dificulta a elaboração desse plano. Diante de recorrentes inundações seria preciso uma força tarefa para se saber o que fazer em situações assim.
“É preciso ter uma visão ampla dos riscos inerentes e eternos daquela região e assim construir infraestrutura para atenuar esses problemas futuramente. Nos EUA, por exemplo, tem pessoas que ainda moram em áreas de furacão. Isso acontece porque o cidadão sabe que haverá proteção tanto, civil quanto do poder público, em casos de emergência. E tudo isso sem impactar totalmente o país.” - concluiu.
Renato Dias acrescentou que apesar de muitos falarem que o brasileiro não é caridoso ou que só pensa em si, os números dizem o contrário. Mostrou um ranking internacional que mostra o Brasil como o 18º país mais solidário do mundo.
O gráfico aponta tanto doação de tempo quanto de dinheiro, evidentemente baseado na proporção do PIB de cada país.
Já falando diretamente com quem está na linha de frente no Rio Grande do Sul, nosso time conversou com o professor de história do Brasil, Thomas Giulliano. Natural de Porto Alegre e vivendo hoje em Garibaldi, o professor já arrecadou mais de R$1.300.000,00 em donativos para as vítimas da inundação.
Parceiro antigo da Brasil Paralelo, Giulliano iniciou sua fala dizendo que conseguiu ampliar suas frentes de atuação na região de 10 para 14. Em Garibaldi, ele tem atuado diretamente na compra e distribuição de recursos conforme as necessidades que se apresentam. Fora dali tem pessoas de sua estrita confiança que estão administrando os recursos e levando a quem mais precisa.
Contou também como tem sido viver o dia a dia. Devido a falta de comunicação, as notícias demoram a chegar e muitas vezes são confusas. Relatou que passou dias sem notícias de amigos.
“Até a manhã do dia de ontem eu estava preocupado com uma aluna minha que é mãe de três crianças. Não sabia se ela estava viva, se seus filhos estavam vivos. É esse nível de preocupação que a gente tem vivido.” - desabafou durante a entrevista.
Explicou a situação em bairros como Mathias Velho, em Canoas. Casas ficaram inteiras debaixo d’água. Em alguns lugares chegou até o segundo andar de prédios. Um verdadeiro cenário de guerra.
Historicamente falando, descreveu a inundação como a pior tragédia da história do Rio Grande do Sul. Tem se comparado a situação aos alagamentos da década de 1940, porém Giulliano explicou que dessa vez a situação é muito pior.
“Vamos pensar no que está ocorrendo apenas em Porto Alegre. Mesmo se fosse apenas em Porto Alegre não é nada parecido ao que aconteceu na década de 40. Eu afirmo isso como alguém conhece a história deste estado e do Brasil que este é o pior momento da história do Rio Grande do Sul.” - afirmou.
A ação continua. Somente durante o programa, o valor arrecadado subiu mais de R$200.000,00. Caso você queira ajudar, o PIX é thomas.giulliano@gmail.com .
Giulliano finalizou dizendo que hoje no Rio Grande do Sul não há ninguém que não esteja envolvido de alguma forma na ajuda e resgate. Todos são apenas um.
É o mesmo que diz a esposa de Victor Hugo, Daliane. No bairro de Canoas, em que eles vivem, moram muitos idosos que são sozinhos. Descreve que a preocupação das pessoas não era fugir de forma egoísta, era salvar vidas. Viu as pessoas entrarem nas casas para ajudar os outros a saírem.
Ao entrar no carro com seus seis filhos e grávida do sétimo, disse que se sentiu dentro dos livros de história de guerra que lê para as crianças. Porém estava grata a Deus. Enquanto ela corria para salvar seus filhos e sua própria vida, seu marido oferecia transporte em outro carro aos que estavam saindo de casa e sendo acolhidos em uma igreja local.
Sequer sabia se ele chegaria. Teve medo, mas seguiu para um lugar seguro. Ao terminar sua entrevista ao nosso portal, se emocionou ao relatar a fala de um de seus filhos, Lucas, que tem 8 anos.
“O que vi foi união. Um amor impressionante em meio a tragédia. Um senso de se ajudar. Sou católica. Posso dizer que vivi um pouquinho do que Israel viveu ao sair do Egito. Assim como o povo de Israel, eu sabia que iria para um lugar seguro. Foi exatamente assim que consolei os meus filhos. Em meio a todo aquele caos, louvei a Deus. Nada vale mais que uma vida. À noite, já na casa onde estamos em segurança, um dos meninos disse: ‘Obrigado papai do céu, eu estou vivo. E ajude quem ainda não tá. E para os que morreram, dê a Vida Eterna’. Me senti realizada como mãe.” - desabafou em meio a lágrimas.
Para os que foram afetados ou se sentem aflitos com toda a situação, Victor deixou um recado final:
“Existe uma Vida Eterna, existe algo além daqui. Se você perdeu alguém, tenha coragem. Cristo dá a Eternidade. Para você que perdeu tudo, que assim como a gente precisou sair de casa: a vida é o que mais importa. Ela foi dada por Deus e é preciosa. Coragem, Cristo ressuscitou.” - concluiu.
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