O catedrático da Universidade de Toronto subiu no palco para falar sobre a estrutura da mensagem de Caim e Abel de um ponto de vista psicológico-clínico, da importância da busca lúcida pela moral e pela redenção humana. Conduziu o público em uma reflexão sobre a busca da verdade e o sacrifício justo de individualidades em busca de melhorar sua alma, sua comunidade e o mundo.
Jordan B. Peterson vendeu milhões de livros com seus best sellers globais “12 regras para a vida” e “Além da Ordem”. Atualmente, conta com mais de 8 milhões de seguidores nas suas redes sociais. Há décadas marca presença em todo o ocidente em suas aulas lecionadas em auditórios, e também como professor em universidades como Toronto, Harvard e afins.
Sua primeira vinda para o Brasil aconteceu ontem, 18, no Espaço Unimed, em São Paulo/SP. O evento, lotado para mais de 4 mil pessoas, teve reflexões sobre seu novo livro: Nós que lutamos com Deus (tradução livre de We Who Wrestle With God).
Condensando o que ele ensinou em três eixos, o primeiro trata da morte dos nossos ideais. Diante da pressão que a vida impõe, há o risco de se perder o norte, o que leva à perda das emoções positivas e uma vida infernal se instala.
Na sequência, a reflexão se aprofunda na estrutura política da mensagem de Caim e Abel. A revolta contra a estrutura da realidade vem de não aceitar a correção que a vida traz. Rebelar-se diante das coisas como são, em última medida, é revoltar-se contra o criador.
Um pequeno indivíduo que aceite essa revolta, primeiro exclui a si mesmo da humanidade, depois o outro, depois a comunidade, como se vê no relato bíblico.
O efeito disso, ao longo das gerações, é o que permite o surgimento de estados totalitários, ordens ideológicas que sobrepõem a realidade.
Concluindo sua exposição para mais de quatro mil pessoas, Peterson convida à aventura que é dizer a verdade. Explica que a mentira é uma tentativa de manipulação que distorce a realidade. As coisas são ditas pensando apenas no resultado que se busca alcançar, o que a princípio seria bom, mas se torna um intento de você ser o próprio Deus da vida, em vez de aprender as regras existentes.
Abel tornou-se pastor de ovelhas, e Caim, agricultor. O Senhor não recebeu a oferta de Caim, que não era tão boa quanto a parte mais gorda das primeiras crias do rebanho de Abel. Deus pergunta a Caim:
Se você fizer o bem, não será aceito? Mas, se não o fizer, saiba que o pecado o ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo. (Gênesis 4:8)
Conhecemos essa história. Caim matou Abel.
Refletindo sobre isso, Peterson alerta: Se você seguir o caminho de Caim, se oferecer muito menos do que o seu melhor, você vai se tornar amargo e ressentido, sacudir o punho contra Deus e se transformar em um assassino invejoso.
O psicólogo enfatizou o risco do errante: não suportar a plena consciência da magnitude de seu pecado, o que o leva a ficar cego para o seu erro.
Diante de cada um, há dois padrões de sacrifício. Um é a participação voluntária, plena e de todo o coração de Abel, bem-sucedido para si mesmo, seus companheiros e Deus. O padrão concorrente é o de Caim, convite para a inveja e arrogância, pecado, degeneração e amargura, sacrifício que culmina em desejo de vingança e rebelião contra Deus.
Jordan Peterson acredita que esses dois padrões caracterizam a própria existência humana dentro da alma, entre homem e mulher, dentro da família, dentro da comunidade, no estado-nação, até o mais alto reino de ordem possível.
O psicólogo defende ser essa a eterna batalha entre o bem e o mal. Trata-se do precursor da batalha metafísica entre Satanás como o espírito por trás de Caim, e Cristo como o espírito por trás de Abel.
A história do fratricídio, o assassinato de um irmão, e da rebelião contra Deus torna-se ainda mais terrível. Essa história descreve o caminho para o inferno. Peterson afirma que sempre há alguma coisa estúpida que podemos fazer para piorar nossas misérias.
“Então, depois que Caim é condenado a vagar, temos uma visão de seu futuro. Caim é o pai dos cananeus. Os cananeus são os habitantes malignos e corruptos da terra, que foram sempre e corretamente derrotados pelos verdadeiros seguidores de Yahweh. E o que isso significa? Significa que aqueles que exemplificam o espírito de Caim, aqueles que são seus descendentes, por assim dizer, os filhos de Caim, serão sempre e adequadamente derrotados por aqueles que fizerem os sacrifícios adequados e se prepararem. E isso é de fato justo e apropriado.”
A conclusão terrível dessa história, ressalta Peterson, é que a origem do espírito genocida é a falta de sacrifício. Cada um deve pensar nisso ao oferecer algo que seja menos do que o melhor ao seu alcance. Abrir as portas para a arrogância e para o ressentimento leva à inveja e à vingança.
“São as pessoas que estão dispostas a sacrificar a si mesmas e talvez tudo o que amam em busca da verdade que guarda o portão contra a incursão do espírito do totalitarismo assassino.
E é por isso que vocês são chamados a falar quando têm algo a dizer e não escondem sua luz sob um alqueire, é porque sua aliança com a verdade é o baluarte contra a degeneração do Estado.”
Peterson relembrou a todos os presentes que a cada um foi concedido o status de criatura feita à imagem de Deus, que tem os direitos inalienáveis que nem mesmo o próprio Estado pode transgredir.
Na sequência, o exemplo segue a história de Abraão, que estava protegido na tenda de seu pai. Sua vida era tranquila, livre de certos tipos de dor e perigo. Mas, pontua o psicólogo, Deus o chama e Deus é o espírito da aventura.
“Quando você é pai e incentiva seus filhos, quando você os incentiva, você os incentiva a ter a aventura de sua vida. Você não os protege e os armazena onde não podem ser feridos. Você os estimula a desenvolver suas habilidades para que possam sair para o terrível mundo e prevalecer. E não há nada mais gratificante para um pai que ama seus filhos do que ver seu filho ou sua filha tomar seu lugar com coragem e seguir em frente, mesmo diante de desafios e perigos. E esse é o espírito de aventura que surge em Abraão.”
Se Abraão seguir o que Deus pede, viverá uma bênção para si mesmo, e as pessoas conhecerão o seu nome, vão admirá-lo de forma válida. Ele estabelecerá algo permanente, fundará uma dinastia e será pai das nações. Por fim, a vida dos outros se tornará melhor.
“E esse é o convênio que Deus estabelece com aqueles que trazem tudo o que podem para a mesa e fazem sacrifícios da mais alta qualidade possível.”
Peterson também provoca ao perguntar como isso se daria se você continuasse em sua cama, se não atendesse ao chamado à aventura e ficasse apenas deitado lidando com a consciência de seu fracasso.
Ao explicar politicamente esta mesma noção, é enfático: Marx é um herdeiro do espírito de Caim. Ressentido, invejoso, amargo e usurpador. Esclarece ser esse o espírito patológico que fomentou a revolução na Rússia e produziu uma catástrofe que durou sete décadas.
“Esse era o espírito que possuía os utopistas racionalistas e materialistas no final da revolução francesa, antes que todo o inferno se soltasse e o Mar Vermelho transbordasse. [...]
O que vemos diante de nós no mundo atual, em um ritmo cada vez mais acelerado? Vemos a manifestação política da eterna batalha entre Caim e Abel.
E qual é a resposta adequada a isso? E a resposta é rejeitar o padrão de Caim e imitar o padrão de Abel. E não importa onde você faça isso. Você pode fazer isso nos limites de sua própria alma. É capaz fazê-lo em seu relacionamento com sua esposa ou seu marido. Tem habilidade para fazer isso ao melhorar e reparar o relacionamento com seus pais ou filhos. Pode fazer isso com seus amigos e com seus colegas de trabalho e clientes.”
“Voltar à igreja e rezar muito.” Com essas palavras, Peterson amarrou o fechamento de sua exposição colocando a oração como o principal modo para sanar o narcisismo que pode levar às neuroses.
Seu discurso elucidou a existência de uma lacuna entre o que cada um quer para si e o que Deus quer para cada um. O problema surge quando o indivíduo considera que sabe o que é melhor.
O intelectual reforçou: não seja possuído pelo seu próprio espírito, justamente porque o que você quer para você mesmo é pequeno. O caminho de Deus, como o ideal mais elevado, é superior.
Junto de sua esposa, explicou que a oração diminui as distâncias entre os caminhos pessoais e o caminho de Deus. Lembrou que sua esposa reza o terço pelas manhãs entregando suas preocupações do dia e diz:
“Senhor Jesus, filho de Deus, tenha misericórdia de mim”.
Contrapôs a isso a oração de Satã, no poema de Milton: Melhor reinar no inferno do que servir no céu.
Para cada situação difícil da vida, o psicólogo canadense ensina a se perguntar: Qual inadequação minha contribuiu para essa situação? A resposta verdadeira pode ser desgostosa, mas será o caminho de humildade.
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