História das marchinhas de carnaval - além da folia, uma chave de interpretação do Brasil

Além de representar a alegria e a descontração do carnaval brasileiro, as marchinhas retratam personagens e situações populares da sociedade brasileira, como a Chiquita Bacana, o pierrô apaixonado e diversas outras realidades brasileiras.

História

No início do século XX, o carnaval brasileiro era dominado pelos ritmos das danças de salão, como a polca, o maxixe e o tango. Porém, por volta do fim do século XIX, surgiram as primeiras marchinhas de carnaval, um novo estilo musical que logo conquistou o público.

A pesquisadora da USP, Renata de Almeida Martins, em sua tese de doutorado "A música carnavalesca de Lamartine Babo", afirma que as marchinhas de carnaval foram criadas para atender a uma demanda específica do público:

"As marchinhas de carnaval eram músicas feitas para o povo, para serem cantadas em coro pelos foliões. Elas eram simples, alegres e cativantes, e por isso se tornaram tão populares".

A palavra "marchinha" vem de "marcha", um ritmo conhecido por ser acelerado e animado que serve para marcar o compasso das canções. 

As marchinhas eram alegres e fáceis de memorizar, esse foi um dos principais motivos de sua popularização. Elas eram cantadas em coro pelos foliões durante os desfiles de carnaval, e logo se tornaram o ritmo mais popular do carnaval brasileiro.

O jornalista José Ramos Tinhorão explica que as primeiras marchinhas de carnaval surgiram no final do século XIX, como uma resposta dos compositores brasileiros à influência das danças estrangeiras que dominavam o carnaval na época. Por isso, é possível dizer que as marchinhas são um gênero musical brasileiro.

O início da popularização

O primeiro grande sucesso das marchinhas de carnaval foi "O Abre Alas", composta por Chiquinha Gonzaga em 1899, que acabou se tornando um hino do carnaval brasileiro. Porém, foi na década de 1920 que as marchinhas se consolidaram como o principal ritmo do carnaval, graças a compositores como Sinhô, Freire Júnior e Lamartine Babo.

As marchinhas de carnaval atingiram o auge da popularidade nas décadas de 1930 e 1940, quando surgiram clássicos como "Mamãe Eu Quero", "Cidade Maravilhosa" e "A Jardineira". Essas músicas se tornaram hinos da alegria e da descontração, são lembradas até hoje como alguns dos maiores sucessos da história do carnaval brasileiro.

Em 2017, um estudo realizado pelo IBOPE revelou que as marchinhas de carnaval são as músicas mais lembradas pelos brasileiros durante as festas de carnaval. De acordo com a pesquisa, 54% dos entrevistados citaram as marchinhas como o estilo musical que mais associam ao carnaval.

Marchinhas perdendo espaço

Com o passar dos anos, as marchinhas de carnaval foram perdendo espaço para outros ritmos, como o samba-enredo e o axé. O Datafolha afirmou que a Anitta teve a música mais tocada do carnaval de 2019. Contudo, a segunda música mais tocada no carnaval de 2019 foi a marchinha "A Pipa do Vovô", mostrando que esses clássicos brasileiros ainda são tocados em festas de carnaval pelo Brasil.

Hoje, as marchinhas de carnaval são consideradas patrimônio cultural brasileiro, e são estudadas e preservadas por pesquisadores e instituições culturais. Elas representam uma parte importante da história e da cultura brasileira, e continuam a animar as festas de carnaval em todo o país.

"O Carnaval é o momento em que o brasileiro pode ser ele mesmo, sem as amarras da vida cotidiana. É um tempo de liberdade e de celebração da vida. O Carnaval é o que há de mais autêntico no Brasil, a celebração de nossa cultura e de nossa identidade", disse Nelson Rodrigues.

Importância do carnaval para o Brasil

Não é de se surpreender que as marchinhas foram criadas no Brasil, além dos aspectos sócio-culturais, o carnaval se tornou uma festa essencial para a economia brasileira há décadas. 

Muitos turistas visitam o país e gastam dinheiro em hotéis, restaurantes e atrações turísticas. Segundo um estudo da Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo), o Carnaval de 2019 gerou uma receita de R$ 6,78 bilhões em todo o país.