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“Guerra das Fake News”: Ministério Público do Rio Grande do Sul obtém liminar que obriga Nego Di a remover conteúdo das redes sociais

No dia 11/5, o Ministério Público do Rio Grande do Sul obteve uma liminar que determina que o influenciador Nego Di remova algumas publicações de suas redes sociais, onde tem mais de 10 milhões de seguidores. A acusação da Instituição é de que as publicações com acusações sem provas contribuem para o caos social.

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Imagem: X
Redação Brasil Paralelo
Comunicação Brasil Paralelo

Há dias, a Guerra das Fake News chegou ao Rio Grande do Sul. Em meio à tragédia que já impactou mais de 2 milhões de pessoas, redes sociais disputam com os veículos tradicionais a velocidade e a na apuração dos fatos e a credibilidade das notícias transmitidas. 

Se, por um lado, as redes circulam informações em tempo real;  por outro, os grandes veículos se empenham na narrativa de que seu trabalho têm maior credibilidade.

Se, por um lado, as redes circulam informações em tempo real;  por outro, os grandes veículos se empenham na narrativa de que seu trabalho têm maior credibilidade.

No centro da discussão sobre “quem diz a verdade”, influenciadores como Pablo Marçal e Nego Di e o governo federal estão em lados opostos. 

Na última semana, eles protagonizaram uma polêmica que se prolongou por dias e continua repercutindo. E conta ainda com um terceiro participante: a Rede Globo, empresa do principal grupo de comunicação do país. 

O embate começou no dia 04 de maio,  quando uma reportagem do programa Tá na Hora do SBT, denunciou que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT)  estava barrando a entrada de caminhoneiros que levaram doações ao Rio Grande do Sul, por falta de nota fiscal ou excesso de peso. 

O empresário e influenciador replicou a denúncia em suas redes sociais, em que possui mais de 12 milhões de seguidores12

 A publicação incomodou o governo. 

Após o episódio, o Secretário de Comunicação, Paulo Pimenta, acionou a Advocacia Geral da União, que realizou um pedido de investigação de um grupo acusado de divulgar Fake News. 

A lista dos investigados inclui, além de Marçal, parlamentares da oposição, como o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL/RJ), o senador Cleitinho (PL/MG) e outros críticos ä atual gestão federal. 

Em sua defesa, o influenciador acusou o governo de atacar quem está “colocando a mão na massa para ajudar as vítimas”: 

"Eu estava colocando o pé na água, passando a madrugada entendendo a situação no Estado. Não estava utilizando o Estado para atacar cidadão. Eu sou um cidadão. Eu não fiz crítica alguma para alguém. Meu perfil é falar e fazer. Assim, se vocês querem usar o Estado contra isso (para atacar os cidadãos), vamos partir para isso”, afirmou Marçal, conforme o site  “O Antagonista”. 

Imagem: Jornal GGN.

Foi então que a Rede Globo subiu o tom. Ao divulgar o ocorrido em um de seus programas de televisão de maior audiência, a jornalista Natuza Nery afirmou:

“O ministro Paulo Pimenta não deu os casos [de Fake News], mas um dos casos mais alarmantes e que assustou boa parte da equipe que está prestando socorro às vítimas Rio Grande do Sul, uma dessas Fake News dava conta de que os caminhões de doação estavam sendo barrados por no Rio Grande do Sul porque não tinham nota fiscal. Isso é de uma irresponsabilidade…isso partiu do endereço certo. Isso partiu de um coach chamado Pablo Marçal que postou um vídeo contando essa mentira, afirmou. 

O empresário não “deixou barato”. Em um vídeo publicado em sua rede social, classificou Nery como jornalista incompetente que não se deu ao trabalho de pesquisar”. Ele ainda a chamou de “miserável”. Citou também vídeos do SBT e da TV Record que teriam denunciado o equívoco da ANTT. 

A posição de Nery confirma a narrativa adotada pela Rede Globo, que vai ao encontro do discurso governista de que o estado está trabalhando de modo colaborativo com o governo do estado do Rio Grande do Sul e de que são falsas as denúncias de que a burocracia têm atrapalhado o auxílio às vítimas. 

Um vídeo publicado pela Secretaria de Comunicação, no dia 10/05, apresenta um corte de uma entrevista realizada para o programa Jornal Nacional, em que o jornalista William Bonner,  afirma ao Ministro das Comunicações, Paulo Pimenta:

“Sim, inventaram que a Anvisa não estava deixando chegar remédios…”

O ministro, então, dá continuidade à afirmação do apresentador:

“Perfeitamente! Inventaram que a Receita Federal estava barrando donativos por falta de nota fiscal”, afirma Pimenta, enquanto confirma que o governo federal trabalha em perfeita harmonia com o governo do Estado. 

As denúncias realizadas de que erros burocráticos estão atrapalhando os esforços em prol do Rio Grande do Sul têm sido replicadas por outros influenciadores. 

A economista Renata Barreto afirmou em seus stories da rede social Instagram que há centenas de relatos de voluntários que apresentam denúncias assim.  

Imagem: Instagram Renata Barreto

A empresa de Barreto, Faz Capital, cuja sede fica no Rio Grande do Sul, organizou uma força-tarefa que já arrecadou mais de R$3,1 milhões. Os funcionários estão de forma voluntária engajados na aquisição e distribuição das doações. 

A polêmica envolvendo Marçal ganhou ainda um novo elemento. 

Em um vídeo publicado nas redes sociais da agência no dia 9/5, Rafael Vitale, presidente da ANTT, admitiu a aplicação de multas a veículos que carregavam doações. 

“Durante o período das chuvas críticas, especificamente a partir de sábado, dia 4 de maio, passaram pelo posto de fiscalização de Araranguá, Santa Catarina, 7.928 veículos de carga que seguiram viagem. Houve casos isolados de autuação por excesso de peso na balança de Araranguá, que não se tornarão multa e serão devidamente anulados", explicou o diretor-geral do órgão, Rafael Vitale.

Vitale afirmou que os casos autuados totalizaram seis, e que seguiram viagem sem multa, ao ser constatado que levavam doações. 

A divulgação da nota e do vídeo de Vitalle nas redes foi grande. E não foram apenas influenciadores de grande porte, como Marçal, que o replicaram. 

Outros veículos de comunicação, como o SBT, também repercutiram a notícia. Na emissora, a jornalista Márcia Dantas, que noticiou o fato ao vivo, sofreu uma ampla campanha difamatória, em que foi acusada de divulgar Fake News, em meio à tragédia do Rio Grande do Sul. 

Imagem: Correrio Brasiliense.

Ao longo de toda a semana, a jornalista teve seu trabalho apoiado pela emissora e por colegas, ao longo de toda a semana. 

Após a divulgação da nota da ANTT, Dantas afirmou:

“O nosso objetivo como jornalista é fazer com que esse trabalho voluntário seja melhor, ou seja, que as pessoas sejam ajudadas de forma mais rápida. 

A gente não quer atacar o governo, não queremos lado A ou B, quem falou a verdade ou quem não falou. Nós fizemos a denúncia, a ANTT atendeu ao nosso chamado e mandou uma nota. Esse é o nosso papel”, afirmou a jornalista. 

Pablo Marçal tem se manifestado nas redes exigindo direito de resposta. 

Esta não foi a única polêmica envolvendo o influenciador. O governo entrou com um pedido de direito de resposta em todas as redes sociais do influenciador por criticar a atuação das Forças Armadas na tragédia do Rio Grande do Sul. O pedido se refere à acusação de inércia das Instituição na assistência às vítimas da tragédia.

A “novela das Fake News” parece longe de acabar. 

O atual “capítulo” envolve a entrada do Ministério Público do Estado (MPRS). 

A Instituição obteve uma decisão em caráter liminar que obriga a retirada de conteúdo “sem provas” das redes sociais. O impactado será Dilson Alves Silva Neto, o “Nego Di”, que será obrigado a remover conteúdo das redes sociais. 

Na decisão, a juíza Fernanda Ajnhorn aceitou argumentos da promotoria de que a desinformação gera o caos e desestimula o engajamento da população. Determinou então que a Meta, responsável pelo Facebook e Instagram, “exclua publicações que questionem, sem provas, a atuação do Estado em ações de socorro às vítimas da tragédia climática”. 

A decisão ainda estipula multa de R$100 mil para quem compartilhar esse tipo de notícia de forma reiterada. 

No momento, cabe recurso. 

A decisão não é unânime. Há especialistas que considerem que não seja prioritária. 

Em entrevista ao programa Em pauta, da GloboNews, a subprocuradora-geral Josiane Camejo afirmou:

“Ministério Público cheio de trabalho em um estado caótico e tem que parar tudo para denunciar Fake News. É revoltante”, afirmou. 

 Em meio a uma das maiores tragédias climáticas dos últimos 50 anos, há indícios de que a luta pela reconstrução não será a única guerra que o povo gaúcho enfrentará. A guerra narrativa, envolvendo as Fake News, não tem data para acabar.

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