A advogada Paulliany de Sousa tinha a vida ideal. Jovem, cheia de amigos e membro de uma família acolhedora, aos 35 anos, não sentia falta da experiência da maternidade.
Na infância, tinha o desejo de formar família. Na adolescência, os pais se divorciaram e a mãe, uma mulher forte, esforçou-se para que as filhas alcançassem a independência profissional e financeira.
Com o tempo, as prioridades mudaram e o desejo de formar família foram ficando mais distante. Formada em Publicidade e em Direito, pensou que a maternidade não fosse acontecer:
"Quando eu chego aos 39, 40, eu olho e falo: 'Isso não é para mim! Além disso, eu não havia encontrado alguém significativo para seguir comigo nessa jornada e não tinha o desejo de ser mãe solo'", afirmou em entrevista exclusiva à Brasil Paralelo.
Até que, em cerca de dois anos, tudo mudou. Paulliany conheceu Dênis e, sem nenhum planejamento ou expectativa, engravidou.
A notícia foi recebida com alegria. Dênis já era pai. Ela procurou se preparar da melhor, consumindo informação na internet:
“Pensava que minha rotina de maternidade ia ser muito tranquila, porque a gente tem os manuais. A gente tem tudo direitinho, ali. É só adquirir as centenas de cursos que o Instagram te mostra”, revela.
O pensamento dela sobre maternidade era que tudo seria perfeito, conforme divulgado na internet.
O equívoco foi completo.
O nascimento do bebê estava programado para 4 de fevereiro, e ele nasceu em 22 de dezembro. A mãe teve colestase gestacional, uma disfunção que pode causar parto prematuro ou falta de oxigenação do bebê.
O parto difícil anunciava uma realidade completamente diferente da imaginada pela jovem mamãe.
Nasceu o Daniel, e nasceu também uma nova Paulliany. Uma mãe.
O verbo maternar vem da palavra latina mater, de onde também vem mãe. É uma das poucas palavras que têm som semelhante em inúmeras línguas, mesmo aquelas cuja raiz não é latina. Mãe, mother, mére, madre e tantas outras.
O conceito dicionarizado relaciona mãe à capacidade de gerar e/ou criar uma criança, mas não se restringe a isso. Inúmeros dicionários relacionam o conceito à proteção, afeto e bondade.
No livro mais lido da humanidade, é uma mulher, uma mãe, o único personagem que fica ao lado do protagonista durante toda a vida. Em toda a Bíblia, foi Maria que sempre esteve ao lado de Cristo.
A experiência da maternidade não é simples. A relação entre mãe e filho é única, desafiadora e demanda aprendizado constante.
A fisioterapeuta Maria Fernanda Ferreira, 26 anos, decidiu abdicar da vida profissional para se dedicar completamente à criação da filha.
“O maior desafio é educá-la ao mesmo tempo que educo a mim. Lutar contra os meus próprios defeitos e maneiras de agir, para que eu possa educá-la da melhor forma”, afirma.
A jovem mãe conta que, ao se descobrir grávida na lua de mel, ela e o marido não tiveram dúvidas: “não iriam terceirizar os cuidados com o bebê”.
Maria, que se formou em fisioterapia e se preparou para ter uma carreira profissional de sucesso, vê uma série de pontos positivos na dedicação integral à maternidade:
“Se eu trabalhasse não conseguiria ver o desenvolvimento completo dela no cotidiano. Eu iria perder a maior parte do contato dela com as atividades, os processos de aprendizado”, pontua.
Assim como Maria Fernanda, Paulliany aponta que os desafios existem:
“Senti um cansaço que nunca imaginei que existisse”.
Além disso, ao deixar a maternidade, teve de adaptar sua rotina completamente.
Ao contrário de Maria Fernanda, Paulliany continuou trabalhando. O esposo, Dênis, participa da rotina de cuidados com Daniel. Com 1 ano e 4 meses, o bebê tem uma rotina de cuidados específicos que envolve uma equipe multidisciplinar com o objetivo de colaborar para seu desenvolvimento integral.
Outra mãe que concilia a rotina de trabalho com a maternidade é Flávia Pingituro Catozzo, 42 anos. Ela afirma que foi bem acolhida pela empresa em que trabalha e que o fato de ela e o marido serem mais velhos facilitou as decisões relacionadas à criação se sua filha. Além disso, ao engravidar, ela e o marido já tinham estabilidade financeira, “o que ajuda bastante”, afirmou em entrevista exclusiva à Brasil Paralelo.
Mesmo assim, ela afirma as responsabilidades por uma nova vida são poucas:
“A gente passa noites em claro”, afirmou, lembrando ainda que teve um puerpério muito difícil.
O puerpério é o período pós-parto em que o corpo da mulher se restabelece, geralmente de 6 a 8 semanas após o nascimento da criança. Inclui mudanças hormonais, amamentação, cuidados em tempo integral com o bebê, privação de sono. Pode envolver também uma série de questões psicológicas, como depressão. Cada mulher enfrenta essas mudanças de forma única.
O fato é que “ao chegar em casa com um bebê nos braços”, a rotina de uma mulher será completamente diferente.
Os desafios impostos pela maternidade são a justificativa do movimento intitulado “mães arrependidas”. Com o slogan “amo meu filho, mas odeio ser mãe”, elas questionam o que chamam de imposição social pela maternidade.
O movimento se fundamenta no homônimo publicado pela socióloga israelense Orna Donath que entrevista mães que lamentam ter dado à luz.
Donah defende que a pressão social sobre a maternidade é muito grande e que, ao contrário do que indica o senso comum, as mulheres não são livres para decidir se querem ou não ter filhos. O resultado pode ser o arrependimento.
Paulliany afirma que entende esses movimentos como uma tentativa de transferir a responsabilidade pela criação de um filho.
A exemplo de tantas mãos na história da humanidade, Maria Fernanda, Paulliany e Flávia fariam novamente a escolha de serem mães.
Flávia chegou a tentar ao longo de cinco anos. Aos 35, ela e o marido conversaram e concluíram que serem pais era um passo muito importante para a família deles. A chegada da filha envolveu um tratamento de fertilização in vitro.
Após anos tentando, o desejo que inicialmente era não tão forte, foi crescendo.
Ao ver o rostinho de Rafaela pela primeira vez, a nova mãe não teve dúvidas:
“Foi um encontro. Minha filha é o amor da minha vida”, revela.
Maria Fernanda descreve o momento em que conheceu Beatriz como transformador.
Paulliany não tem dúvidas de que olhar o rostinho de Daniel pela primeira vez foi uma experiência espiritual:
A potência transformadora da maternidade persiste ao longo dos anos. Paulliany a descreve:
"Olhar no fundo dos olhos daquele bebezinho foi uma experiência espiritual. Era como se Deus dissesse: 'Filha, eu sempre te amei'."
“Eu vivo em estado de contentamento. Mas também há a luta contra pensamentos negativos, uma preocupação sem constante”, enfatiza.
E finaliza, afirmando:
“Ser mãe é uma oração sem cessar”.
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