As deportações de Trump mal começaram e já causam polêmica. A chegada dos brasileiros repatriados em Manaus usando algemas e correntes repercutiu em constrangimento diplomático entre os dois países.
O ministério da Justiça publicou uma nota no sábado, 25 de janeiro, em que destacou o “desrespeito aos direitos fundamentais dos cidadãos".
Os Estados Unidos têm como praxe algemas prisioneiros em voos de deportações, sob justificativa de evitar riscos.
Não foi a primeira vez que esta prática foi adotada com um grupo de imigrantes brasileiros.
Em setembro de 2021, o Ministério das Relações Exteriores pediu que não fossem mais utilizadas algemas em repatriados para o Brasil.
Na época, um número expressivo de brasileiros foi preso ao tentar entrar nos Estados Unidos pela fronteira com o México por rotas alternativas. O governo brasileiro não conseguiu chegar a um acordo com a então gestão Joe Biden sobre a questão.
Um ano depois, já na gestão Bolsonaro, outro grupo de brasileiros foi “devolvido” usando algemas, o que causou um constrangimento grave entre o governo Bolsonaro e a diplomacia americana sob Biden.
Um grupo de brasileiros entrevistados pela Folha de São Paulo em dezembro de 2021 relataram uma realidade de humilhação e maus tratos na viagem. O agricultor André Luiz Pereira do Vale, da região de Governador Valadares, em Minas Gerais, afirmou:
"Eles [agentes de segurança] tratam a gente mal, [com] falta de educação, agridem verbalmente porque não podem encostar na gente. Eu não entendia muito bem o que diziam, mas o tempo todo eles gritavam 'fuck you, shit'".
Vale afirmou que, diante das ofensas e agressões, recorreu à fé. ao longo do voo, fazia pregações para os venezuelanos:
"Foi Deus que me ajudou e me sustentou. Eu sempre tive fé, mas não conhecia Deus como conheci lá".
A mesma reportagem cita também o caso da estudante Melissa de Carvalho, moradora da Serra (ES). No relato, ela revelou que ficou em uma cela superlotada, onde recebeu tratamento indigno.
"Cutucavam a gente, e os deboches eram muito com o olhar, para a roupa, o tênis. Debocharam do meu cabelo. Meninas tinham a menstruação correndo pelas pernas e as agentes riam, controlavam até o papel higiênico.”
Um total de 3.660 brasileiros foram deportados entre o final de janeiro de 2023 e a primeira quinzena de 2025. De acordo com o levantamento do Poder 360, nos 32 voos que chegaram ao aeroporto de Confins, cerca de 3,5 mil foram repatriados.
Após a posse de Donald Trump como presidente dos EUA, o primeiro voo com deportados pousou em Manaus devido a falhas técnicas no sistema de ar-condicionado da aeronave. Como reação, o governo brasileiro decidiu buscar os deportados em Manaus, em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), uma vez que as autoridades americanas insistiam em concluir a viagem até Minas Gerais algemados.
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Deportação foi definida em acordo com presidente Temer em 2017
Em 2017, os governos do Brasil e dos Estados Unidos firmaram um acordo de deportação entre o Brasil de brasileiros que visa a repatriação de brasileiros que estavam em situação irregular no país.
Isso significa que as atuais deportações não têm relação com as atuais medidas migratórias implementadas por Trump, mas são uma continuação de um entendimento bilateral anterior.
A crise diplomática não ocorreu pelas deportações, mas pelo alegado uso das correntes e algemas.
Ao receber o grupo, o ministro da Justiça brasileiro, Ricardo Lewandowski, ordenou a remoção das algemas e criticou a prática, descrevendo-a como uma violação dos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros.
Em uma nota oficial emitida neste domingo, o Itamaraty declarou que a conduta americana é "inaceitável" e informou que solicitará esclarecimentos do governo dos EUA sobre o ocorrido.
"O uso indiscriminado de algemas e correntes contraria os termos acordados com os EUA, que garantem tratamento digno, respeitoso e humano aos repatriados", declarou o comunicado.
Na segunda-feira, dia 27 de janeiro, o ministro disse que não quer criar atrito com o governo Trump, mas que pede que as deportações sejam feitas com pleno respeito aos direitos humanos:
“Tivemos uma reação muito sóbria. Não queremos provocar o governo americano, até porque a deportação está prevista em tratado. Mas, obviamente, essa deportação tem que ser feita com respeito aos direitos fundamentais das pessoas, sobretudo daqueles que não são criminosos”, disse durante um evento empresarial em São Paulo.”
Informações de bastidores confirmam que Lewandowski levou o caso a Lula, que solicitou uma reunião com o ministro Mauro Vieira, para discutir a questão,
O problema se tornou ainda mais grave após o presidente colombiano, Gustavo Petro, recusar a chegada de dois aviões americanos repatriados. Trump então implementou uma série de sanções contra a Colômbia, entre as quais a cobrança de tarifas emergenciais de 25% sobre produtos colombianos e a suspensão de vistos para funcionários do governo Petro.
O presidente enfatizou que também iria taxar produtos dos Estados Unidos, mas acabou aceitando “irrestritamente” receber o avião com deportados, após intensa negociação diplomática.
Após o incidente, Gustavo Petro convocou uma reunião de emergência com o objetivo de discutir as deportações. Na quinta-feira, dia 30 de janeiro, estarão presentes diversos países membros da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) na quinta-feira (30) em Honduras. Lula confirmou presença no encontro por videoconferência.
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