Na Cidade Maravilhosa, uma dura realidade domina o cotidiano: a disputa de território para se tornar a maior facção do Rio de Janeiro.
Tiros, assaltos, assassinatos e diversos outros crimes são utilizados como estratégia para dominar e conquistar novos territórios e assim expandir o poder. Nessa disputa, o vencedor é o Comando Vermelho.
No ano de 2020, a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro revelou que, das 1.413 comunidades do Rio de Janeiro, 828 estavam sob o controle do Comando Vermelho, a maior facção criminosa do estado. O número representa quase 60% do total de favelas.
O Comando Vermelho Rogério Lemgruber, mais conhecido como Comando Vermelho, é a maior facção do Rio de Janeiro e uma das maiores do Brasil. A facção também é conhecida pelas siglas CV e CVRL.
Foi fundada no final da década de 1970, especificamente em 1979, no Instituto Penal Cândido Mendes, na Ilha Grande, Angra dos Reis, durante a Ditadura Militar.
Chamado inicialmente de Falange Vermelha, o grupo usou da solidariedade como ferramenta, instituindo um “caixa comum” para financiar tentativas de fuga e melhorar as condições carcerárias.
Este movimento se transformaria no Comando Vermelho (CV), um gigante no mundo do crime.
Entre os principais fundadores do CV estão três detentos do Instituto Penal Cândido Mendes.
Ele chegou ao Instituto Penal Cândido Mendes em 1971. No presídio, William destacou-se por representar os presos, escrevendo petições e cartas para as autoridades.
Condenado por crimes como assaltos a banco, extorsão e sequestro, suas penas somaram 95 anos e seis meses.
Ele cumpriu mais de 30 anos em regime fechado e passou seus últimos dias em regime aberto, monitorado por tornozeleira eletrônica até sua morte em 2019.
Entrou no mundo do crime ainda jovem. Aos 19 anos, foi preso por porte ilegal de arma e, posteriormente, por tráfico de drogas.
A sua vida foi marcada por constantes prisões e fugas. Em 1984, sobreviveu a uma grande operação policial que resultou na queda de um helicóptero.
No ano seguinte, foi capturado na Favela do Jacarezinho e levado ao presídio de Ilha Grande. Apesar de sua notoriedade, Escadinha usufruía de regalias mesmo atrás das grades.
Assaltante de banco de Senador Camará, foi preso em 1972 e levado para a Ilha Grande, onde se tornou um dos organizadores do Comando Vermelho. Em 1980, fugiu do presídio, mas foi recapturado em várias ocasiões.
Lemgruber passou boa parte de sua vida no cárcere e faleceu em 1992 por complicações de saúde. Durante sua última hospitalização, o local sofreu forte reforço de segurança por risco de resgate.
Com o fim da Ditadura, o grupo partiu para um novo empreendimento: as atividades ilícitas, principalmente o tráfico de drogas, se tornaram o foco principal.
A facção começou a adquirir uma estrutura que, apesar de menos hierárquica do que outras, permitia uma eficiente rede de poder e influência.
Ao longo das décadas de 1980 e 1990, o Comando Vermelho não só consolidou sua presença no Rio de Janeiro, controlando áreas estratégicas como a Rocinha e o Complexo do Alemão, como também expandiu sua influência para além das fronteiras do estado.
Com presença registrada em 13 estados brasileiros e no Distrito Federal, a maior facção do Rio de Janeiro se tornou um nome de peso no cenário nacional do crime organizado controlando territórios, promovendo o narcotráfico e estabelecendo alianças.
No Acre, o Comando Vermelho se estabeleceu como uma força predominante, aproveitando sua proximidade geográfica com produtores de cocaína no Peru e Bolívia.
Este cenário internacional fortaleceu ainda mais o domínio do CV no comércio de drogas.
A trajetória de crescimento do Comando Vermelho não foi sem desafios. No Rio de Janeiro, a facção enfrentou a rivalidade feroz de grupos como as milícias locais, o Terceiro Comando Puro (TCP) e os Amigos dos Amigos (ADA).
Nacionalmente, disputas territoriais frequentes com o Primeiro Comando da Capital (PCC) estabeleceram um ambiente de conflito contínuo.
Recentemente foi noticiado que Lideranças do Comando Vermelho e do PCC estariam negociando uma trégua para pensar em estratégias para pressionar o governo.
Segundo o portal Metrópoles, o objetivo seria pressionar o governo federal a mudar regras do sistema carcerário.
Ainda assim, o Comando Vermelho se mantém como um dos grupos mais fortes no confronto pelo domínio.
Ao contrário de outras facções, a estrutura do Comando Vermelho é descentralizada. O CV é composto por "donos do morro", líderes locais que dominam territórios específicos.
As decisões são tomadas de modo coletivo através de alianças entre esses líderes. Essa autonomia regional permite uma flexibilidade que se provou eficaz para a sobrevivência e expansão da facção.
O foco principal do Comando Vermelho permaneceu no tráfico de drogas e armas, áreas que garantem um fluxo contínuo de receita.
Além disso, sua capacidade de gerenciar esquemas complexos de lavagem de dinheiro e outras atividades ilegais é impressionante, garantindo a continuação de sua influência no submundo do crime.
Os símbolos do Comando Vermelho tem o papel de:
Sigla CV: amplamente empregada como forma abreviada para designar o Comando Vermelho em grafites, mensagens e comunicações internas da facção.
Foice e Martelo: este é um dos símbolos mais antigos associados ao Comando Vermelho, refletindo suas raízes comunistas e sua conexão com ideais revolucionários.
Cor Vermelha: um distintivo visual significativo da facção, que simboliza não só o nome da organização, mas também sua identidade e coesão como uma força criminosa.
A presença do Comando Vermelho nas comunidades dominadas vai além do simples controle territorial.
Em áreas marcadas pela ausência do Estado, o CV estabeleceu sistemas de governança que oferecem proteção e alguns serviços básicos, em troca de lealdade.
Esse modelo de operação ajudou a firmar a autoridade da facção, criando um vínculo social e econômico com as populações locais que, muitas vezes, interpretam o Comando Vermelho como um prestador de serviços sociais que o Estado algumas vezes negligencia.
A influência da maior facção do Rio de Janeiro também se estende à cultura popular. A facção é frequentemente retratada em músicas que descrevem a realidade vivida nas comunidades sob seu domínio.
Trecho da música 'Vermelhão - Faixa de Gaza' do MC Orelha:
“Nóis planta humildade pra colher poder, a recompensa vem logo após
Não somos fora da lei porque a lei quem faz é nós
Nós é o certo pelo certo, não aceita covardia
Não é qualquer um que chega e ganha moral de cria
(...)
Por isso eu vou mandar, por isso eu vou mandar assim
Comando Vermelho, RL até o fim
É vermelhão desde pequeninin
Só menor bolado nas favela do baixinho”.
A literatura e o cinema também exploraram a origem e evolução da facção, oferecendo ao público um olhar sobre a humanidade de seus integrantes e o impacto devastador de suas atividades.
Obras como "400 x 1 – Uma História do Comando Vermelho" ou filmes que retratam sua ascensão no submundo prisional são exemplos marcantes.
O combate ao Comando Vermelho é um constante desafio para as forças de segurança pública.
Em 2023, a Operação Rota do Rio, uma ação significativa, foi realizada para desarticular uma das principais redes de fornecimento de drogas geridas pelo CV.
A operação contou com o apoio da Unidade de Inteligência Financeira do Governo Federal (UIF) e visava desmantelar a infraestrutura financeira da facção, essencial para a continuidade de suas operações criminosas.
Durante essa movimentação, mandados de busca e apreensão foram cumpridos em diversas localizações estratégicas, resultando na prisão de líderes de alto escalão e apreensão de drogas.
Tais esforços são vistos como cruciais na tentativa de enfraquecer o Comando Vermelho e reduzir sua influência nas comunidades.
Apesar dos esforços contínuos das autoridades, o Comando Vermelho continua sendo um dos grupos armados que mais ganha e perde territórios.
Análises revelam que essa dinâmica instável se deve à natureza adaptável e descentralizada da facção, o que dificulta sua completa destruição.
Assim, surgem discussões sobre a eficácia das estratégias adotadas até agora e sobre a necessidade urgente de abordar questões sociais mais amplas.
Em entrevista para o documentário Entre Lobos, o policial Rodrigo Pimentel:
“Será que vale a pena essas operações policiais para enfrentar o tráfico? Não é só do tráfico que o Comando Vermelho sobrevive. Hoje, sobrevive de roubo de carga, de extorsão de moradores, de venda de maconha e cocaína e de venda de cigarro vindo do Paraguai. Essas são as fontes de renda no Comando Vermelho“.
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