“O movimento abolicionista brasileiro foi um movimento popular e a população brasileira estava toda esperando que isso acontecesse. Talvez, com a exceção de alguns senhores de engenho, o restante da sociedade estava envolvido com isso, esperavam acontecer. Todo aquele contexto já não funcionava mais, os castigos públicos, aquela coisa de você castigar seu escravo e toda aquela ideia de que o escravo deve ser tratado a ferro e fogo, tudo aquilo já era uma coisa que incomodava muito a sociedade. A sociedade em geral não aceitava aquilo”.
Este trecho é uma parte da fala do professor Paulo Cruz na série “Brasil — A Última Cruzada”. Ele destaca como o Abolicionismo no Brasil contou com grande comprometimento da sociedade civil.
Conheça o Abolicionismo no Brasil: como ocorreu, suas ideias, características e seu desenvolvimento histórico.
O Abolicionismo é um movimento político e social que surgiu no final do século XVIII, na Europa, com o objetivo de pôr fim à escravidão e combater todas as estruturas que a favorecessem.
Ele ganhou força com o advento do iluminismo, baseado nas ideias de liberdade individual e dos direitos naturais do homem: a liberdade, a segurança e a busca da felicidade.
No Brasil, o ideal surge com força na segunda metade do século XIX e colaborou com o fim da escravidão no país.
Suas ideias consistem na abolição total e imediata da escravidão, de modo que os ex-escravos sejam indenizados, inseridos na sociedade e a abolição tenha respaldo legal na lei, para que nenhuma brecha jurídica permita algo análogo a escravidão.
O movimento abolicionista reúne todos os grupos, ideias e pessoas que lutam contra a escravatura. A primeira organização oficial a lutar por isso foi a Sociedade Abolicionista, da Grã-Bretanha, fundada em 1787.
Em 1807, os britânicos decidiram abolir o comércio de escravos em suas colônias. Por volta de 1833, todos os escravos das colônias britânicas do hemisfério ocidental haviam sido libertados.
Em 1788, em Paris, foi criada a Sociedade dos Amigos dos Negros, grupo presidido pelo respeitado pensador iluminista Condorcet.
Com a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, a ideia abolicionista se fortaleceu na França. O respaldo jurídico a fez alcançar até suas terras coloniais. Em 1848, a abolição da escravidão seria total em terras francesas.
No continente americano, as leis abolicionistas vieram em conjunto com os processos de emancipação política, como na Colômbia, na Argentina e no México.
Já nos Estados Unidos, os estados do norte haviam adotado o regime de trabalho livre e abolido a escravidão, que perdurava no sul.
Após a Guerra de Secessão, em 1865, o presidente Abraham Lincoln aboliu a escravidão em todo o país.
Na América Latina, o último a abolir a escravidão foi o Brasil. Essa luta contou com uma enorme articulação popular e política.
O Abolicionismo no Brasil agrupou pessoas de diferentes grupos e classes que agiam de diversas maneiras na luta pela abolição da escravatura. A aprovação da Lei Áurea foi uma conquista popular, fruto do crescimento que o movimento abolicionista teve na segunda metade do século XIX.
A partir da década de 1870 há no Brasil uma proliferação de associações abolicionistas em diferentes partes do país. Os grupos adotavam diferentes métodos, mas convergiam no objetivo.
O debate alcançou inclusive os círculos da política brasileira. Entre 1878 e 1885 surgiram cerca de 227 sociedades abolicionistas e algumas figuras ganharam destaque, como: André Rebouças, Luís Gama, José do Patrocínio, Joaquim Nabuco, Castro Alves.
Suas ações eram diversas, quais sejam:
Eram várias as possibilidades de atuação no movimento abolicionista. Uma delas que ganhou grande destaque foi no campo jurídico. Muitos advogados venciam causas em favor dos escravos e conquistavam-lhes, ou a alforria, ou melhores condições de trabalho.
No campo literário, os folhetos e as publicações de livros e artigos em jornais pela abolição eram constantes. Alguns jornais se destacaram nessa produção intelectual:
Todas essas ações se enquadravam na luta legal pelo fim da escravidão. Havia, no entanto, artifícios considerados ilegais pelas leis da época.
Os abolicionistas incentivaram a fuga de escravos e davam abrigo aos que fugiam. Uma ação comum foi o transporte de escravos fugidos para o Ceará — estado que aboliu a escravidão em 1884. Existia também o “sequestro” de escravos que estavam em transporte ou que seriam embarcados para algum lugar do Brasil.
Alguns grupos chegaram a defender a luta armada para pôr fim na escravidão.
A associação abolicionista de maior destaque da história brasileira foi a Confederação Abolicionista, grupo criado por José do Patrocínio e André Rebouças, em 1883. Ela defendia uma abolição irrestrita e imediata, sem indenização para os senhores de escravos, e atuou na coordenação da campanha abolicionista a nível nacional.
Outro grupo que merece destaque é o do Quilombo do Leblon. O atual bairro de luxo da cidade do Rio de Janeiro era um renomado quilombo aonde alguns escravos fugiam.
O Quilombo do Leblon era sustentado pela Princesa Isabel, dada a sua dedicação e devoção à causa do Abolicionismo.
É por conta deste quilombo que a flor camélia, uma bela flor branca, tornou-se símbolo da luta abolicionista. Pois os seus moradores cultivavam esta flor.
Vários nomes foram cruciais para o Abolicionismo no Brasil.
“A relação da família imperial com os negros brasileiros de sua época e com a abolição é algo que é pouco explorado porque o movimento negro apagou essas figuras, ou tenta apagar, na época em que alçaram Zumbi como grande referencial em relação a negritude brasileira. Então a figura imperial foi apagada, pois no fim das contas, eles não são negros. Mas tudo bem, eles apagaram Rebouças, José do Patrocínio, apagaram todo mundo e deixaram só o Zumbi”. Paulo Cruz
Os abolicionistas atuaram em diversos campos. Sua ação foi importante para:
Até que fosse conquistada a libertação total dos escravos por meio da Lei Áurea, várias outras leis pavimentaram o caminho.
Ao longo da segunda metade do século XIX e à medida em que o Abolicionismo ganhava força, o debate político foi sendo envolvido por essa pauta. As mudanças aconteceram de maneira gradual por dois motivos: o interesse da elite econômica em estender a utilização dos trabalhadores escravos e a prudência dos políticos brasileiros em promover uma lenta transição ao trabalho livre.
As mudanças nas leis escravistas começam em 1845, quando a Inglaterra sanciona a Lei Aberdeen, que permitia à marinha apreender qualquer navio que praticasse o tráfico de escravos no Atlântico.
O alvo principal dos ingleses eram os navios brasileiros. A lei indispôs os dois países. Os políticos brasileiros consideram-na uma afronta à soberania nacional.
Porém, a Inglaterra contava com uma marinha mais forte e o Brasil optou por não entrar em conflito. Assim, sancionou a Lei Eusébio de Queiroz em 1850, a primeira lei abolicionista de uma série que estava por vir.
Ela proibiu o tráfico de escravos e a chegada deles em navios negreiros. Em 1856 o tráfico já havia zerado, restavam apenas os escravos que já tinham sido trazidos para o Brasil.
A próxima lei abolicionista veio em 1871, e ficou conhecida como Lei do Ventre Livre. Ela decretava que filhos de escravos nascidos no Brasil a partir de 1871 fossem livres. Ou eram libertos aos 8 anos e o senhor seria indenizado, ou aos 21 conquistava sua alforria sem qualquer preço.
Em 1885, surge a Lei dos Sexagenários. Ela estabelecia que todos os escravos acima de 60 anos fossem alforriados depois de terem prestado pelo menos 3 anos de serviço para o seu senhor.
Por fim, no dia 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel sancionou a Lei Áurea, que abolia definitivamente a escravidão no Brasil. A lei libertou cerca de 700 mil escravos que ainda viviam em cativeiro no Brasil.
A abolição foi motivo de uma grande festa na nação brasileira.
“Apesar de eu pensar o movimento abolicionista como um movimento popular mesmo e não como um movimento do Império, acho que o Império aderiu ao movimento abolicionista. Então aquelas pessoas, o Patrocínio, o Nabuco, o Rebouças, o Taunay e muitas daquelas figuras do parlamento brasileiro e das figuras públicas encabeçaram movimentos, e o Império sempre veio junto com esses movimentos, andando junto com eles. Tanto é que o Dom Pedro ficou feliz. Apesar de muito doente, debilitado e fora do Brasil, ele mandou as felicitações para a Princesa Isabel por ter enfim assinado a Lei Áurea”.
A abolição transformou-se num caminho sem retorno, quando o exército, em outubro de 1887, manifestou-se em petição à princesa Isabel, solicitando a dispensa de perseguir os escravos fugidos.
Em 13 de maio de 1888, depois de tramitar na Câmara e no Senado, a lei que abolia a escravidão foi levada à sanção da Princesa Isabel, que então exercia a Regência no lugar do pai. A Lei Áurea libertou cerca de 700 mil escravos que ainda havia no país.
Foi a grande conquista do Abolicionismo no Brasil. O evento foi amplamente comemorado, as festas duraram uma semana, com celebrações, discursos, missas de ação de graças e muita euforia popular.
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