Após mais de um século do descobrimento do Brasil pelos portugueses e após o rei da Espanha tornar-se também rei de Portugal, a Holanda decidiu ocupar o nordeste brasileiro. Entre os administradores dessa colônia destaca-se o Conde Maurício de Nassau.
João Maurício de Nassau, militar e aristocrata nascido na região da atual Alemanha, foi convidado a assumir o governo da colônia holandesa no Brasil por sua experiência militar e linhagem nobre.
Sob seu comando, houveram progressos econômicos e militares no nordeste brasileiro tais como:
A estadia de Maurício de Nassau no nordeste brasileiro deixou marcas na cultura e na arquitetura local. Neste artigo serão explorados alguns pontos sobre sua influência e administração enquanto governador do Brasil Holandês.
Para conhecer mais sobre a história do Brasil e entender os principais eventos que contribuíram para a consolidação da identidade brasileira, assista à série Brasil: a Última Cruzada, para um aprofundamento no tema.
João Maurício de Nassau-Siegen, nascido em 17 de junho de 1604 em Dillenburg, então parte do Sacro Império Romano-Germânico, foi o primeiro filho do segundo casamento de João VII, conde de Nassau-Siegen, com Margarida de Schleswig-Holstein-Sonderburg.
Maurício foi o 13º de 25 filhos e recebeu uma educação voltada para sua posição na aristocracia.
Em seu livro, Nassau: O governador do Brasil holandês, o historiador Evaldo Cabral de Mello relata que, aos dez anos, Maurício de Nassau ingressou na Universidade da Basileia, conhecida desde os tempos de Erasmo de Roterdã.
Embora fosse um centro calvinista, a universidade também estava sob influência de Castellion, um dos principais opositores de João Calvino. Essa influência pode ser observada nas atitudes de tolerância religiosa adotadas por Maurício de Nassau no Brasil Holandês.
Evaldo Cabral relata que Nassau também estudou por seis meses em Genebra, onde o rigor calvinista era moderado pela influência do teólogo Théodore de Bèze.
Em 1616, passou a estudar no Collegium Mauritianum, fundado por Maurício de Hesse-Kassel, destinado a jovens da nobreza protestante.
No Collegium, Maurício de Nassau estudou francês e italiano, que lhe seriam úteis para compreender o português, além de História, Música e Teologia, com influências do humanismo e do calvinismo. Em 1621, iniciou sua carreira militar a serviço dos Países Baixos.
Incentivado por seu tio, Conde Willem Lodewijk Van Nassau-Dillenburg, Maurício de Nassau iniciou seu treinamento militar nos Países Baixos.
Durante sua carreira militar, obteve prestígio e patentes, participando de campanhas como a Guerra dos Oitenta Anos, entre os Países Baixos e a Espanha, e a Guerra dos Trinta Anos, entre católicos e protestantes.
Em 1632, destacou-se ao liderar com sucesso o cerco de Schenkenschans, reconquistando a cidade que estava sob controle espanhol.
Esse feito aumentou seu prestígio e, junto com sua educação aristocrática e parentesco nobre, levou ao convite da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais para administrar a colônia holandesa no Brasil, com o título de Governador e Comandante-Chefe.
Evaldo Cabral de Mello relata em seu livro O Brasil Holandês:
“Todos o desejavam nesse posto porque, prático na milícia europeia, sob o príncipe de Orange, reconquistara, com sua dedicação e diligência, o que antes dele ninguém conseguira, a praça de Schenken, a qual, situada no divórcio das águas do Reno, defende a Batávia. Gozava ele por isso o favor público dos holandeses, acrescendo a esses títulos o lustre de sua família, ligada pelo sangue aos imperadores [do Sacro Império Romano Germânico] e por matrimônios aos reis, além da autoridade, da galhardia, da lealdade, da boa fortuna e de outras muitas virtudes e honras. Tudo isso exigia que ele fosse arrastado sem detença ao comando supremo e não consultado em longas deliberações. “
Para entender a presença holandesa no Brasil e como Maurício de Nassau se tornou governador da colônia no nordeste, é necessário considerar o contexto da União Ibérica, que facilitou a ocupação holandesa.
Em 1578, o rei de Portugal, Dom Sebastião, desapareceu em combate no norte da África, gerando uma crise sucessória que resultou na coroação do rei de Castela como rei de Portugal, unindo os dois tronos.
Embora a Holanda tivesse boas relações com Portugal, a situação era diferente com a Espanha, com quem os holandeses estavam em conflito há anos.
Com a unificação das coroas de Portugal e Espanha, os holandeses decidiram atacar o nordeste do Brasil, buscando controlar a produção de açúcar.
Com o objetivo de fortalecer economicamente a região, abalada pelo conflito entre portugueses e holandeses, Maurício de Nassau partiu do porto de Texel, na Holanda, em 25 de outubro de 1636, com destino ao Brasil.
Maurício de Nassau chegou a Pernambuco em 23 de janeiro de 1637, acompanhado por 2.700 soldados e funcionários da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais.
Além das forças militares e administrativas, ele trouxe artistas e cientistas com o objetivo de estudar as terras sob seu controle e retratar o Brasil de forma artística.
Ao chegar, organizou uma expedição militar para expulsar os luso-hispano-brasileiros das áreas ao sul do Rio São Francisco, alcançando sucesso nessa empreitada. Após consolidar sua posição militar, iniciou a organização de seu governo na colônia.
Adriaan Van Der Dussen, membro do conselho do Conde de Nassau, relata a estrutura do governo de Maurício de Nassau da seguinte maneira:
“O governo do Brasil compõe-se de três conselhos, a saber: o primeiro, o Alto e Secreto Conselho, do qual é presidente S. E. João Maurício, conde de Nassau, como governador, capitão e almirante geral do Brasil, e onde são tratados os assuntos referentes ao Estado, ao governo civil e à guerra. O segundo, o Conselho Político ou Conselho de Justiça. O terceiro, os Conselhos ou Câmaras de Escabinos, em suas respectivas jurisdições [...] Os Conselhos subalternos de justiça compõem-se de escabinos anualmente escolhidos de uma lista tríplice organizada pelos eleitores de cada jurisdição. S. E. e os Altos Conselheiros escolhem cinco, que prestam juramento e aos quais se ajunta um secretário [...] Em cada jurisdição, há também um escolteto que zela pelos direitos da Companhia, fazendo inquéritos a respeito de todos os abusos e com os demais encargos que lhes são atribuídos na pátria [...] Além das Câmaras de Escabinos, há ainda, em cada jurisdição, uma Curadoria de Órfãos, composta de dois portugueses e um holandês, e de um secretário”.
As primeiras medidas de Maurício de Nassau como governador da colônia holandesa no nordeste brasileiro buscaram reestruturar economicamente a região, que havia sido prejudicada pelos gastos com as batalhas contra os portugueses.
Para melhorar a situação econômica e militar do território, o Conde de Nassau adotou as seguintes ações:
Além de oferecer créditos aos proprietários de engenhos, Maurício de Nassau também vendeu engenhos que haviam sido abandonados pelos portugueses. Ele retomou o comércio de escravos africanos, uma prática que impulsionava a produção de açúcar, ao mesmo tempo em que manteve boas relações com os indígenas.
Para garantir o abastecimento de alimentos na colônia, incentivou o plantio de mandioca, produto básico para a subsistência local. Além disso, promoveu a urbanização das áreas sob controle holandês, melhorando a infraestrutura e organização das cidades.
Maurício de Nassau também conduziu campanhas militares para expandir os domínios holandeses no nordeste brasileiro, consolidando o poder da colônia.
Maurício de Nassau, conhecido por sua erudição e por ser adepto do humanismo, incentivou o crescimento urbano e científico da colônia holandesa no Brasil. Apesar de dedicar esforços aos empreendimentos econômicos e culturais, ele também realizou ofensivas militares para expandir o território.
Logo no início de sua estadia, Nassau enfrentou os luso-brasileiros e os expulsou para além do Rio São Francisco, estabelecendo o rio como limite do Brasil Neerlandês.
No entanto, após uma batalha com as tropas de Bagnoli em Sergipe, percebeu que o Rio São Francisco não oferecia a proteção natural esperada, e a presença portuguesa na Bahia continuava sendo uma preocupação estratégica.
Nassau expandiu o domínio holandês para Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, estabelecendo alianças com tribos indígenas hostis aos luso-brasileiros.
Ao retornar a Recife, soube que uma armada luso-hispânica estava a caminho, liderada pelo Conde da Torre, D. Fernando Martins de Mascarenhas, com o objetivo de restaurar o controle português no nordeste.
Decidido a neutralizar a ameaça, Nassau tentou conquistar a Bahia. Embora a campanha não tenha sido um sucesso militar, ele conseguiu capturar um significativo espólio, evitando um fracasso completo da Companhia Neerlandesa.
No entanto, esse evento marcou o início de desentendimentos entre Nassau e a Companhia das Índias Ocidentais.
Em 1640, com a coroação do Duque de Bragança como Rei João IV de Portugal, encerrou-se a crise sucessória entre Portugal e Espanha, restabelecendo a independência de Portugal.
Esse novo cenário acelerou os planos de Maurício de Nassau, que, diante da iminência de um tratado entre Amsterdã e Lisboa, buscou expandir os domínios holandeses de forma secreta, incluindo a conquista de territórios em Angola e São Tomé.
Segundo o historiador Evaldo Cabral de Mello, autor do livro Brasil Holandês, a queda do domínio neerlandês no Brasil começou em 1642, apesar dos esforços de Nassau para garantir benefícios para a colônia por meio da diplomacia.
Nassau percebia que a independência de Portugal representava uma ameaça para o Brasil Holandês, já que o novo contexto político facilitava a retomada do território pelos portugueses.
Durante o governo de Maurício de Nassau, a colônia holandesa no Brasil alcançou seu auge. Nassau consolidou um exército em Pernambuco e anexou outras capitanias, como Ceará, Sergipe e Maranhão. No entanto, sua tentativa de anexar a Bahia não teve sucesso.
Diz Evaldo Cabral de Mello:
"A política de conciliação que adotou e sua peça fundamental, a tolerância da religião católica, eram certamente um imperativo da dependência em que se achava a produção de açúcar em relação aos senhores de engenho, lavradores de cana e artesãos da nação portuguesa. Mas não se deve afirmar grosseiramente que a atitude de Nassau e das autoridades batavas decorresse apenas das exigências do sistema produtivo. A liberdade de consciência era doutrina oficial da República dos Países Baixos e assim foi proclamada na sua carta fundamental, a União de Utrecht.”
Após a derrota na Bahia e desentendimentos com a Companhia das Índias Ocidentais, começaram a circular rumores entre as cortes holandesas e o governo da colônia brasileira sobre a forma como o Conde de Nassau geria seus gastos.
Em 1642, Maurício de Nassau escreveu às cortes holandesas:
“Soube de muito boa fonte que, na pátria, não cessam de bradar contra minhas despesas extraordinárias e de dizer que eu esgotava os recursos da Companhia. É penoso saber que se é difamado desta maneira quando todo o mundo sabe que durante esses cinco anos me tenho alimentado de ervilhas, favas, toucinho e carne estragada, vivendo tão miseravelmente que, entre os portugueses, minha pessoa e meu título têm sido expostos ao ridículo e ao desprezo [...] É verdade que minhas despesas com alimentação, comparativamente ao que poderiam custar nos Países Baixos, podem parecer elevadas, mas não devo ser responsabilizado por tal. É preciso considerar que tudo aqui é seis vezes mais caro e que uma mesa, como a que mantenho aqui, na pátria custaria apenas 15 mil florins”.
Embora tenha tentado adiar sua saída do governo da colônia, em 1643, Maurício de Nassau, apesar dos avanços que havia realizado na colônia holandesa, recebeu uma carta de dispensa da Companhia das Índias Ocidentais.
Em 1644, ele desembarcou em Texel, na Holanda, trazendo consigo uma vasta coleção de obras de arte.
Após retornar à Holanda, Maurício de Nassau estabeleceu-se em Haia e continuou a participar de campanhas militares, incluindo a Guerra dos Trinta Anos.
Seus serviços lhe garantiram o título de Marechal de Campo e o cargo de Governador da região do Sacro Império Romano-Germânico conhecida como Cleves, além das regiões de Mark e Ravensberg.
Foi também elevado ao título de Príncipe de Nassau-Siegen, na atual Alemanha, pelo rei Fernando III.
Frei Manuel Calado menciona em seus escritos que o Conde de Nassau não se casou, apesar de ter tido amantes no Brasil, que eram companheiras de seus colegas de governo ou funcionários.
Maurício de Nassau residiu em Cleves até o final de sua vida e faleceu em 20 de dezembro de 1679, sem deixar herdeiros.
Maurício de Nassau, ficou marcado na história como o principal governador da colônia holandesa no Brasil. Com sua formação aristocrática e humanista, influenciou o nordeste brasileiro, deixando traços que ainda são percebidos na cultura local.
Com sua experiência militar, anexou importantes capitanias ao seu território, embora não tenha conseguido tomar o território baiano, que seria estratégico para o sucesso da colônia holandesa no Brasil.
Embora sua estadia no Brasil não tenha sido longa, Maurício de Nassau desempenhou um papel importante na reestruturação da região, que havia sofrido economicamente devido a conflitos e desentendimentos entre portugueses e holandeses.
A presença holandesa no Brasil marcou o século XVII, e sua expulsão contribuiu para o desenvolvimento da identidade nacional brasileira, como abordado no segundo episódio da série Brasil: A Última Cruzada.
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