Gastrólogo com Especialização na Le Cordon Bleu Paris. Professor com mais de 40 mil alunos. Empresário e especialista em marketing, inovação e estratégias para redes sociais.
Nos últimos dois anos, o cenário econômico no Brasil sofreu uma reviravolta, especialmente quando se trata do custo de vida.
Com a volta de Lula à presidência e Fernando Haddad à frente do Ministério da Fazenda, a inflação disparou, afetando diretamente o preço dos alimentos e das refeições fora de casa.
A inflação acumulada em 2023 ultrapassou os 2%, e a alta continua. Isso tem um impacto direto no bolso do trabalhador, especialmente quando o custo de uma refeição fora de casa aumentou cerca de 1% em poucos meses (Revista Oeste).
Esse aumento pode parecer pequeno à primeira vista, mas quando somado ao longo de semanas e meses, o impacto é considerável.
Com os salários estagnados, muitos trabalhadores se viram forçados a buscar alternativas mais econômicas para suas refeições diárias.
E é aí que entra a marmita: um hábito antigo, mas que, nos últimos meses, tem ganhado novos adeptos em todo o país.
Cozinhar em casa e levar a própria comida para o trabalho é uma solução prática, barata e, muitas vezes, mais saudável.
Segundo uma pesquisa recente da Galunion, realizada em agosto de 2024, cerca de 49% dos brasileiros afirmam que levam marmita para o escritório na maioria dos dias, enquanto 26% o fazem ocasionalmente.
Isso significa que, hoje, mais da metade da força de trabalho do país opta por preparar suas refeições em casa, seja para economizar ou para ter mais controle sobre o que consomem.
Essa mudança não passou despercebida pelas empresas, que começaram a se adaptar à nova realidade.
Escritórios que antes não tinham qualquer infraestrutura para apoiar os "marmiteiros" agora estão instalando micro-ondas, fornos elétricos combinados e até criando pequenos espaços de convivência onde os funcionários podem aquecer e consumir suas refeições.
Essa adaptação não é apenas uma questão de oferecer conforto aos colaboradores, mas também de reconhecer que o custo de vida impacta diretamente a vida de cada um deles.
Além do impacto financeiro, outro fator que tem levado as pessoas de volta à cozinha é a busca por uma alimentação mais saudável.
Quando cozinhamos em casa, sabemos exatamente o que estamos colocando no prato.
Não há surpresas desagradáveis, como conservantes, excesso de sal ou frituras. Pelo contrário, podemos escolher os melhores ingredientes, preparar alimentos frescos e evitar os ultraprocessados.
Comer fora de casa, especialmente em grandes centros urbanos, muitas vezes significa optar por aquilo que é rápido e acessível.
Isso se traduz em alimentos ricos em calorias e pobres em nutrientes:
Não por acaso, a obesidade e outras doenças relacionadas à má alimentação têm aumentado entre a população, enquanto a busca por uma alimentação consciente ainda engatinha.
A correria do dia a dia muitas vezes nos impede de fazer escolhas saudáveis, e o tempo dedicado ao almoço é frequentemente sacrificado em favor de prazos e reuniões.
Por isso, a volta das marmitas também representa uma nova consciência alimentar.
As pessoas perceberam que, ao cozinhar suas próprias refeições, não apenas economizam, mas também conseguem se alimentar de maneira mais equilibrada.
Ingredientes naturais, refeições caseiras e porções controladas fazem toda a diferença para quem quer cuidar da saúde sem abrir mão do sabor.
Com essa mudança de comportamento, muitos escritórios precisaram se reinventar.
Empresas que antes não ofereciam qualquer suporte para refeições passaram a investir em pequenas cozinhas equipadas com micro-ondas e fornos elétricos.
Afinal, o funcionário que traz sua própria refeição também precisa de um local adequado para aquecê-la e consumi-la com conforto.
Esses pequenos ajustes têm impacto direto no bem-estar e na produtividade dos trabalhadores.
Ter a possibilidade de trazer a própria refeição e dispor de um espaço adequado para comê-la, em um ambiente limpo e organizado, melhora a rotina de trabalho.
A pausa para o almoço, que muitas vezes era apenas uma formalidade, volta a ser um momento de descontração e cuidado pessoal, reforçando também os laços de convivência entre os colegas.
Se por um lado a crise econômica forçou mudanças, por outro, ela também trouxe novas oportunidades e uma maior conscientização por parte das pessoas.
A volta das marmitas não é apenas uma consequência da inflação; é também um reflexo de uma população que busca viver com mais equilíbrio, fazendo escolhas alimentares mais conscientes e, ao mesmo tempo, adaptando-se à realidade econômica.
As empresas, por sua vez, também estão se ajustando a essa nova fase, reconhecendo que proporcionar um ambiente de trabalho mais humano, onde o funcionário possa cuidar de sua alimentação, é uma maneira de valorizar e reter talentos.
A crise, de certa forma, obriga todos a se reinventarem — seja na forma de comer, de trabalhar ou de lidar com os desafios diários.
Em um cenário em que a inflação não dá sinais de trégua e a renda não acompanha o custo de vida, o brasileiro encontra maneiras de driblar as dificuldades, e a marmita se tornou um símbolo dessa resistência.
Afinal, em tempos difíceis, reinventar-se não é apenas uma opção, mas uma necessidade.