Dr. Marcello Danucalov é doutor em ciências (psicobiologia); Mestre em farmacologia; Filósofo Clínico Integral e Orientador Filosófico Familiar.
Paixão dominante é um termo utilizado em Filosofia Clínica Integral e representa um tópico que pode ou não habitar a estrutura de pensamento de uma pessoa.
Quando presente na psique, a paixão dominante fará com que o indivíduo se conecte emocionalmente com algo: um hobby; um esporte; uma atividade intelectual; uma droga; uma outra pessoa etc.
Para identificar uma paixão dominante, basta ficar atento ao discurso do apaixonado, pois o objeto do ardente entusiasmo estará presente em sua vida de maneira constante e poderá ser facilmente observado em sua comunicação e em seus comportamentos.
Como todos os tópicos que podem compor uma estrutura de pensamento, a paixão dominante não é, a princípio, nem boa e nem ruim, uma vez que é possível se apaixonar por coisas que nos elevarão ou que nos rebaixarão em termos de excelência humana.
Comecemos com as boas paixões dominantes. Passar uma vida inteira sem ser afetado por alguma delas pode ser perturbador.
Eu já atendi pessoas que chegaram à meia-idade perplexos por não terem encontrado algo que as fizesse vibrar; viveram suas vidas de maneira morna e por isso podem apresentar um olhar sem brilho e um comportamento pouco animado.
As causas para este desencontro são inúmeras, mas o descuido dos pais será sempre uma aposta provável.
Os pais podem errar de várias maneiras e uma delas é não se atentar para a importância de conceder aos filhos a possibilidade de encontrar uma paixão dominante na vida. Permita-me usar meu filho como exemplo.
Fui um pai presente na infância do Noa e sempre fizemos muitas coisas juntos, sendo uma delas desfrutar dos prazeres do mar.
Noa, começou a surfar quando ainda era bem pequenino e, gradativamente, foi nutrindo gosto pelo oceano e pelo deslizar sobre as ondas. Isso facilitou sua educação de inúmeras maneiras, e algumas delas estão listadas abaixo:
Como sua paixão requer esforço físico, afastou de si o fantasma do sedentarismo e do vício em tecnologias e videogames.
Por esses e outros motivos, eu sempre oriento os pais a fazer de tudo para que seus filhos encontrem o mais rapidamente possível algo que lhes toque a alma.
Quando isso ocorre, os problemas previsíveis da adolescência serão sensivelmente reduzidos. Lembre-se sempre, quanto maior for a paixão dominante de seu filho, menores serão as chances dele se envolver em confusões.
Um outro erro comumente cometido pelos pais é tentar fazer com que seus filhos se apaixonem pelas suas próprias paixões. É o caso do pai frustrado por não ter sido jogador de futebol e que deposita suas frustrações na esperança de que seu filho o redima.
Eu fui surfista profissional e ainda pego minhas ondinhas, mas nunca "forcei a barra" para que meu filho seguisse meu caminho. Ele o fez porque quis e a ele foram apresentadas outras potenciais paixões.
Por outro lado, todos os pais correm o risco de ver seus filhos se apaixonarem por atividades nada auspiciosas.
A adolescência é um período em que ocorrem inúmeras alterações cerebrais que amplificam o tédio e a impulsividade, e quando somadas à quase total ausência da virtude prudência podem ocasionar eventos desastrosos.
Sendo assim, é necessário cuidar diariamente das circunstâncias em que seus filhos estão inseridos, pois a força das más amizades muitas vezes é subestimada pelos pais.
Outro ponto importante a ser desenvolvido é a relação entre paixão dominante e vocação profissional. Não são poucas as pessoas que erroneamente acreditam existir uma correlação positiva entre esses dois aspectos da vida.
Contudo, nem toda paixão dominante terá força suficiente para se transformar em uma profissão prazerosa. Os testes vocacionais erram drasticamente quando investigam os gostos e as inclinações dos indivíduos e desprezam outros aspectos basilares importantíssimos.
É sempre bom lembrar que os processos e as rotinas de uma profissão podem ser bem menos prazerosos do que a prática ocasional da atividade passional. Vejamos alguns exemplos:
Enfim, uma paixão dominante não precisa se transformar em uma profissão e o oposto também é verdadeiro. Porém, quando isso ocorre, podemos afirmar que fomos agraciados pela vida.
Ajudar nossos filhos a encontrar uma paixão dominante e posteriormente checar com eles a possibilidade de transformá-la em uma profissão amada, é algo que os pais jamais deveriam deixar de fazer.
E você, tem alguma paixão dominante em sua vida?
Doutor em Ciências (psicobiologia);
Mestre em Farmacologia;
Filósofo Clínico Integral e Orientador Filosófico Familiar