Gastrólogo com Especialização na Le Cordon Bleu Paris. Professor com mais de 40 mil alunos. Empresário e especialista em marketing, inovação e estratégias para redes sociais.
Sem ao menos percebermos, vários alimentos são modificados com o tempo e passam a se tornar algo totalmente diferente do que foi originalmente, e o pior, passam a ter diversos ingredientes químicos e artificiais.
Não é difícil encontrarmos alimentos que eram naturais e passaram a ser ultraprocessados.
E sabe o que é pior? Ninguém está mentindo para você, porque as grandes indústrias conseguem alterar as legislações, e elas estão publicadas para quem quiser ver.
Ao fazerem as modificações nas embalagens, eles também colocam em letras pequenininhas, que quase não dão para ler, com a informação de “nova fórmula”.
Bom, cá estou para te salvar de novo!
Vamos começar entendendo o que diz a legislação sobre linguiça calabresa e tipo calabresa.
Linguiça Calabresa:
Definição: Embutido feito com carne suína, defumada, podendo ou não ser curada, condimentada principalmente com alho e pimenta calabresa.
Ingredientes Permitidos:
Linguiça “Tipo” Calabresa:
Definição: Embutido que imita as características sensoriais da linguiça calabresa tradicional, porém com mais flexibilidade em relação aos ingredientes usados.
Ingredientes Permitidos:
Como você pode ver, existe o produto original, que é a linguiça calabresa, um tipo de linguiça genuinamente brasileiro.
Ao contrário do que diz seu nome, a linguiça não vem da Calábria, na Itália, mas obviamente que teve inspiração nos embutidos feitos pelos imigrantes italianos que vieram para o Brasil.
Nesta linguiça específica, eles adicionavam pimenta calabresa, por isso seu nome ficou como a tão famosa linguiça calabresa aqui no Brasil.
Mas, com o passar do tempo, talvez por preguiça, talvez por não achar todos os melhores ingredientes para fazer uma boa linguiça calabresa, ou mesmo para aumentar a margem de lucro, ela foi se modificando e foi sendo permitido adicionar diversos outros ingredientes que não estavam em sua formulação original.
Provavelmente para dar mais volume, diminuir seus custos e aumentar a margem de lucro; surgiu a linguiça “tipo calabresa”.
Nas embalagens de hoje em dia, eles colocam em letras muito pequenas e que contornam e estão nas dobras das embalagens, onde você quase não consegue ler. Eu vou colocar aqui a composição de uma linguiça tipo calabresa que temos hoje no mercado:
Ingredientes de uma Linguiça Tipo Calabresa disponível no mercado:
Carne suína,
CARNE MECANICAMENTE SEPARADA DE FRANGO,
Agora, eu quero que você veja a composição de um alimento para animais domésticos, os nossos pets, como cachorros e gatos.
Ingredientes Petisco Pet:
Você percebeu que tem em comum o ingrediente chamado “carne mecanicamente separada”, que comercialmente conhecemos com a sigla de “CMS”?
Sim, é isso mesmo que você viu. Um mesmo ingrediente que é usado para alimentação de animais está na composição da nossa tão famosa linguiça, que hoje, inclusive, não é mais linguiça calabresa, e sim linguiça tipo calabresa.
Tá bom, e o que é o tal do CMS?
A carne mecanicamente separada é o que sobrou de uma proteína animal dentro do processo de separação de suas partes em uma indústria; então, essa sobra é composta de vísceras, ossos, cartilagens, bicos, penas e diversas outras partes do animal.
Esses restos são reaproveitados e transformados em uma massa para compor, principalmente, rações animais. Obviamente eles estão colocando na nossa comida também.
Do ponto de vista de saúde, o CMS não é prejudicial ao nosso organismo, mas ele possui baixíssimo teor nutricional, além de não ter nenhum valor em sabor.
É usado apenas para dar volume, como algo que seria descartado ou reaproveitado para uso de ração animal, que eles estão colocando dentro da nossa comida.
Ou seja, uma linguiça que era para ter alta qualidade nutricional, de sabor e de percentual de proteína, passa a não ter mais nada disso, e eles vão inserindo esses outros ingredientes de forma silenciosa, sem ninguém perceber.
Agora vem o maior dos problemas.
Pesquise e procure uma linguiça calabresa defumada original. Sinto lhe dizer, mas você provavelmente não achará.
Como eles sabem que as pessoas têm um nível de informação e de conscientização muito baixo, eles simplesmente pararam de produzir a linguiça calabresa defumada original; eles só produzem agora a “tipo calabresa”.
Faz sentido, não? Já que ninguém sabe discernir uma da outra, melhor disponibilizar no mercado apenas a que mais me dá margem de lucro.
Só que eles cobram um preço na “tipo” como se fosse a original, um produto de alta qualidade.
Isso está sendo aplicado por todas as marcas no mercado, é praticamente um cartel.
E o que é inusitado é que é um cartel onde os concorrentes se unem e navegam juntos para padronizar a oferta de um produto de baixa qualidade.
O desafio que enfrentamos não é apenas sobre o que comemos, mas sobre a transparência com que esses produtos são apresentados.
Quando aceitamos sem questionar, permitimos que o valor nutricional e a autenticidade dos alimentos sejam comprometidos em prol do lucro.
Cabe a nós, consumidores, exigir clareza e qualidade, elevando nossos padrões e nossa voz em defesa de uma alimentação genuína e saudável.
Afinal, ao escolher o que colocamos em nossos pratos, escolhemos o tipo de indústria que queremos apoiar e o tipo de saúde que pretendemos promover.