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Recentemente, enquanto andava por Minas Gerais, deparei-me com algo curioso em uma pequena mercearia: margarinas expostas fora da geladeira.
Por que isso acontece?
O motivo é simples: a base da margarina é gordura vegetal hidrogenada, que, diferentemente de gorduras naturais, não se deteriora tão facilmente, podendo ser mantida em temperatura ambiente.
Esse fato é uma consequência direta de sua origem química, mais próxima de um produto químico não alimentício do que de um alimento fresco.
A gordura vegetal hidrogenada é resultado de um processo industrial chamado hidrogenação, no qual óleos vegetais líquidos, como os de soja ou milho, são transformados em gorduras sólidas por meio da adição de hidrogênio.
Esse processo prolonga a durabilidade do produto, mas também a distância dos alimentos naturais.
E, ao contrário do que muitos consumidores podem imaginar, a presença de gorduras hidrogenadas na margarina ainda é uma realidade — só que agora, muitas marcas estão mudando os rótulos para disfarçar esse ingrediente, gerando confusão.
A indústria de margarinas, ciente da crescente desconfiança dos consumidores em relação às gorduras trans, tem adotado uma nova estratégia: mudar a nomenclatura.
Hoje, em vez de listar a temida "gordura vegetal hidrogenada" nos rótulos, optam por termos como "gordura vegetal interesterificada" ou "óleos vegetais interesterificados".
A interesterificação é uma técnica industrial onde as moléculas de gordura são reorganizadas, criando uma textura sólida, muito semelhante ao processo de hidrogenação.
Apesar de não gerar as temidas gorduras trans, os efeitos metabólicos das gorduras interesterificadas ainda são prejudiciais.
Estudos indicam que o consumo excessivo dessas gorduras pode aumentar os níveis de colesterol ruim (LDL), baixar o colesterol bom (HDL) e aumentar o risco de doenças cardiovasculares. Ou seja, a mudança de nome não diminui os riscos à saúde.
Gorduras hidrogenadas ou interesterificadas são componentes presentes em uma grande quantidade de alimentos industrializados, como biscoitos, salgadinhos, fast food e, claro, margarinas.
O consumo prolongado dessas gorduras tem sido associado a diversos problemas de saúde, como doenças cardíacas, obesidade e diabetes.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que essas gorduras sejam completamente eliminadas da dieta humana, e, no Brasil, a Resolução RDC nº 332/2019 proibiu o uso de gorduras trans industriais a partir de 2023.
No entanto, essa proibição não significa o fim dessas gorduras nos produtos. Como mencionado, elas podem ter mudado de nome, mas continuam presentes de forma mascarada.
A gordura vegetal interesterificada é a nova vilã dos alimentos industrializados, oferecendo uma falsa sensação de segurança ao consumidor desavisado.
Ao ver uma margarina fora da geladeira, é importante lembrar que o fato de não estragar à temperatura ambiente já é um indicativo de sua composição artificial.
Margarinas feitas com óleos vegetais processados não se comportam como manteigas naturais. Elas são mais duráveis porque estão cheias de compostos químicos que garantem sua estabilidade.
A margarina chega a ter de 15 a 20 ingredientes, sendo a sua maioria, produtos químicos!
A manteiga, que é um produto natural, possui apenas um ingrediente: creme de leite.
Portanto, ao se deparar com rótulos que mencionam "gordura vegetal interesterificada", esteja ciente de que você ainda está consumindo um produto industrializado, alterado fisicamente e quimicamente para garantir sua longevidade, mas que pode ser prejudicial à saúde.
A gordura hidrogenada, que foi proibida por lei, ainda pode estar presente com outro nome, enganando o consumidor.
A mudança no nome da gordura hidrogenada para "interesterificada" ou outras variações é apenas mais um exemplo de como a indústria alimentícia se adapta para continuar a oferecer produtos que, apesar de legalmente permitidos, ainda trazem riscos à saúde.
A solução? Ler os rótulos com atenção e evitar produtos industrializados com essas gorduras disfarçadas.
Mais do que nunca, é preciso estar atento ao que colocamos em nossos pratos. Afinal, muitas vezes, o perigo não está apenas no que comemos, mas naquilo que não sabemos sobre os alimentos que consumimos.