Dr. Marcello Danucalov é doutor em ciências (psicobiologia); Mestre em farmacologia; Filósofo Clínico Integral e Orientador Filosófico Familiar.
Meu filho, espero que você nunca deixe de aprender e, se possível, admirar alguns de seus adversários.
Seja nas atividades esportivas ou no jogo da vida, muitos daqueles que competem conosco, desde que respeitem as regras previamente estabelecidas, provavelmente terão algo a nos ensinar.
Em determinadas ocasiões quando somos derrotados, podemos nos deixar levar por alguns sentimentos que podem nos impedir de aprender com a derrota.
Eu mesmo, quando era mais jovem, deixei de absorver lições importantes, e isso sempre ocorria quando meu foco era encontrar algum culpado para justificar meus fracassos e anestesiar minha frustração.
Foi assim em alguns campeonatos de surfe e em concursos, provas e avaliações.
A partir do momento em que eu passei a admirar meus adversários e a expressar abertamente essa admiração, pude começar a aprender com suas competências.
Graças a isso, pouco tempo depois pude perceber um considerável aumento no meu índice de sucesso.
Sendo assim, peço que você reflita sobre como você tem se comportado em suas últimas derrotas. Medite também sobre o que o velho Olavo nos ensinou:
"Só pessoas boas, normais e saudáveis gostam de admirar. Os neuróticos e complexados sentem que admirar é confissão de fraqueza."
Não existe coisa mais chata do que encontrar uma pessoa que reclama de tudo e de todos e, principalmente, o faz de maneira atabalhoada.
Muitas vezes reclamamos de algo que não foi previamente acordado e, na maioria das vezes, culpamos o outro por ele não satisfazer nossas expectativas que quase nunca são explicitadas com antecedência.
Isso sem falar que muito raramente as pessoas terão a obrigação de satisfazê-las.
Aquilo que muitas vezes chamamos de reclamação não passa de um comportamento histriônico direcionado a alguém que não tem responsabilidade pelo ocorrido.
Por exemplo: imagine uma pessoa descontente com alguns procedimentos adotados por um Banco e, devido a isso, ela reclame de maneira ríspida com um rapaz que exerça a função de caixa neste mesmo local. A forma histriônica desta "reclamação" não é a adequada; o lugar da comunicação não é apropriado; e a pessoa para a qual a exigência foi feita não tem nem condições e nem poder para conceder ao reclamante aquilo que ele deseja.
Sendo assim filho, não seja um chato. Aprenda a se comunicar de maneira eficaz e se esforce para reclamar menos, deixando este importante ato de fala para as situações em que seu uso é imprescindível.
Filho, imagine uma linha reta rabiscada em uma folha em branco. Vamos pactuar que ela simboliza a sua vida, ok?
A vida que só você conhece; as suas dores; as suas decepções; as suas alegrias; as suas conquistas; os seus medos; as suas derrotas; os seus valores; as suas buscas; as suas paixões; as suas metas; e os seus planejamentos.
Agora reflita comigo, quem conhece integralmente essa linha? Quem esteve ao seu lado durante todo o processo que a compôs?
Ninguém tem conhecimento total da sua vida; ninguém a conhece na íntegra; ninguém testemunhou tudo que foi vivido por você, nem mesmo eu, seu pai.
As pessoas costumam conhecer ínfimos fragmentos da nossa vida, mas, quando nos julgam ou nos aconselham, preenchem as lacunas que faltam com suas imaginações, fantasias, crenças e devaneios.
É preciso muita cautela para não se deixar influenciar pelo que os outros falam. Só você tem acesso à integralidade da sua vida.
Então, escolha muito bem as pessoas que vão te influenciar. Elas precisam conhecer muitos capítulos da sua biografia; muitas páginas da sua história de vida; muitos pontos que formaram sua trajetória existencial. Só assim poderão ajudá-lo de maneira segura e abalizada.
Estamos vivendo tempos estranhos onde influenciadores desprovidos das mais básicas virtudes sinalizam diariamente o oposto em suas mídias sociais, dando a entender àqueles seguidores mais ingênuos, que são pessoas abnegadas e que lutam diariamente pelos fracos e menos favorecidos, pelas vítimas do sistema capitalista patriarcal e opressor.
Em essência, essa turma não passa de um bando de vingadores sociais barulhentos, cínicos, hipócritas e que diariamente transferem suas responsabilidades para um Estado corrupto que lhes dá guarida.
Filho, afaste-se desses zumbis e não se deixe influenciar por aqueles que não se envergonham e assumem papéis repugnantes neste teatro macabro.
Não queira salvar o mundo e reparar o universo fazendo uso de cancelamentos covardes e silenciamentos de vozes dissonantes em nome da democracia.
Como diz com sabedoria Jordan Peterson: "comece arrumando seu quarto". Depois disso, habitue-se a fazer caridade de verdade, seja gentil e sempre trate as pessoas com respeito, preferencialmente chamando-as pelo seu nome.
O texto abaixo foi retirado do livro de um homem que, quase sempre tinha razão, leia e medite sobre sua mensagem:
"Meu pai era um sujeito relaxado, que às vezes ia de pijama receber as visitas. Mas chamava de senhor cada mendigo que o abordava na rua, e sem que ele me dissesse uma palavra aprendi que o homem em dificuldades necessitava de mais demonstrações de respeito do que as pessoas em situação normal (...) Seja educado, caramba! Pois se você, que está bem empregado e bem-vestido, tem direito de ser grosso, que primores de polidez pode esperar do pobre? Se um dia, cansado de levar chutes, ele o manda tomar naquele lugar, não se pode dizer que esteja privado do senso de proporções. E não me venha com aquela história de 'se eu tratar bem um só mendigo, no dia seguinte haverá uma fila deles na minha porta'. Isso pode ser verdade em casos isolados, mas não no cômputo final: se todos os restaurantes tratarem bem os mendigos, logo haverá mais restaurantes que mendigos. Conte os mendigos e os restaurantes da Avenida Atlântica e diga se não tenho razão. Isto, sem que entrem no cálculo os bares e padarias (...) No mais das vezes, o que falta não é comida, não é dinheiro: é as pessoas compreenderem que pobreza não é um estigma, não é uma desonra; é uma coisa que pode acontecer a qualquer um e da qual ninguém se liberta só com dinheiro, sem o reforço psicológico de um ambiente que o ajude a sentir-se novamente normal e, em suma, um membro da espécie humana."
Se existe uma frase patética e que muitos pais costumam falar para os seus filhos é a famigerada: "filho, ninguém é melhor do que ninguém".
Saiba meu amado rebento, isso está errado. Muitas pessoas são melhores do que nós em inúmeros aspectos.
Isso não significa que a vida delas valha mais do que a nossa vida, mas, algumas de suas habilidades podem ser muito superiores às nossas.
Sendo assim, você tem duas opções quanto a este assunto: a primeira opção é contentar-se em ser o mais "inteligentinho" em uma roda de bocós analfabetos funcionais; a segunda é não se constranger em ser o mais bobinho em uma roda de pessoas altamente capazes, em uma roda de intelectuais geniais.
Espero que você faça como eu tenho feito e, sem titubear, escolha sempre a segunda opção. Se o seu sonho é ser uma sardinha, ande com sardinhas; se deseja ser um tubarão, esteja disposto a nadar com eles.
Na Grécia antiga, alguns sábios filósofos perceberam algo muito importante e que, infelizmente, na modernidade, muitas pessoas começaram a desprezar.
Para esses homens da antiguidade o cosmos que nos circula é um lugar altamente organizado onde cada coisa exerce um papel fundamental na constituição do todo unificado.
Para eles, o vento, os rios, os mares, os animais, as estrelas exercem funções específicas, e isso também se aplica ao homem.
Para Aristóteles, por exemplo, cada um de nós nasce com um determinado chamado, uma vocação.
As principais funções do homem seriam: primeiro, reconhecer em si as poucas habilidades que a natureza nos concede e, posteriormente, trabalhar com afinco objetivando levar as referidas habilidades a um patamar de excelência.
É necessário, portanto, se esforçar para encontrar o seu "encaixe" no mundo.
Viver uma vida desencaixada é sinônimo de fracasso, e esta pobre vida é oriunda ou do desencontro não intencional do homem com seu chamado, ou de uma escolha intencional e soberba de querer viver uma vida que não é a sua.
Nesta segunda opção o homem deliberadamente busca encaixar-se em um lugar que naturalmente não lhe pertence.
A esta pretensão o grego antigo chamava de Hybris ou Húbris: querer ser aquilo que você não nasceu para ser; passar da medida em sua presunção; ser detentor de um orgulho exagerado; demonstrar uma arrogância sem limites; destilar uma insolência perniciosa. Logo filho, investigue muito bem quais são os seus talentos e trabalhe arduamente para desenvolvê-los ao máximo.
Você, como todos nós, provavelmente nasceu com muito poucos.
O samba é até bacana, mas, não leve a letra do Zeca tão a sério. Somente ingênuos e imprudentes se deixam levar pelas correntezas da vida.
Planeje a sua trajetória existencial; estabeleça metas claras; persiga-as com afinco; não desperdice tempo e, acima de tudo, NÃO deixe a vida te levar.
Marcello Danucalov
Doutor em Ciências (psicobiologia);
Mestre em Farmacologia;
Filósofo Clínico Integral e Orientador Filosófico Familiar