Dr. Marcello Danucalov

Dr. Marcello Danucalov é doutor em ciências (psicobiologia); Mestre em farmacologia; Filósofo Clínico Integral e Orientador Filosófico Familiar.

Conselhos para dar aos filhos (Parte 1)

Não são poucos os adultos que meditam sobre os erros que cometeram no passado. Isso também aconteceu comigo. Foi por meio destas memórias que decidi dividir com meu filho alguns conselhos que eu gostaria de ter recebido em minha juventude.

Dr. Marcello Danucalov

Primeiro conselho: Organize a matéria ao seu redor. 

Querido filho, você faz parte de uma geração que teve os processos de atenção bastante comprometidos devido a vários fatores, como o uso demasiado de telas, sobrecarga de informações irrelevantes, estimulação excessiva dos desejos etc. 

Se este conselho que agora lhe dou já me teria sido útil, que vivi um mundo radicalmente distinto do seu em minha juventude, para você ele é verdadeiramente imprescindível

Quando comprometemos negativamente os nossos processos atencionais, aumentamos as chances de perder algumas grandes oportunidades na vida.  

Para que isso não aconteça com você, sugiro que reflita sobre a matéria que está ao seu redor. Ordene-a o mais primorosamente possível. 

Ao acordar, arrume sua cama com esmero, organize os seus livros com primor, lave a louça imediatamente após usá-la, retire o lixo acumulado da casa, cuide de seus equipamentos de surfe, arrume constantemente suas pranchas, organize suas roupas com cuidado, busque a beleza que emana da ordem

Empenhando-se diariamente na ordenação da matéria que o circula, você perceberá que ficará muito mais fácil ordenar aspectos mais sutis da sua vida, como as suas ideias, seus sentimentos, suas emoções, seus afetos. 

Você conseguirá categorizá-los, hierarquizá-los e compreendê-los muito melhor, e isso evitará uma série de conflitos internos e interpessoais que você seguramente terá no transcorrer da sua trajetória existencial. 

Se você não ordenar a matéria ao seu redor, ou seja, as coisas mais densas, os aspectos mais sutis e delicados da sua existência sabidamente se transformarão em caos, e isso vai gerar dores e sofrimentos desnecessários. 

Segundo conselho: Se for necessário, faça a sua parte e a parte dos outros também.

É muito comum ouvirmos de algumas pessoas a seguinte frase: "eu fiz a minha parte, se os outros não fizeram a deles, isso não é problema meu".  Quando isso acontecer com você filho, faça a sua parte e a parte que caberia aos outros também

Precisamos fazer o que é certo, precisamos entregar para o mundo aquilo que ele espera de nós

Se algumas pessoas não cumprem com suas obrigações e não honram as suas palavras, é imperativo - desde que nos seja possível - assumirmos a responsabilidade pelo término da tarefa para que ela não fique incompleta ou imperfeita, e, acima de tudo, não prejudique pessoas que dependem de sua finalização. 

E saiba filho, sempre haverá alguém olhando as suas ações.  Sempre haverá alguém valorizando este comportamento honesto e digno

Pessoas que agem assim têm muito mais chances de prosperar na vida, e se não houver um superior, um gerente, um chefe percebendo seu esforço, saiba que Deus estará ciente e isto basta

Logo, nunca se rebaixe a este tipo de discurso preguiçoso e irresponsável: "eu fiz a minha parte". Esta será sempre uma frase proferida por pessoas fracas e egoístas. 

Terceiro conselho: Esqueça as fofocas. A maioria das pessoas não está preocupada com você.

Filho, uma parte dos seres humanos demonstra uma tendência a se envolver em fofocas. Algumas delas são perversas e malvadas, outras são ingênuas e chegam até a ser engraçadas

Mas, no fim das contas, a grande maioria das pessoas não está muito preocupada com você

Ainda que possam falar um pouco sobre a sua vida, no geral elas estão preocupadas em pagar as suas contas, resolver os seus problemas e gerir os seus desafios cotidianos na medida do possível. 

Durante a adolescência é comum sermos vitimados por alguns pensamentos que não nos fazem bem, como: "fulano está com inveja de mim"; "sicrano está colocando olho gordo em mim".

Gastar energia com essas preocupações não é uma atitude muito inteligente. Estabeleça suas metas, planeje suas ações com prudência, tenha bons parceiros e bons amigos, aja com constância e sensatez, e lembre-se sempre: Na maioria das vezes, as pessoas esquecem de você imediatamente após você sair do campo de visão delas. 

Quarto conselho: Foque nos seus deveres, não nos seus direitos.

É triste ter que falar isso, filho, mas a sua geração é, sem dúvidas, a mais fraca, mimizenta e ressentida que já colocou os pés na Terra

Entre outros vícios insuportáveis, ela insiste em se atribuir dezenas de direitos e, paralelamente, se esquece de cumprir os seus deveres mais básicos. Um dos "direitos" comumente reclamados é o da opinião

Contudo filho, excetuando-se casos muito específicos, como o de uma eleição, na maioria das vezes nós não temos direito algum a opinar

Quando nos atribuímos o direito de opinar, um outro alguém deveria ter o dever de nos ouvir. Mas, como dito acima, são raras as ocasiões em que isso ocorre. 

Logo, a melhor coisa a fazer é guardar para si as suas opiniões ou, quando quiser proferi-las, não cobrar do mundo o dever de ouvi-las, uma vez que este dever é ilusório.

E nunca se esqueça do sábio conselho do professor Olavo de Carvalho:

"Hoje em dia as pessoas criam opiniões como animais de estimação, sucedâneos do afeto humano. Quanto às minhas, trato-as a pão e água, ginástica sueca e chibatadas, levando muitas delas à morte por definhamento, a outras estrangulando no berço ou esmagando-as a golpes de fatos que as desmentem: fico com as que sobrevivem. Não posso recomendar esse regime às almas sensíveis, mas desconheço outro que possa nos colocar na pista da verdade, supondo-se que a desejemos". 

 Quinto conselho: A infidelidade é um dos comportamentos mais desprezíveis que um homem pode ter.

Quando eu era jovem, ninguém da minha família me explicou algo muito básico e que pude compreender somente muitos anos depois. 

Nem minha mãe, nem meu pai, nem meus avós e, nem tampouco meus tios, me orientaram sobre o valor da fidelidade

Não os culpo por isso, pois todos eles tentaram fazer o melhor com as "ferramentas" e com o conhecimento que possuíam naquele momento. 

Em contrapartida, meus colegas e meus amigos, assim como as circunstâncias externas em que eu estava inserido, constantemente estimulavam o comportamento oposto, a infidelidade

Tenho que confessar que, influenciado pelas circunstâncias e vitimado pela imaturidade, fui infiel em minha juventude, e esta é uma das maiores vergonhas que carrego comigo, pois tudo o que fazemos nesta vida fica gravado na eternidade. 

Não há como desfazer o que já foi feito, mas sempre há a possibilidade de evitar alguns erros ou, ao menos, arrepender-se daqueles cometidos no passado.

Um homem jamais deveria agir desta maneira, pois a traição é um dos comportamentos mais baixos, repugnantes e desprezíveis que existem

Logo, meu amado filho, lembre-se sempre do que o filósofo Immanuel Kant nos ensinou:

"O homem verdadeiramente livre é aquele que decide agir na contramão dos seus desejos. O homem verdadeiramente livre é aquele que faz o que não deseja fazer."

Quem cede a todos os seus desejos, quem se deixa levar por todos os seus instintos, quem se orgulha de suas traições, se assemelha mais a um bicho do que a um ser humano maduro

Sexto conselho: Supere a vergonha de pedir ajuda quando esta for necessária.

Esforce-se para superar a vergonha que te impede de pedir ajuda para outras pessoas. Nós somos seres sociais mutuamente dependentes, e é pouco provável que alguém consiga atingir a excelência profissional, moral e espiritual se não for auxiliado por pessoas admiráveis em alguns momentos da sua trajetória de vida.  

Entretanto, seja sempre grato àqueles que vêm em seu auxílio em momentos de dificuldades, e nunca esqueça que a reciprocidade é uma atitude digna e necessária

Sempre que possível, e se as circunstâncias assim permitirem, retribua com generosidade o auxílio recebido em seu passado.  

Sétimo conselho: Escolha com sabedoria quando e com quais pessoas você concederá os seus sins, e quando e com quais pessoas você fará uso dos seus nãos.

Nunca deixe de dizer não quando este ato de fala lhe parecer necessário.  Toda vez que uma pessoa profere um sim quando em seu íntimo necessitava dizer um não, ela perde um pouco da sua dignidade.  

Os sins que proferimos ao mundo precisam ser honestos e oriundos da firme convicção de que esta é a melhor atitude que podemos ter. 

Porém, quando dizemos sim para todos e em quase todas as ocasiões, isso pode demonstrar que ainda somos demasiadamente dependentes do amor e da aprovação da maioria das pessoas que nos cercam, e isso desnuda nossa imaturidade

Logo, escolha com sabedoria quando e com quais pessoas você concederá os seus sins, e quando e com quais pessoas você fará uso dos seus nãos.

Oitavo conselho: Não desconheça as possíveis camadas que a sua consciência pode habitar.

Filho, assim como nosso corpo físico passa por estágios previsíveis de desenvolvimento e amadurecimento, nossa consciência também pode evoluir na medida em que se expande e passa por diferentes camadas

A cada nova camada atingida, passamos a compreender a vida de uma maneira muito mais refinada e elaborada

Contudo, diferente da inexorabilidade do corpo físico, que nos faz passar compulsoriamente por todas as etapas orgânicas desde o nascimento até o envelhecimento, nossa consciência pode parar de se expandir e de se desenvolver, gerando déficits na aquisição da maturidade. 

Falando de maneira mais óbvia, simples e objetiva: Existem adultos e inclusive idosos com mentalidade de adolescentes, e isso é uma das coisas mais tristes que podem acontecer a um ser humano.

Por este motivo, sugiro que entre em contato com a teoria das doze camadas da personalidade e se esforce para atingir, no mínimo, a oitava, pois é nela que nos tornamos humanos maduros e plenamente responsáveis pelas nossas ações no mundo.

Você encontrará boas aulas sobre o tema acessando a Plataforma Brasil Paralelo e/ou as ideias do professor Olavo de Carvalho expostas em artigos e aulas incríveis que versam sobre este intrigante assunto. 

Por ora, meu filho, reflita sobre esses conselhos e, na semana que vem, prometo dividir com você outras reflexões que poderão lhe ser úteis.

Isso também vale para você, caro amigo leitor.

Marcello Danucalov

Doutor em Ciências (psicobiologia);

Mestre em Farmacologia;

Filósofo Clínico Integral e Orientador Filosófico Familiar