Gastrólogo com Especialização na Le Cordon Bleu Paris. Professor com mais de 40 mil alunos. Empresário e especialista em marketing, inovação e estratégias para redes sociais.
Existe uma eterna rivalidade entre Brasil e Argentina que vai muito além do futebol.
Ela se estende para todos os aspectos culturais, incluindo a culinária. Essa competição saudável faz parte das tradições de ambos os países e, em cada debate acalorado, surgem novos argumentos sobre quem tem a melhor carne, o melhor doce de leite, e até o melhor churrasco.
Embora essa rivalidade seja normal e até divertida, o que realmente importa no final das contas é o gosto pessoal de cada um.
Afinal, quando se trata de comida, a memória afetiva e as emoções atreladas ao prato são mais importantes do que qualquer padrão de qualidade.
Dito isso, devo confessar: pessoalmente, eu prefiro a carne argentina. E se vamos falar de doces, eu também sou fã do tradicional "Dulce de Leche" argentino, ao invés do doce de leite brasileiro.
Mas vamos deixar essa polêmica para a próxima semana.
Hoje, vou explicar por que acredito que a carne argentina se destaca tanto.
Lembro bem da minha primeira experiência com a carne argentina, em um dos bairros mais tradicionais de Buenos Aires, o Caminito.
Fui a uma casa de parrilla e pedi um sanduíche de Bife de Chorizo. Ao dar a primeira mordida, eu esperava algo semelhante ao que temos no Brasil, como um bife de contrafilé.
E, sim, o Bife de Chorizo é tecnicamente uma parte do contrafilé. Mas para minha surpresa, ao invés de ser rígido e muitas vezes difícil de mastigar, o bife argentino simplesmente desmanchava na boca.
Era ultramacio e incrivelmente saboroso, que apenas com um toque de chimichurri já ficava algo de outro mundo.
O segredo por trás da qualidade da carne argentina está no próprio gado e na forma como ele é criado.
O Brasil e a Argentina possuem diferenças marcantes na raça de gado e no manejo dos animais.
Enquanto o Brasil é dominado pela raça Nelore, com carne magra e fibras mais duras, a Argentina aposta em raças britânicas como Angus e Hereford, conhecidas por sua carne marmorizada e textura macia.
A criação do gado na Argentina se beneficia das vastas planícies conhecidas como pampas, que oferecem pastagens naturais ricas e clima ameno.
Isso permite que os animais cresçam de maneira mais tranquila e com melhor alimentação, resultando em uma carne mais saborosa e macia.
O fato do clima mais frio também impacta diretamente para uma melhor adaptação dessas raças, algo que não conseguimos aqui no Brasil.
Além disso, o processo de abate e o corte das peças são feitos com extremo cuidado.
O país segue tradições seculares de manuseio e preparo, o que impacta diretamente na qualidade final do produto.
Argentina: Foca em raças Angus e Hereford, de origem britânica, conhecidas pela carne marmorizada e macia. As fibras mais curtas e o elevado teor de gordura intramuscular garantem um sabor único, que quase derrete na boca.
Brasil: Predominantemente raça Nelore, de origem indiana, com carne magra, fibras mais duras e menor teor de gordura intramuscular, o que torna a carne mais rígida e menos suculenta. A adaptação do Nelore ao clima quente e às pastagens brasileiras fez com que ele se tornasse a raça predominante no país.
Uruguai: Também utiliza raças britânicas e um sistema de criação similar ao argentino, com destaque para o manejo sustentável e o respeito às pastagens naturais.
Essas características fazem com que a carne argentina se destaque em termos de textura e sabor, enquanto a brasileira se torna mais resistente e menos suculenta.