A história da Independência do Brasil envolve acontecimentos únicos. Estudando o que foi o Primeiro Reinado, são descobertos personagens ímpares para a formação brasileira como Estado e nação. Pedro, Leopoldina e Bonifácio são os maiores expoentes desta realidade.
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O Primeiro Reinado foi o período em que o Brasil se tornou independente de Portugal, constituindo um Império. A Proclamação da Independência do Brasil ocorreu em 7 de setembro de 1822.
Dom Pedro I foi o primeiro monarca e governou até 7 de abril de 1831, quando abdicou do trono em favor de seu filho e retornou a Portugal.
Este período de Independência até a abdicação é exatamente a marca do Primeiro Reinado. É também o marco da construção do Brasil como Estado e nação.
O Brasil se tornou independente pelas mãos de um príncipe, D. Pedro. Uma figura forte e central no poder era necessária para acalmar os ânimos e revoltas que estavam ocorrendo. Se uma República fosse estabelecida, temia-se que o território fosse dividido.
Na época, a maioria do povo brasileiro pedia que D. Pedro ficasse e governasse. Havia o temor de que as revoltas fragmentassem o território, como havia acontecido na América espanhola.
A cultura vivida na época era a de uma monarquia portuguesa.
Ainda assim, o caso do Brasil foi único, pois os países vizinhos se tornaram Repúblicas e apenas o México e o Haiti viveram experiências monárquicas, mas por um curto período de tempo.
A independência foi em setembro. Em outubro, D. Pedro já havia sido aclamado imperador e em dezembro coroado como D. Pedro I.
Com este resumo em mente, será mais fácil entender o contexto de toda esta parte da história. Portanto, recomenda-se também a leitura do artigo sobre como ocorreu a colonização do Brasil.
Na época da Proclamação da Independência, o Brasil já não era uma colônia, mas uma América portuguesa, um reino unido a Portugal. A fundação do Império marcou o fim da submissão à corte portuguesa.
Os brasileiros queriam ser independentes, mantendo as províncias unificadas. As subdivisões do território brasileiro que precederam a divisão em estados foram chamadas províncias. Foram criadas no Período Joanino e mantidas no Primeiro Reinado.
As mudanças que levariam à independência estavam diretamente ligadas à vinda da família real ao Brasil. Com D. João VI e sua corte residindo no Rio de Janeiro a partir de 1808, o estado tornou-se a capital do país.
O Rio era a sede do Reino e, portanto, passou por um processo de desenvolvimento urbano e cultural, os portos foram abertos às nações amigas e o comércio também prosperou. Como capital, era o centro unificador, o local da unidade do povo português.
Foi D. João VI que elevou o Brasil de colônia à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves. Mas sua presença no Brasil começou a ser um problema, especialmente a partir de 1820.
Portugal estava passando por um processo que suscitava os temores de uma nova Revolução Francesa.
Em 24 de agosto de 1820, teve início a Revolução Liberal do Porto. Os portugueses realizaram uma Assembleia Constituinte em Lisboa, formando cortes. Queriam reorganizar Portugal como uma monarquia constitucional, seguindo padrões semelhantes aos da Revolução Francesa.
O medo da repetição do terror e do derramamento de sangue, vistos na França, assolava os portugueses.
Foram convocados deputados, não só portugueses, mas até mesmo os deputados das províncias brasileiras. Os paulistas compareceram e levaram uma constituição completa para resolver o problema do Reino do Brasil e do Reino de Portugal.
Uma das sugestões foi que a corte transitaria entre a Europa e a América. Os brasileiros justificaram que o Brasil era muito grande e precisava da presença do rei para se manter unificado. Havia a ideia de criar uma liga de nações lusitanas.
Os portugueses não aceitaram, queriam um único poder central em Portugal. Não aceitavam nem mesmo a existência de um tribunal no Brasil, nem que houvesse unidade. Era do interesse deles que as províncias fossem independentes e submetidas ao poder em Lisboa.
Basicamente, existiam duas exigências dos revolucionários:
Em Portugal, o crescimento do Brasil não era bem visto. O rei estava longe enquanto os portugueses viviam uma crise. Por isso, queriam a reversão das medidas tomadas em benefício do Brasil durante o Período Joanino.
Tropas portuguesas no Brasil exigiam que o rei aceitasse a Constituição que seria imposta pelas cortes, que queriam que D. Pedro também regressasse a Portugal.
Dom João VI precisava decidir entre duas opções excludentes: ficar no Brasil ou voltar para Portugal. Ele decidiu voltar sozinho, deixando seu filho como regente, dizendo-lhe:
“Se for para perder o Brasil, que seja para ti e não para estes aventureiros”.
As elites econômicas do Brasil também viram o perigo de perder a presença do príncipe, já que, se ele partisse, o país poderia voltar a ser uma colônia.
A partir daí, um processo de Independência começou a ser elaborado e o líder era D. Pedro.
Antes de partir, D. João VI convocou eleições para eleger juntas governamentais nas principais províncias. Foi uma forma de ajudar o Reino do Brasil a manter a autonomia política diante da revolução das cortes.
Na presidência do governo de São Paulo, José Bonifácio de Andrada e Silva foi eleito por aclamação. Era um brasileiro com uma extensa formação acadêmica, fluente em diversas línguas. Foi o primeiro a reconhecer a autoridade de D. Pedro como príncipe regente.
Em 1º de janeiro de 1822, D. Pedro recebeu um manifesto escrito por Bonifácio e subscrito por toda a junta paulista.
Bonifácio alertava que o governo português queria impor um sistema de escravidão ao Brasil. Disse ainda que os paulistas estavam “prontos a derramar a última gota do seu sangue e a sacrificar todas as suas posses para não perder o adorado príncipe”.
A carta foi até publicada nos jornais. Assim, a sociedade civil mobilizou-se para que D. Pedro permanecesse no Brasil.
O ambiente era de animosidade e guerra civil entre os fiéis ao príncipe e os fiéis às cortes. Frequentemente, portugueses e brasileiros entraram em combate, pois os brasileiros não queriam obedecer às cortes.
Havia pedidos de várias províncias e abaixo-assinados de até 5.000 pessoas insistindo para que o príncipe regente permanecesse. D. Pedro recebia cartas de líderes de províncias brasileiras para que não fizesse dos brasileiros servos de Portugal.
Leopoldina, esposa de D. Pedro, também estava contra as cortes portuguesas. Em suas cartas, demonstrava ser favorável à Independência e que queria ser a imperatriz do Brasil.
Tanto José Bonifácio quanto Leopoldina desejavam a permanência de Pedro no Brasil. Ambos acreditavam que se o príncipe retornasse a Lisboa, o país não seria capaz de resistir ao furor revolucionário.
Uma das estratégias de Leopoldina era dizer que não poderia retornar a Portugal porque estava grávida.
Em 1822, o extenso território não suportaria a vacância do governo central. O Brasil ainda era suscetível a movimentos rebeldes e independentistas, que poderiam mergulhar o reino em um caos político e social, assim como aconteceu nos territórios vizinhos da América espanhola.
As ameaças das cortes a D. Pedro eram frequentes, e o príncipe oscilava entre as escolhas. A questão tornou-se irremediável quando as cortes dissolveram o governo brasileiro e ordenaram, mais uma vez, o retorno do regente.
Em meio a tudo isso, não era mais possível adiar uma decisão. Ele precisava decidir se iria ou não ficar.
No dia 9 de janeiro de 1822, D. Pedro, do Paço Imperial, dirigiu-se ao público para proclamar sua permanência no país, no que ficou conhecido como “o Dia do Fico”. Foi um forte símbolo que representava que o Brasil já não era mais de Portugal.
Ainda não era a separação oficial e total. Uma reconciliação ainda era visualizada.
Mas poucos dias após o pronunciamento de D. Pedro comunicando que permaneceria no Brasil, o Tenente-General Jorge de Avilez organizou suas tropas para dar um golpe e assumir o governo brasileiro. Ele acreditava que o príncipe era frágil.
O general português já havia tentado um golpe antes, mas depois de uma negociação com D. Pedro, havia dado uma trégua ao príncipe.
Concentrando-se na Praia Grande, em Niterói, Avilez e suas tropas se fortificaram em um local estratégico. Percebendo a gravidade do ato, D. Pedro reagiu enviando tropas do exército e de civis armados para combatê-lo.
Com mais uma vitória do príncipe, o general português e seus homens foram expulsos do Brasil.
Dom Pedro percebeu que precisava de aliados e nomeou Bonifácio para a Secretaria de Estado dos Negócios do Império e Estrangeiros, o que o tornou o primeiro brasileiro a ocupar um cargo ministerial.
Bonifácio era considerado um homem sábio e era o principal conselheiro, confidente e amigo de D. Pedro. Ao seu lado estava o apoio da futura imperatriz.
A instabilidade política fez com que Leopoldina se refugiasse na fazenda de Santa Cruz. Com a situação aparentemente mais tranquila no Rio de Janeiro, ela voltou da fazenda para o Palácio de São Cristóvão, no Rio de Janeiro.
Devido às condições precárias da viagem e ao calor intenso, acabou perdendo um filho ainda bebê: D. João Carlos.
Em cartas enviadas a seus pais, Leopoldina e D. Pedro culparam os revoltosos portugueses pela morte do filho, dizendo que se não houvesse tanto tumulto e briga, não haveria motivo para a viagem.
Agora ministro, Bonifácio recomendou ao príncipe que fortalecesse os laços com as províncias e buscasse apoio para sua causa.
O Rio de Janeiro havia se declarado fiel ao príncipe e a suas decisões, então D. Pedro partiu com sua comitiva para Minas Gerais.
Antes de continuar sua viagem, ele deveria nomear um substituto para ocupar a regência. Decretou que sua esposa, a Princesa Leopoldina, governaria em seu lugar. Pela primeira vez no Brasil, uma mulher comandaria o país.
Ela governou antes mesmo de que o Brasil se tornasse verdadeiramente independente.
D. Pedro seguia ganhando apoio da população rural e os fazendeiros saudavam o príncipe e sua comitiva por onde passavam. Ele estava viajando pelas províncias quando as mais novas reivindicações das cortes de Lisboa chegaram ao Brasil.
O Príncipe D. Pedro havia sido rebaixado a delegado temporário. Os novos representantes do governo brasileiro seriam eleitos em Lisboa. As leis criadas no Brasil não seriam mais aceitas e quem desobedecesse estaria afrontando Portugal.
José Bonifácio concluiu que havia esgotado as possibilidades de conciliação. Ele considerou inevitável que o destino do Brasil envolvesse a ruptura com a coroa portuguesa.
Ele então enviou um mensageiro para entregar a D. Pedro a carta informando-o da decisão pela Independência, que ele e Leopoldina haviam arquitetado no Conselho.
Tendo recebido a carta, D. Pedro arrancou a braçadeira azul e branca que simbolizava Portugal e atirou-a no chão dizendo:
— “Tirem suas braçadeiras, soldados! Viva a Independência, a liberdade e a separação do Brasil!”
O príncipe desembainhou sua espada, no que foi seguido pelos militares; os paisanos tiraram o chapéu, e D. Pedro disse:
— “Pelo meu sangue, pela minha honra, pelo meu Deus, juro fazer a liberdade do Brasil! Brasileiros! A nossa divisa de hoje em diante será – INDEPENDÊNCIA OU MORTE!”
O Brasil não se dividiu em pequenas províncias lideradas por caudilhos, líderes político-militares autoritários. D. Pedro I era uma força simbólica que mantinha a continentalidade do Brasil e iniciava o que foi o Primeiro Reinado.
A Independência do Brasil foi similar à Independência dos Estados Unidos da América, se comparada aos processos de independência latinos. Não era simplesmente a revolta dos brasileiros contra seus conquistadores.
Houve uma cisão e os próprios portugueses voltaram-se contra a sua coroa. Foi uma secessão. Tratou-se mais de uma emancipação do que os fratricídios que aconteceram nos países vizinhos.
Enquanto D. Pedro e sua comitiva retornavam de São Paulo ao Rio de Janeiro, a organização do Primeiro Reinado e do mais novo Império das Américas começava pelas mãos do Ministro Bonifácio e da Imperatriz Leopoldina.
Vale lembrar que foi durante este período que o Brasil adquiriu sua primeira insígnia.
Leopoldina, Bonifácio e o Jean-Baptiste Debret, artista francês, idealizaram e desenharam o que seria a Bandeira do Império do Brasil. Ela uniria o verde da família Bragança e o amarelo da família Habsburgo.
No coração da Bandeira, estava a cruz da Ordem de Cristo, símbolo do início da trajetória dos primeiros a cruzar o Atlântico e encontrar o que viria a ser o Brasil.
Estudioso e amante da música, Pedro deixaria outra de suas marcas na história. Ele fez um arranjo para a letra de uma poesia prestigiada pela corte e compôs o Hino do Império, no Primeiro Reinado do Brasil.
“Já podeis, da Pátria filhos,
Ver contente a mãe gentil!
Já raiou a liberdade
No horizonte do Brasil,
Já raiou a liberdade
Já raiou a liberdade
No horizonte do Brasil!
Brava gente brasileira!
Longe vá, temor servil;
Ou ficar a pátria livre,
Ou morrer pelo Brasil.
Ou ficar a pátria livre,
Ou morrer pelo Brasil.
Os grilhões que nos forjava
Da perfídia astuto ardil,
Houve mão mais poderosa,
Zombou deles o Brasil.
Houve mão mais poderosa,
Houve mão mais poderosa,
Zombou deles o Brasil.
Brava gente brasileira
Longe vá, temor servil;
Ou ficar a pátria livre,
Ou morrer pelo Brasil.
Ou ficar a pátria livre,
Ou morrer pelo Brasil.
Não temais ímpias falanges,
Que apresentam face hostil;
Vossos peitos, vossos braços
São muralhas do Brasil.
Vossos peitos, vossos braços,
Vossos peitos, vossos braços,
São muralhas do Brasil.
Brava gente brasileira
Longe vá, temor servil;
Ou ficar a pátria livre,
Ou morrer pelo Brasil.
Ou ficar a pátria livre,
Ou morrer pelo Brasil.
Parabéns, ó brasileiro,
Já, com garbo juvenil
Do universo entre as nações
Resplandece a do Brasil.
Do universo entre as nações,
Do universo entre as nações,
Resplandece a do Brasil.
Brava gente brasileira
Longe vá, temor servil;
Ou ficar a pátria livre,
Ou morrer pelo Brasil.
Ou ficar a pátria livre,
Ou morrer pelo Brasil.
No dia em que D. Pedro completou 24 anos, o povo tomou as ruas do Rio de Janeiro para aclamá-lo como seu imperador. Uma grande passeata seguida por uma grande festa irrompeu na cidade.
Alguns meses depois, a cerimônia de coroação aconteceu na Capela Imperial. Vestido de tons de verde e amarelo, o imperador recebeu sua coroa.
“Por graça de Deus e Unânime Aclamação dos Povos, Sua Majestade Imperial Dom Pedro I, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil”.
Entretanto, alcançar a Independência do Brasil não era o mesmo que mantê-la e alguns desafios ainda seriam vividos no Primeiro Reinado.
Após a Declaração de Independência do Brasil, era preciso terminar as guerras com as províncias rebeldes, garantir o reconhecimento internacional e redigir uma Constituição para o país.
Para garantir o reconhecimento internacional, Portugal precisava aceitar a Independência e a Inglaterra era a nação mediadora. Em troca, exigiu que o Brasil mantivesse os acordos comerciais feitos durante o Período Joanino e que acabasse com o tráfico negreiro.
Somente em 1825 os portugueses reconheceram que o Brasil era independente através da assinatura do Tratado de Paz e Aliança. Isto exigiu um pagamento de indenização de dois milhões de libras esterlinas a Portugal.
Foi preciso pedir este dinheiro emprestado aos ingleses, aumentando a dívida externa. Além disso, o Brasil se comprometeu a não incentivar, reivindicar ou liderar a independência das colônias portuguesas na África.
Em um primeiro momento, as nações vizinhas estavam relutantes e não queriam reconhecer a Independência do Brasil, por causa do governo monárquico. Mas o reconhecimento aconteceu, principalmente por causa das ações dos Estados Unidos e da Inglaterra.
Em maio de 1824, os Estados Unidos foram os primeiros a reconhecer a Independência do Brasil. Isto fazia parte da política de combate à influência europeia no continente americano. O governo estadunidense sustentava que a América tinha que ser governada com autonomia em relação aos países europeus.
No entanto, uma das tarefas mais importantes era pensar a Constituição do Brasil.
Durante o Primeiro Reinado, após a definição da autonomia política brasileira, foi preciso criar os símbolos nacionais, instituições e órgãos administrativos, além de um conjunto de leis para reger um Estado recém-formado.
Com a Independência, foi necessário convocar uma Assembleia Constituinte para elaborar a primeira Constituição do Brasil. Este processo começou em 1823, marcado por atritos entre D. Pedro I, Bonifácio e os demais deputados e senadores.
Os conflitos giravam em torno de quanto poder o imperador teria. Os parlamentares queriam mais liberdades individuais e uma maior limitação do poder real. Já D. Pedro I queria poderes ilimitados para governar o Brasil.
Ele não concordou com os termos da Constituição elaborada pelos parlamentares e a vetou. Ela ficou conhecida como a Constituição da Mandioca.
Além deste veto em 12 de novembro de 1823, ocorreu a Noite da Agonia. D. Pedro I ordenou que a Assembleia Constituinte fosse cercada e dissolvida. Muitos parlamentares foram presos.
Depois disso, o próprio imperador formou uma comissão para elaborar a Constituição.
A nova Carta Magna foi outorgada em 1824. O regulamento continha 176 artigos com as normas para o bom funcionamento do Estado. Ela afirmava que o Brasil seria uma monarquia e concedia ao imperador poderes absolutos sobre a nação.
D. Pedro I exercia exclusivamente o poder moderador se houvesse conflito entre os poderes legislativo, executivo e judiciário. Este poder poderia limitar os outros três. Os brasileiros viram neste poder uma centralização dos outros poderes no governo.
As principais características da Constituição de 1824 foram:
A manutenção ou não do regime escravista foi um dos assuntos debatidos enquanto se pensava na nova Constituição. José Bonifácio criou um projeto para abolir gradualmente a escravidão no Brasil.
Os setores agrários se opuseram a ele porque dependiam de mão de obra escrava. D. Pedro I barrou a proposta. Na Constituição de 1824, o regime escravista foi mantido, não havia direitos aos escravos e as penas e castigos públicos continuaram.
Além destes problemas, era preciso acalmar os ânimos no território nacional.
O processo de Independência do Brasil não foi pacífico. O Primeiro Reinado não começou sem derramamento de sangue. Algumas províncias permaneceram leais aos portugueses e assim aconteceram confrontos para garantir a unidade territorial do país.
Pedro Labatut, oficial francês, mobilizou tropas terrestres em favor de D. Pedro e da Independência. Lorde Cochrane, por exemplo, foi um inglês que liderou embarcações brasileiras contra os portugueses. Foi um importante aliado de D. Pedro I contra os portugueses e seus aliados no Brasil.
As províncias do Pará, Maranhão, Bahia e Cisplatina são exemplos de províncias que se opuseram à Independência. Por volta de 1823, os ânimos já tinham sido acalmados e os portugueses derrotados.
D. Pedro e José Bonifácio tiveram de comprar rapidamente armamentos e organizar tropas nacionais. Na época da Independência, a marinha brasileira contava com poucos navios, a maioria oriunda da vinda da família real em 1808 e em péssimo estado de conservação.
A maioria dos marinheiros disponíveis eram portugueses, por isso foi preciso contratar mercenários estrangeiros.
Era essencial para a Independência que a marinha brasileira fosse capaz de afastar a frota portuguesa, que bloqueava os portos do norte do país e impedia a comunicação entre as províncias.
Batalhas como a de Jenipapo, de Pirajá, de Itaparica, de 4 de maio, e o Cerco de Montevidéu são alguns dos muitos confrontos sangrentos entre os patriotas que queriam o Primeiro Reinado e os portugueses.
Além destes problemas, D. Pedro passou a ter atritos com seu principal conselheiro.
Bonifácio era também uma figura paterna para D. Pedro I. Ele acompanhou de perto a influência que a amante, Domitila, tinha sobre o imperador.
Tentou aconselhá-lo diversas vezes a desistir do relacionamento, mas D. Pedro I preferiu manter o relacionamento e colocou-se contra Bonifácio.
Bonifácio também repreendia o imperador porque este se ausentava das reuniões ou se atrasava muito. Por outro lado, Domitila dizia ao amante que Bonifácio queria o poder. O conflito o levou a demiti-lo de seu cargo.
A perda da amizade de Bonifácio não seria a única para D. Pedro.
Leopoldina foi obrigada a conviver com a amante do marido, que passou a residir no palácio. Ela preferiu este sofrimento a romper a estabilidade do Império. O resultado foi uma profunda depressão e debilitação de sua saúde.
A popularidade de D. Pedro estava se deteriorando. Os conflitos políticos em que ele se envolvia, e seu caso extraconjugal com Domitila, fizeram com que o outrora tão bem quisto imperador, tivesse sua reputação manchada.
Após a morte da esposa, D. Pedro I percebeu o quanto a havia tratado mal.
Leopoldina era querida pelo povo, sua popularidade se estendia a todas as classes e ela amava seu marido incondicionalmente, apesar de todas as decepções vividas.
A saudade da esposa era motivo de grande aflição para D. Pedro I, sua amante não conseguia fazê-lo superar os sentimentos que guardava. Um dia Domitila encontrou Pedro abraçado a um retrato da falecida esposa.
Chorando, ele dizia que havia visto o espírito infeliz de Leopoldina e esbravejou:
“Larga-me! Sei que levo vida indigna de um soberano. O pensamento da Imperatriz não me deixa”.
Finalmente, Domitila deixou o palácio.
Em 15 de outubro de 1829, chegava ao Rio de Janeiro a fragata na qual a nova imperatriz brasileira estava. Amélia de Leuchtenberg, nascida em Milão, impressionou o esposo por sua beleza e cuidado com seus filhos.
Amadurecido com as decisões que havia tomado na vida, D. Pedro havia mudado seu comportamento. Uma vez promíscuo, agora a fidelidade à nova esposa se mostrava resiliente, trazendo a normalidade de volta à vida pessoal do imperador.
Mesmo assim, sua popularidade não era boa e a crise gerada por algumas de suas ações o impossibilitou de continuar governando.
D. Pedro I estava se desgastando muito com a sociedade da época. Em 1831 ele abdicou do trono e voltou para Portugal, deixando seu filho Pedro de Alcântara, de apenas 5 anos de idade, no Brasil.
Os principais eventos que desgastaram a posição do imperador foram:
D. Pedro I não era muito popular no Nordeste brasileiro, principalmente por causa de seu autoritarismo. A região tornou-se fonte de críticas ao Império.
Cipriano Barata e Joaquim do Amor Divino (Frei Caneca) veiculavam críticas a D. Pedro I nos jornais de circulação local, respectivamente O Sentinela da Liberdade e Tífis Pernambucano.
A província de Pernambuco era historicamente marcada por várias tensões. Desde 1820, persistia uma insatisfação herdada da Revolução Pernambucana, movimento separatista de 1817.
Por isso, aconteceu uma grande revolta.
O viés pernambucano era republicano e separatista, não monárquico. A isto se acrescentou a insatisfação com o imperador, o que culminou na Confederação do Equador, em 2 de julho de 1824.
Algumas insatisfações estavam acumuladas, especialmente a dissolução da Assembleia Constituinte, sinal de autoritarismo do imperador.
Além disso, foi nomeado para Pernambuco um governador que não era desejado pela elite local. Com o temor de que a região fosse invadida pelos portugueses e com a memória ainda viva da Revolução Pernambucana, a província se rebelou.
A Confederação do Equador começou em Recife. Os líderes foram Frei Caneca e Manoel de Carvalho de Paes de Andrade. O movimento se espalhou pelo Nordeste e alcançou o Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará, Piauí e Maranhão.
O imperador reagiu fortemente e houve execuções em Pernambuco, Ceará e Rio de Janeiro. Em setembro, os rebeldes já haviam sido derrotados.
Para minar ainda mais a popularidade de D. Pedro I no Primeiro Reinado, haveria ainda mais derramamento de sangue.
Outro forte fator de crise do Primeiro Reinado foi a Guerra da Cisplatina, entre 1825 e 1828. Esta região havia sido integrada por D. João VI após derrotar José de Artigas em 1810. O Brasil lutou pela província da Cisplatina para que não fosse anexada às Províncias Unidas do Rio da Prata (Argentina).
Foi uma guerra impopular para o Brasil. Os habitantes da Cisplatina iniciaram uma rebelião, separando-se do Brasil. Assim, o imperador declarou guerra aos habitantes e ao governo de Buenos Aires.
Em três anos de luta, o Brasil acumulou derrotas, enfraqueceu sua relação com o exército e arruinou a economia do país.
A guerra terminou com a assinatura de um acordo mediado pela Inglaterra, que queria manter o livre acesso à bacia do Rio da Prata e manter as relações comerciais.
Ambos os países desistiram da Cisplatina e esta tornou-se independente, o que levou à queda da popularidade do imperador. Por esta razão, em 1828, a Independência da República Oriental do Uruguai foi reconhecida.
Outro problema enfrentado por D. Pedro foi a formação gradual de dois blocos políticos: o partido brasileiro, em oposição ao imperador; e o partido português, em apoio.
Mesmo o partido brasileiro estava dividido entre conservadores e liberais.
Os conservadores desejavam a criação de um governo fortemente centralizado, com uma monarquia dotada de amplos poderes. Os liberais desejavam a criação de uma monarquia constitucional e a descentralização e autonomia administrativa das províncias.
Em 1826, D. João VI faleceu em Portugal. D. Pedro I, que não havia renunciado a seus direitos como herdeiro do trono português, assumiu o trono como Rei de Portugal mesmo estando no Brasil. Em Portugal, ele era D. Pedro IV.
Entretanto, D. Miguel, seu irmão, não aceitou e uma longa batalha começou entre os irmãos.
D. Pedro I tentou negociar com seu irmão. Abdicou do trono e o cedeu à sua filha Maria da Glória.
Dividido entre o trono português e o brasileiro, lidando com protestos de rua e até mesmo com o exército contra sua figura, D. Pedro I renunciou ao trono brasileiro e ofereceu-o a seu filho, Pedro de Alcântara, que só poderia assumi-lo quando completasse 18 anos de idade.
Foi para Portugal lutar contra seu irmão, D. Miguel, e restaurar o trono para sua filha, Maria da Glória. Com a guerra vencida, ela subiu ao trono como D. Maria II.
Com a corte portuguesa instalada no Brasil, após o golpe de Miguel, a animosidade entre portugueses e brasileiros mais uma vez resultou em violentos conflitos.
No Rio de Janeiro, os portugueses faziam festividades para homenagear D. Pedro I quando os brasileiros os atacaram, quebrando vidraças e luminárias. Os portugueses reagiram atirando pedras e garrafas.
O conflito aconteceu entre 13 e 15 de março de 1831 e ficou conhecido como a “Noite das Garrafadas”.
D. Pedro I estava em Minas Gerais para criar o Ministério dos Marqueses, formado apenas por brasileiros. Sua intenção era acalmar os ânimos, mas isto não era suficiente para conter a revolta.
Além disso, havia a suspeita de que o assassinato de Líbero Badaró, jornalista italiano, em São Paulo, em 1830, havia ocorrido a mando do governo. Ele era um forte crítico de D. Pedro I e usava seu jornal O Observador Constitucional para atacar o autoritarismo do imperador.
A Assembleia decidiu agir diante do caos e exigiu que D. Pedro I tomasse providências em relação aos ataques feitos aos brasileiros. Ele ignorou o pedido. A Revolução estava pronta.
Na mesma madrugada, em roupas civis, acompanhado de sua esposa, D. Pedro I partiu para a Europa, entregando sua carta de abdicação para que fosse lida aos brasileiros.
Era a última vez que pisava na terra que havia se tornado independente por suas mãos alguns anos antes.
Protagonizando a mais longa e sangrenta guerra civil da história de Portugal, os portugueses que queriam uma Constituição e liberdade viam esperança em Pedro contra Miguel, o irmão absolutista.
Pedro auxiliou os feridos, construiu trincheiras, fez refeições entre os soldados e guerreou sob fogo pesado enquanto homens ao seu lado eram alvejados.
Entretanto, a luta contra seu irmão debilitou muito sua saúde.
No mesmo ano em que assinou a rendição de seu irmão, a guerra cobrou seu preço. Anos de batalhas, pouco repouso, alimentação escassa, e as consequências da tuberculose marcariam o fim da trajetória do homem que tornou o Brasil independente.
Pedro voltou ao mesmo lugar em que havia nascido: o Palácio de Queluz.
Realizou pequenos encontros onde tomou suas últimas decisões: deu conselhos e prestou homenagens a todos que julgava merecedores, depois, decretou junto aos deputados a maioridade de sua filha, D. Maria II, tornando-a Rainha de Portugal, e finalmente pediu-lhe que fosse enterrado sem requintes, em um caixão de madeira, como um simples soldado.
Morreu em 24 de setembro de 1834, com apenas 35 anos de idade.
Quanto ao seu filho deixado no Brasil, havia um homem em quem D. Pedro I confiava, e ele poderia ser o tutor.
O imperador sabia que seu filho precisaria estar imbuído de valores para governar com sabedoria: honra, patriotismo e saber.
Era preciso que a antiga profecia na qual o filho transcende o pai fosse cumprida e havia apenas um homem em quem D. Pedro I podia confiar seu filho. Este homem era aquele que foi seu mentor, seu antagonista, seu grande amigo e o único capaz de assumir tal responsabilidade.
José Bonifácio retornou do exílio para ser o Regente do Brasil até que D. Pedro II atingisse a maioridade e pudesse de fato governar.
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