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Dom João VI: a história do primeiro Rei coroado em terras brasileiras

História do Brasil
Dom João VI
Capa: Pintura de Dom João VI feita por José Leandro de Carvalho
Redação Brasil Paralelo

A influência dos reis em suas sociedades pode impactar a história por gerações. No Brasil, a presença dos monarcas teve um papel importante no crescimento econômico e cultural. Entre esses soberanos, destaca-se D. João VI, o primeiro rei a ser coroado na terra de Santa Cruz.

A vinda de Dom João ao Brasil trouxe crescimento para o país. Um dos seus primeiros decretos em solo brasileiro foi a abertura dos portos para as nações amigas.

Pouco tempo depois, ele expediu um alvará permitindo o estabelecimento de fábricas no Brasil, o que favoreceu o avanço industrial no país.

Além das questões econômicas, Dom João também deixou um legado cultural para o Brasil que permanece até os dias atuais.

Essas questões não são amplamente conhecidas, e a influência da vinda de D. João VI para o Brasil pode não ser totalmente compreendida. Vamos explorar alguns pontos sobre sua vida, reinado e legado.

Se você está interessado na História do Brasil e deseja saber mais sobre esse tema, assista à série Brasil: A Última Cruzada para um aprofundamento sobre o assunto.

O que você vai encontrar neste artigo?

Resumo da vida de D. João VI

Nascido em Lisboa em 13 de maio de 1767, o Infante D. João VI foi o segundo filho do Rei consorte D. Pedro III e de Dona Maria I de Portugal.

Inicialmente, sua educação não foi voltada para o governo, uma vez que não era o herdeiro direto do trono português. Dom João VI recebeu uma formação abrangente, estudando Letras, música, equitação, legislação, história e literatura, entre outras áreas.

Para fortalecer as relações luso-hispânicas, casou-se com Carlota Joaquina, neta do Rei Carlos III da Espanha, com quem teve nove filhos, incluindo o Imperador Dom Pedro I e D. Miguel, que foi Rei de Portugal.

Em 1788, seu irmão, o Príncipe Herdeiro D. José, faleceu aos 27 anos, sem deixar descendentes, o que levou D. João VI a ser elevado à condição de Príncipe do Brasil, título concedido ao herdeiro do trono português.

Antes da morte de seu irmão, o Rei D. Pedro III também faleceu, e, posteriormente, sua mãe, Dona Maria I, foi afastada de suas funções governamentais devido à incapacidade de continuar no exercício do poder.

Dom João VI como príncipe regente

Inicialmente, D. João não aceitou o título de príncipe regente, acreditando na possível recuperação de sua mãe. No entanto, passou a representá-la em seus deveres monárquicos.

Coube a ele tratar dos assuntos do trono durante o início da Revolução Francesa. Ele se aliou aos espanhóis na tentativa de combater os revolucionários e, juntamente com a marinha inglesa, passou a patrulhar os mares contra os franceses.

Em 1799, recebeu oficialmente o título de príncipe regente de Portugal.

Dom João VI e Napoleão Bonaparte

Napoleão Bonaparte avançava pela Europa, promovendo os ideais da Revolução Francesa, destronando monarcas e colocando seus generais e parentes no poder. Após destituir o Rei da Espanha, Napoleão nomeou seu irmão, José Bonaparte, como o novo rei.

O imperador francês buscava expandir sua influência e frear a Inglaterra, exigindo o fechamento de todos os portos europeus ao comércio com os ingleses. Essa medida ficou conhecida como o Bloqueio Continental.

Apenas um reino se opôs às ordens de Napoleão: Portugal, sob o comando de D. João VI. Essa resistência provocou a ira de Napoleão, que decidiu avançar contra o território português.

Espiões portugueses e ingleses em território espanhol avisaram o príncipe regente sobre a iminente investida napoleônica, colocando D. João VI diante de um dilema: 

  • Cedia às pressões francesas e aderiria ao bloqueio continental, tornando-se aliado dos franceses;
  • Aceitaria a oferta de apoio dos aliados ingleses.

A Vinda de Dom João VI para o Brasil

Observando que a corte estava dividida entre apoiadores dos ingleses e dos franceses, D. João decidiu transferir a corte e a administração para o Brasil.

O príncipe regente contou com a ajuda dos aliados ingleses para deixar Portugal em segurança. Em uma participação no programa Conversa Paralela, o historiador Raphael Tonon relata que D. João VI planejou sua saída de Portugal de forma a deixar uma impressão no general francês.

“Ele mediu a distância onde os tiros de canhão não alcançavam. Ele pediu que os navios esperassem e quando napoleão apareceu no alto de Santa Catarina, para descer para o porto de Lisboa, D. João pede que a tripulação acene para Napoleão com seus lenços, deixando Napoleão a ver navios”.

D. João contava com sua aliança com o Rei Jorge III para garantir sua soberania sobre o trono de Portugal e sua segurança em alto-mar.

Após 54 dias de viagem, em 22 de janeiro de 1808, D. João VI, sua família e a corte chegaram ao Brasil, desembarcando inicialmente em Salvador, onde foram recebidos com grande cerimônia. Após alguns dias, seguiram viagem para o Rio de Janeiro.

Ainda em solo baiano, D. João VI, por meio de uma carta régia, declarou os portos brasileiros abertos às nações amigas. Os portos haviam permanecido fechados durante décadas devido às invasões holandesas no Nordeste do Brasil.

Dom João VI no Brasil

A chegada da família real ao Brasil representou um novo passo para que a colônia pudesse caminhar em direção à soberania, uma vez que já existiam alguns elementos necessários para o estabelecimento de um Estado, conforme a teoria de Hans Kelsen, que são:

  • Território;
  • Povo;
  • Poder Soberano.

Juntamente com D. João VI, vieram nobres, prelados e funcionários da corte portuguesa. Estima-se que entre 10 e 15 mil portugueses saíram de Portugal fugindo do avanço napoleônico.

Trouxeram consigo ricas bagagens, como móveis, quadros e a biblioteca real, que transportou para o continente americano muitas obras clássicas da cultura ocidental.

D. João VI chegou ao Rio de Janeiro em 7 de março de 1808 e foi recebido com grande festa pela população. Pela primeira vez, um monarca pisava em solo brasileiro.

Dom João VI fez o Brasil se desenvolver

Pouco depois de sua chegada, revogou a proibição imposta por sua mãe, que impedia o estabelecimento de fábricas no Brasil, o que abriu caminho para o desenvolvimento tecnológico e industrial no país.

A economia brasileira prosperou durante o período joanino. Os portos, abertos pelo príncipe regente, transformaram o Brasil em um importante polo comercial, e a liberdade industrial impulsionou o crescimento do poder local.

Sob as ordens de D. João VI, diversos empreendimentos foram criados no Brasil, incluindo o investimento na infraestrutura da capital e a introdução de novos serviços, como cabeleireiros e chapeleiros.

Além disso, ele fundou a Real Academia Militar, que se tornou a primeira instituição de ensino superior em áreas como medicina, engenharia civil e mineração no Brasil.

Outras Criações foram: 

  • A Biblioteca Nacional; composta das obras que foram trazidas pelo monarca de portugal;
  • A academia de belas artes;
  • A Real Fábrica de Pólvora;
  • O Banco do Brasil;
  • O Jardim Botânico;
  • A Gazeta do Rio de Janeiro, o primeiro jornal publicado em território nacional.

O investimento trazido por D. João VI de Portugal foi aplicado em obras que promoveram a melhoria e o crescimento do Brasil, que havia se tornado o centro do Reino de Portugal.

Em 16 de janeiro de 1815, o príncipe regente elevou o Brasil, até então uma colônia administrada por um vice-rei nomeado pelo monarca português, à condição de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.

Dom João VI, Rei do reino unido de Portugal, Brasil e Algarves

Com a elevação do Brasil de colônia à parte integrante do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, o príncipe regente deu um importante passo em direção à futura soberania nacional brasileira.

O testemunho do Padre Luís Gonçalves dos Santos, conhecido como Padre Perereca, reflete o sentimento dos brasileiros quanto ao potencial da nação e ao que ela poderia vir a se tornar:

"Se tão grandes eram os motivos de mágoa e aflição, não menores eram as causas de consolo e de prazer: uma nova ordem de coisas ia a principiar nesta parte do hemisfério austral. O império do Brasil já se considerava projetado, e ansiosamente suspiravamos pela poderosa mão do príncipe regente nosso senhor para lançar a primeira pedra da futura grandeza, prosperidade e poder do novo império".

No dia 20 de março de 1816, faleceu Dona Maria I, e a coroa portuguesa passou para D. João VI, que começou a exercer o papel de rei imediatamente, embora não tenha sido sagrado de imediato.

D. João VI foi sagrado Rei de Portugal, Brasil e Algarves somente em 6 de fevereiro de 1818. Naquela época, iniciaram-se as missões artísticas e científicas francesas e austríacas sob sua proteção.

Sua esposa, Dona Carlota Joaquina, conspirava contra os interesses de D. João, um comportamento que já se manifestava antes da saída da família de Portugal.

Ambicionando um reino para si, ela buscou fazer alianças com espanhóis e aspirava uma regência espanhola ou um pequeno reinado em uma das colônias espanholas na América do Sul.

Embora tivesse essas ambições, Dona Carlota Joaquina influenciou e ajudou seu marido a se envolver mais na política espanhola, o que culminou na tomada de Montevidéu e na anexação da província Cisplatina ao território brasileiro.

Na mesma época, D. João VI enfrentou dificuldades para casar seu filho e herdeiro, D. Pedro, já que o Brasil era visto na Europa como uma terra distante e insegura.

Finalmente, através de seu embaixador, conseguiu um casamento para seu filho com a princesa Leopoldina, filha do imperador Francisco I da Áustria.

Enquanto isso, Napoleão havia perecido na Batalha de Waterloo, e a Europa estava livre da ameaça do imperador francês. Portugal estava novamente livre, mas a ausência do rei português trouxe problemas para a terra lusitana.

O Retorno de Dom João VI para Portugal

Napoleão Bonaparte pereceu em 1815 na Batalha de Waterloo, e Portugal foi libertado da ameaça francesa. Embora a notícia fosse celebrada pelos portugueses, a ausência da família real criou um clima hostil na metrópole, desencadeando a Revolução do Porto.

A pressão das cortes portuguesas sobre o rei tornou-se insuportável, e D. João VI não pôde mais permanecer no Brasil. Antes de partir, nomeou seu filho D. Pedro como Regente do Brasil e retornou a Portugal.

Após treze anos em solo brasileiro, D. João VI partiu para Portugal em 26 de abril de 1821, chegando a Lisboa em 3 de julho.

Em 1 de outubro de 1822, D. João VI jurou a nova constituição portuguesa. Dona Carlota Joaquina não seguiu os passos do marido e teve seus direitos governamentais cassados. Juntamente com seu filho D. Miguel, passou a opor-se ao rei.

Após sucessivos levantes contra D. João VI, D. Miguel foi exilado por seu pai, e Dona Carlota Joaquina foi confinada no Palácio de Queluz.

A Morte de Dom João VI

Nos últimos anos de sua vida, D. João VI enfrentou diversas oposições de partidários leais à Rainha e aos espanhóis. Contudo, suas maiores dificuldades foram relacionadas à independência do Brasil, que foi amplamente incentivada por ele a seu filho, D. Pedro, antes de deixar as terras brasileiras.

O Brasil era o principal centro econômico de Portugal, e as cortes temiam que a independência brasileira causasse crises internas em Portugal.

Considerou-se, então, a possibilidade de uma reconquista do território brasileiro, mas, por meio de negociações e pressão inglesa, a coroa portuguesa reconheceu a independência do Brasil em 29 de agosto de 1825.

Inicialmente, para os portugueses, D. Pedro I não seria reconhecido como imperador, mas apenas como imperador regente. D. João manteria o título de Sua Majestade o Imperador e Rei D. João VI.

Em 4 de março de 1826, após retornar de um almoço no Mosteiro dos Jerônimos, D. João VI passou mal, sofrendo com vômitos, convulsões e desmaios.

Diante da deterioração de sua saúde, nomeou sua filha, Dona Isabel Maria, como regente. Sua condição agravou-se nos dias seguintes e, em 10 de março, faleceu, aos 58 anos de idade, no Palácio de Bemposta.

D. João VI foi sepultado no Panteão dos Braganças, na Igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa.

O legado de D. João VI

A chegada de D. João VI ao Brasil foi um marco para o desenvolvimento cultural e econômico do país. Como o primeiro rei a pisar em solo brasileiro, D. João VI foi profundamente impactado por suas experiências no Brasil.

Seu afeto pelo Brasil foi expresso quando chorou ao retornar a Lisboa, sua esposa, Carlota Joaquina, limpou os pés ao chegar e manifestou seu descontentamento com a terra brasileira.

D. João VI também ficou eternizado nas páginas do diário de Napoleão Bonaparte. Segundo o professor Raphael Tonon, em uma participação no programa Conversa Paralela, a única mágoa que o general francês levou para seu túmulo foi a de ter sido enganado por Dom João VI.

A vinda da família real para o Brasil foi um episódio significativo na história do país. Para entender os eventos que antecederam a chegada de D. João VI ao Brasil, conheça a produção Brasil: A Última Cruzada.

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