Portugal foi pioneiro nas grandes navegações e numa dessas aventuras a frota de Pedro Álvares Cabral promoveu o Descobrimento do Brasil. Isso aconteceu no início da Era Moderna, quando o ser humano se jogou em uma empreitada inédita: a expansão marítima.
O contato entre indígenas e portugueses iniciou o processo histórico que construiu a Nação Brasileira. Entenda como isso aconteceu.
Se você é uma pessoa que ama História do Brasil e quer conhecer mais sobre esse tema, assista à série Brasil: A Última Cruzada e veja o maior resgate já feito da nossa história.
No dia 22 de abril de 1500, uma frota de embarcações portuguesas chegou ao território que hoje chamamos de Brasil. Esses navios eram liderados por Pedro Álvares Cabral, acompanhado por mais de 1400 homens.
O objetivo oficial da campanha era o de chegar à Índia por uma rota marítima, já que o caminho comercial por terra era controlado por outros países.
A frota mobilizada para essa missão foi enorme para a época: nove naus, três caravelas e uma naveta de mantimentos. Naus são grandes embarcações que chegam a medir 35 metros. Caravelas são um pouco menores, medindo 22 metros. E uma naveta é um barco pequeno.
Durante a viagem, a frota sofreu um grande desvio e saiu do caminho planejado. Pretendia passar pela costa africana até à Índia e foi parar em terras brasileiras.
A chegada dos portugueses nessas novas terras é denominada de “Descobrimento do Brasil”. A partir desse momento, eles tiveram contato com povos até então desconhecidos e vislumbraram um território muito diferente do que estavam acostumados.
Não existe prova documental de que esse desvio tenha sido proposital, mas há evidência de que os portugueses sabiam que havia terras na região da América do Sul. Porém, saber que essas terras existem não necessariamente evidencia que a expedição de Cabral tinha a intenção de ir até o Brasil.
Historiadores se dividem sobre esse assunto. O historiador Thomas Giuliano, em entrevista ao documentário Brasil: A Última Cruzada, disse o seguinte sobre o tema:
“O processo de intencionalidade dos portugueses é um debate que perambulou uma ampla historiografia no Brasil e eu vou apresentar duas vertentes: Edson Nery da Fonseca e Gilberto Freyre, acompanhados de outros, defendiam a intencionalidade dos portugueses. Por sua vez, historiadores como Capistrano de Abreu e Varnhagen defendiam o processo da causalidade.”
Defender o processo da intencionalidade significa defender que os portugueses tinham a intenção de chegar às terras brasileiras. Já defender a causalidade é achar mais provável que o desvio aconteceu de maneira inesperada.
O historiador também pontuou que, para o português daquele tempo, a relevância desse debate é menor, pois não existe causalidade em um universo que existe a providência divina. Os portugueses encararam a missão do descobrimento do Brasil como fruto da vontade de Deus.
Portugal, ao lado da Espanha, foi pioneiro nas grandes navegações. O pequeno país europeu sempre conviveu muito próximo ao mar, não à toa o seu nome deriva do termo em latim Portus Cale, onde portus refere-se a porto e cale a caminho. Foram os 5 principais motivos que fizeram Portugal ser pioneiro nas grandes navegações:
Observando o mapa da Europa, o motivo deste nome fica claro. Portugal é um país com grande parte do seu território com praias, e o mar sempre esteve próximo do seu povo. Assim, a geografia do país empurrou o sua população ao mar, impactando a sua economia e a alimentação com a pesca.
Portugal fica na região da Península Ibérica que é o extremo oeste europeu. Grande parte do comércio e exploração de matérias-primas, naquele tempo, ocorria na Ásia e África, já que a América era um território desconhecido.
Para chegar a essas regiões, Portugal tinha que seguir um caminho por terra que passasse pela Eurásia e, quando se usava a navegação, dependia do Mar Mediterrâneo. Este território era controlado por diferentes povos, assim sendo:
Achar uma outra rota comercial era uma necessidade para o país. O mar foi a possibilidade encontrada para se chegar à Índia passando pelo sul da África, pelo chamado Cabo das Tormentas que, depois de alcançado por Portugal, foi rebatizado de Cabo da Boa Esperança.
Tanto Portugal, quanto a Espanha, eram países católicos. Tendo-se em vista o espírito missionário cristão, o chamado à missão de espalhar o Evangelho pelo mundo, as grandes navegações eram de grande interesse da Igreja. Descobrir terras não exploradas era a chance de levar a Fé cristã a outros povos.
Este processo no qual clérigos vão a povos pagãos mostrar a palavra de Cristo é denominado de catequização.
A igreja administrava esses empreendimentos por meio das ordens religiosas, ou seja, grupos dentro da Igreja que propagavam a fé seguindo o modo e carisma do seu fundador. Por exemplo, os franciscanos se baseiam no modo como São Francisco de Assis agia e ensinava; os jesuítas baseiam-se em Inácio de Loyola e assim com as outras Ordens.
Toda a expansão marítima também foi incentivada pelas cruzadas. Cristóvão Colombo, por exemplo, tinha como objetivo encontrar ouro nas Américas para financiar a reconstrução da Espanha após a Guerra de Reconquista da Península Ibérica.
Cristóvão Colombo foi um importante navegador genovês que serviu ao governo espanhol na missão que descobriu a América. Porém, ele chegou à América do Norte, região que hoje corresponde aos Estados Unidos. Na América do Sul, mais precisamente no Brasil, Pedro Álvares Cabral foi o primeiro europeu a chegar.
Um elemento intimamente ligado aos anteriores é o heroísmo. Os navegadores se lançaram no perigo ao enfrentar longas distâncias no mar, com poucas chances de voltar para casa.
Arriscar a sua vida no mar era para o português um ato heroico. Uma forma de mostrar o seu valor ao mundo. Assim como motivos externos, como a economia, motivos internos, como os ligados ao heroísmo, motivaram esses homens a se lançarem nessa aventura.
Um dos fatores fundamentais para a expansão marítima foi o processo de modernização do mundo. Como Portugal foi o primeiro Estado-nação, ele passou a ter um governo mais centralizado que unia a energia dos diferentes povoados para conquistar os mares.
Também foi necessário investir no avanço científico e técnico da navegação. Embarcações mais eficientes e mecanismos de geolocalização contribuíram para que os portugueses conseguissem navegar. É nesse momento que surge a famosa “Escola de Sagres”, uma escola náutica criada pelo rei de Portugal que deu origem aos maiores especialistas em navegação.
Mesmo não sendo uma escola no sentido literal do termo, ou seja, uma instituição física, a Escola de Sagres foi um conjunto de metodologias que deram a base para que surgissem esses “pensadores da navegação”.
Pedro Álvares Cabral nasceu em 1467 em uma família nobre portuguesa. Ele teve uma educação rigorosa em sua infância. A sua família era bem reputada em Portugal pela dedicação na luta contra os mulçumanos.
Durante o reinado de Dom Manuel, Cabral recebeu o título de Fidalgo do Conselho do Rei e Cavaleiro da Ordem de Cristo. Fidalgo é uma palavra utilizada para se referir a alguém que possui algum título de nobreza.
Em 1499, pela sua hereditariedade nobre e talento nas mais diversas áreas, Cabral também recebeu o cargo de capitão-mor da armada que tinha como destino a Índia.
A viagem partiu para esse destino no ano de 1500, mas muita coisa aconteceu no caminho. Com apenas 33 anos de idade, ele liderou uma grande esquadra que foi responsável pelo descobrimento do Brasil.
Os tripulantes portugueses enfrentaram péssimas condições nas embarcações rumo ao Brasil; alimentação à base de biscoitos secos, os navios cheios de ratos e não havia como tomar banho.
O mar se manifestava de maneira violenta, tanto que, com apenas oito dias de viagem, a frota enfrentou uma tempestade tão intensa que o barco comandado por Vasco de Ataíde, que contava com 150 homens, sumiu do mapa.
Eles sabiam do risco que corriam, o mar naquela época era algo inexplorado, desconhecido e onde vários marinheiros perdiam a vida. Muitos se referiam ao Oceano Atlântico como “Mar Tenebroso”.
Por um lado, as embarcações sofriam com as tempestades e por outro, sofriam com a calmaria. Esse é um fenômeno que ocorre quando o mar não tem movimento o suficiente para empurrar as embarcações. Cabral chegou a ficar 20 dias praticamente parado. Enquanto isso, os alimentos e a água potável estavam sendo consumidos pela tripulação.
Essa tripulação era totalmente composta por homens, não era permitido o embarque de mulheres. Meninos de 9 a 15 anos também fizeram parte da viagem. Os marinheiros, os soldados e os religiosos compunham os cargos.
No dia 22 de abril de 1500, os portugueses chegaram às terras brasileiras; a viagem durou 44 dias. O primeiro pedaço de terra a ser avistado foi um monte na região que hoje corresponde à Bahia. Como se tratava de uma época de Páscoa, o monte avistado foi batizado de Monte Pascoal.
Outro tema sempre vem à tona quando se discute como foram os primeiros contatos entre portugueses e indígenas: Qual o termo adequado para a chegada dos portugueses?
Quem defende o descobrimento é bombardeado por defensores da tese que o Brasil já havia sido descoberto pelos índios. Nesse caso, os portugueses tomaram as terras que pertenciam aos indígenas por direito.
Para outros, a opção de invasão é adequada à visão de violência e genocídio português. Alguns grupos de historiadores ensinam que os índios viviam tranquilamente quando o europeu chegou semeando a desordem.
E, por fim, existe a opção neutra, a de um achamento. Os portugueses acharam um território novo que já era habitado por outro povo.
Dois pontos são necessários entender para bem considerar essa questão:
Os índios habitavam uma pequena parcela de um território vasto. Uma grande floresta de vegetação alta e densa. O horizonte parecia ser infinito e os povos preocupavam-se apenas em demarcar a área de suas tribos.
Muitos povos eram até seminômades, tendo ainda menos apego à terra. Portanto, “invasão” é um termo apropriado apenas para ataques a tribos, quando eles ocorriam.
A ideia de “achamento”, apesar da neutralidade, traz um erro na sua formulação, como se o território no continente americano fosse um grande fruto do acaso e que os portugueses um dia tiveram a sorte de encontrar.
Essa tese do acaso, em muitas escolas, ainda é ensinada.
Como há um momento de encontro de dois povos que nunca se viram, o termo “descobrimento” é adequado. Os índios encontraram um homem novo, que portavam objetos, roupas, armas e até animais que nunca viram antes.
Os europeus também se depararam com um território completamente novo, um povo nativo com uma língua nunca ouvida e com hábitos peculiares, além de uma fauna e flora ainda não conhecida.
Desse modo, tendo-se em vista o encontro entre duas culturas desconhecidas, é possível nomear o encontro entre europeus e indígenas de descobrimento.
Para os portugueses e indígenas, o dia 22 de abril de 1500 foi um momento de descoberta de algo novo. A curiosidade e o espanto foram as duas sensações predominantes.
Ao contrário do que se pode imaginar, eles não se relacionaram de maneira violenta. As trocas ocorreram por meio do “escambo”, os portugueses entregavam um produto em troca do pau-brasil. Já na parte religiosa, apenas 4 dias após a chegada foi celebrada uma missa que contou com a participação dos indígenas.
A celebração desta missa ocorreu no atual município de Cabrália, na Bahia. Ela foi celebrada por Dom Henrique Soares Coimbra, um dos religiosos que vieram nas embarcações com o objetivo de propagar a fé cristã pelo mundo.
À primeira vista, a troca de mercadorias simples como espelhos, garfos e facas parece muito mais vantajosa para os portugueses, porém, é preciso analisar a demanda de cada povo.
No Brasil, havia uma abundância de árvores, ou seja, entregar uma quantidade para os portugueses não faria falta aos indígenas. Contudo, eles nunca haviam visto aqueles objetos e não teriam outra oportunidade para consegui-los, isso aumentava o desejo deles em relação ao produto.
Ao analisar, é possível aplicar a lei da oferta e demanda. Como tinha uma grande oferta de árvores, o produto perdia valor para os indígenas. O mesmo se aplica aos portugueses, que tinham grande disponibilidade de espelhos e garfos. Assim sendo, cada um buscou o seu interesse e o escambo trouxe benefícios a ambos os lados.
A melhor descrição sobre o primeiro contato entre indígenas e portugueses foi a carta de Pero Vaz de Caminha. Ele conta que ao ver os indígenas na praia Cabral mandou que pequenos barcos fossem ter contato com eles. Um dos tripulantes desses barcos era Afonso Lopes, que fez com que dois indígenas entrassem e fossem até uma das naus onde estava Cabral:
“Trouxe-os logo, já de noite, ao Capitão, em cuja nau foram recebidos com muito prazer e festa.
A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem-feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e verdadeiros, de comprimento duma mão travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudos na ponta como um furador.
Metem-os pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita como roque de xadrez, ali encaixado de tal sorte que não os molesta, nem os estorva no falar, no comer ou no beber.
Os cabelos seus são corredios. E andavam tosquiados, de tosquia alta, mais que de sobrepente, de boa grandura e rapados até por cima das orelhas. E um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a fonte para detrás, uma espécie de cabeleira de penas de ave amarelas, que seria do comprimento de um coto, mui basta e mui cerrada, que lhe cobria o toutiço e as orelhas.
E andava pegada aos cabelos, pena e pena, com uma confeição branda como cera (mas não o era), de maneira que a cabeleira ficava mui redonda e mui basta, e mui igual, e não fazia míngua mais lavagem para a levantar.”
Infelizmente não existe um documento que mostre a primeira impressão dos indígenas ao verem os portugueses. Esses povos indígenas não possuíam um sistema de escrita para narrar o que viram e sentiram naquele momento.
É importante pontuar duas coisas:
Cabral e a maior parte da sua tropa saiu do Brasil no dia 02 de maio de 1500, ao todo, ficaram 10 dias em solo brasileiro. Apenas dois degredados foram escalados para ficar na terra recém-descoberta. Degredados são presos em Portugal que tinham a pena perdoada por aceitar correr o risco de se lançarem nas grandes navegações.
Além desses homens, duas outras pessoas cansadas da péssima situação nas embarcações, roubaram um barquinho da frota e voltaram para o Brasil na calada da noite. Não há mais informações sobre elas.
O processo de colonização do Brasil tornou-se mais intenso a partir do ano de 1532, com a formação das Capitanias Hereditárias.
O primeiro nome do Brasil foi “Ilha de Santa Cruz”, após a frota de Cabral perceber que não se tratava de uma ilha o nome mudou para “Terra de Santa Cruz”. Contudo, um nome não oficial começou a ganhar cada vez mais popularidade: Brasil.
A origem do termo “Brasil” se refere à árvore chamada pau-Brasil que tinha dentro do seu tronco uma tinta vermelha que lembrava a brasa, daí o nome brasil. Essa árvore era muito abundante no país e daí vem a teoria da origem do termo.
Existem também teorias de que o nome Brasil veio de uma ilha fantasiosa que já constava nos mapas medievais. Essa ilha possuía uma maravilhosa vegetação e belas paisagens. Mas parece algo menos provável do que a ideia de que o nome Brasil vem da árvore.
Independente da origem exata do termo, o nome Brasil surgiu como algo coloquial que, pelo intenso uso, tornou-se o nome oficial do país.
- Para saber mais: Qual a origem do nome Brasil?
Conhecer a História do Brasil é um passo fundamental para quem sonha em construir um país melhor.
Todas as semanas, a Brasil Paralelo posta textos completos para te ajudar nesta missão.
Cupom aplicado 37% OFF
Cupom aplicado 62% OFF
MAIOR DESCONTO
Cupom aplicado 54% OFF
Assine e tenha 12 meses de acesso a todo o catálogo e aos próximos lançamentos da BP