Essas eleições aconteceram no contexto da guerra na Ucrânia, a qual o presidente russo se refere como uma “operação política especial”. Apesar das críticas de organizações internacionais, Putin tem se utilizado do conflito para evocar o sentimento nacionalista russo e crescer a sua popularidade.
O discurso de Vladimir Putin, nos últimos anos, tem sido em torno de uma suposta tentativa ocidental de destruir a Rússia. Segundo Putin, os ocidentais influenciam negativamente a população russa tentando promover atitudes subversivas na sociedade. Em ocasião da invasão à Ucrânia, ele comentou em discurso à Nação no dia 24 de fevereiro de 2022:
“Sim, realmente, nem mesmo nos últimos tempos cessaram as tentativas de nos usar para seus próprios interesses, de destruir nossos valores tradicionais e nos impingir seus pseudovalores, que nos corroeriam, a nós, nosso povo, por dentro — aquelas diretrizes que eles já engendram agressivamente em seus países e que levam diretamente à degradação e à degenerescência, mesmo que isso contrarie a própria natureza humana. Isso não vai acontecer, nunca funcionou para ninguém. E não funcionará agora também.”
Vladimir Putin também pontua o crescimento de influência da Otan, o que, segundo ele, promoveria uma ameaça territorial à Rússia:
“Sabe-se bem que por 30 anos tentamos, persistente e pacientemente, chegar a um acordo com os principais países da Otan sobre os princípios de uma segurança igualitária e unida na Europa. Como resposta a nossas propostas, frequentemente nos debatemos ou com enganações cínicas e mentiras, ou com tentativas de pressão e chantagem, enquanto a Aliança do Atlântico Norte, no meio tempo, apesar de todos os nossos protestos e cuidados, se expande sem parar. A máquina de guerra se movimenta e, repito, se aproxima em cheio de nossas fronteiras.”
Além da mobilização do nacionalismo russo e da perseguição à oposição, um outro fator causa essa força política de Putin, ele é visto como a pessoa que resgatou a Rússia da humilhação na qual ela foi jogada após a queda da União Soviética, recuperando-a de uma economia fraca e uma sociedade desestruturada.
Vladimir Putin iniciou o seu envolvimento político entrando para o serviço secreto russo, a KGB, logo após a sua formatura em Direito, no ano de 1975. Neste tempo, a Rússia fazia parte da União Soviética e o serviço de inteligência era a espinha dorsal do regime.
O primeiro nome do órgão foi Cheka e a sua criação data do mesmo ano da revolução que colocou os comunistas no poder, 1917. Segundo o livro Desinformação: medidas ativas na estratégia soviética de Schultz e Godson:
“Criada primitivamente como um órgão de investigação, a Cheka rapidamente transformou-se em um instrumento de terror para eliminar a oposição ao sistema bolchevique dentro e fora do país.”
Ao contrário do serviço de inteligência americano, em que existe um órgão que cuida das questões internas (FBI) e um órgão que cuida das questões externas (CIA), na Rússia a Cheka absorveu essas duas jurisdições.
O órgão teve um amplo desenvolvimento ao longo do tempo, ganhando cada vez mais poder. Segundo o livro A Explosão da Rússia de Felshtinsky e Litvinenko:
“Desde os primeiros anos do poder soviético, os organismos de punição criados pelo Partido Comunista mostraram-se implacáveis e impiedosos. Desde o início, os atos dos indivíduos que trabalhavam nesses departamentos passavam ao largo dos valores e princípios da humanidade comum. [...] Nenhum outro país civilizado jamais teve algo comparável com as agências de segurança de Estado da URSS. Exceto no caso da Gestapo na Alemanha nazista, nunca houve uma outra polícia política que dispusesse de suas próprias divisões operacionais e investigativas ou seus centros de detenção, como por exemplo a prisão do FSB em Lefortovo.”
A Cheka não manteve-se com este mesmo nome. De Cheka, ela virou GPU, depois OGPU, em seguida GUGB + NKVD, depois NKGB, em seguida MGB e finalmente KGB.
Como KGB, o órgão chegou ao ápice da sua influência nacional e internacional. E foi neste aparato do regime soviético, que Putin começou a sua vida profissional.
Nele, o futuro presidente russo tinha acesso a discussões sigilosas e teve contato de perto com os bastidores do poder. Fez amigos influentes e ganhou prestígio. Porém, um evento veio abalar todo o país, a queda da União Soviética em 1891.
Em 1991, o maior país comunista sofreu uma profunda transformação. Após o relatório de Kruschev no XX Congresso do Partido Comunista denunciando os horrores cometidos por Stalin, o país entrou em uma profunda crise política.
A pressão internacional pela abertura do regime cresceu e, somada às diversas crises econômicas, acabou fazendo países membros da União Soviética abandonarem o grupo. Com a URSS em crise, o presidente Gorbachev declarou o seu fim.
O grande problema é que não houve um plano de sucessão. Medidas liberalizantes foram adotadas em um país que passou quase todo o século XX fechado. O resultado foi uma crise pior do que a que derrubou o regime.
O nível de alcoolismo no país subiu, desemprego em massa, falta de suprimentos básicos e um sentimento de humilhação perante aos Estados Unidos.
Esse sentimento se acentuou com a eleição de Boris Yeltsin, presidente que aparecia frequentemente bêbado em público. Uma vez em TV aberta, Yeltsin encontrou o presidente dos Estados Unidos e ambos riram e se divertiram bastante.
Para o cidadão russo ver o seu país, que era a segunda maior potência do mundo, se tornar um país frequentemente humilhado e derrotado pelo ocidente, era algo ruim.
Foi neste contexto que uma figura forte e autoritária como a de Putin ganhou espaço. Membro do serviço de inteligência, ele foi visto como alguém capaz de fazer a Rússia voltar a ter expressão global.
Por mais que com a queda da União Soviética a KGB teve o seu fim oficialmente, isso não quer dizer o seu fim de fato. Ela se desmembrou em vários outros órgãos na estratégia de sacrificar o nome e preservar as estruturas:
“Esta longa sequência de atos de reestruturação e mudanças de nomes destinava-se a proteger a estrutura organizacional das agências de segurança do Estado, ainda que de forma descentralizada, frente aos ataques dos democratas, juntamente com a estrutura para preservar o pessoal, os arquivos e os agentes secretos.” (LITVINENKO, FELSHTINSKY, p.13)
Da KGB veio a Gups, a SVR, a Agência Federal de Informação e Comunicações Governamentais, a FPS, o Departamento da Guarda Pessoal do Gabinete do Presidente da RSFSR, a SBP e a FSO. Depois, todos esses grupos se tornaram AFB e MSB, em seguida MB, depois FSK e atualmente é a FSB. Ou seja, existe uma linha direta entre a Cheka, passando pela KGB e se tornando a atual FSB.
E Putin fez parte dessa estrutura, é nela que ele se formou e com ela aprendeu a fazer política:
“‘O Serviço Federal de Segurança conseguiu eleger presidente o seu candidato’. Ao falar no aniversário de fundação da Comissão Extraordinária Pan-Russa, no dia 20 de dezembro, Putin começou seu discurso aos colegas dizendo que a missão do FSB estava concluída: ele se havia tornado o primeiro-ministro da Rússia” (LITVINENKO, FELSHTINSKY, p.243)
Essa informação traz uma profunda clareza sobre o pensamento político de Putin e sobre o seu modo de agir. E por mais que suas ações não sigam a noção democrática que a Rússia se propôs após o fim da União Soviética, elas entregam ao povo a força que eles demandam.
Putin sempre agiu à margem da legislação russa e da legislação internacional, ele é acusado de envolvimento em uma série de assassinatos: Alexander Litvinenko, Boris Nemtsov, Magnitshy, Mikhail Bekhetov, Boris Berezovick, Yulia Skripal, Serguei Skripal e agora um mais recente, o de Alexei Navalny.
Alexei Navalny era o mais expressivo opositor de Vladimir Putin dentro da Rússia. Ele ficou muito conhecido por denunciar supostos casos de corrupção contínuos do Kremlin.
Navalny era um preso político do governo russo e estava recluso na penitenciária de Yamalo-Nenets, na região ártica da Rússia.
Segundo a sua esposa Yulia, que também é uma opositora do governo Putin, o presidente russo é diretamente responsável pela morte de seu marido.
Ela não faz essa acusação sozinha, tanto a União Europeia, quanto o Governo dos Estados Unidos, corroboram com essa tese.
A morte de Alexei suscitou uma série de manifestações na Rússia e, na internet, foi resgatado um relato que ele deu ao documentário Navalny, ganhador do Oscar 2023, em que o ativista afirmou que se a Rússia decidisse matá-lo, é porque eles são fortes e incomodam o presidente Vladimir Putin.
Segundo o livro "A Explosão da Rússia", Putin é diretamente ligado a assassinatos e ações terroristas. As suas primeiras ações após ser eleito foram:
Como Putin é um herdeiro de um dos principais órgãos de poder na União Soviética, a KGB, a sua forma de agir segue a mesma estratégia, mesmo que baseada em valores diferentes.
Se naquele tempo a cosmovisão do governo era o bolchevismo, hoje é a Igreja Ortodoxa. Se naquele tempo o grande inimigo era o capitalismo, hoje é a Otan e as influências ocidentais.
Por mais que a queda da União Soviética pareça um rompimento da Rússia com o seu passado, ela é, na verdade, mais uma situação de crise e continuidade, onde muita coisa parece mudar, mas continua igual.
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