“Uma das maiores queixas de mães é que as escolas abusam de tecnologias em sala de aula”, afirma Stela Palmieri em entrevista ao portal Brasil Paralelo. A psicóloga conta que cada vez mais pais estão preocupados com o excesso de tecnologia usada por estudantes na escola.
A demanda tem chegado também a diretores e professores. Algumas escolas particulares de São Paulo estão inclusive cogitando proibir o uso de celulares durante as aulas devido ao excesso de uso por parte dos alunos. Algumas instituições inclusive estão propondo atividades extras durante o recreio para incentivar seus alunos a saírem das telas.
A preocupação não é imotivada. Uma pesquisa publicada no ano passado pela mestre em psicologia Mariana Puccinelli, afirma que a exposição indiscriminada de crianças às telas gera estímulos que vão além da capacidade de elaboração delas.
Desconectar um pouco crianças e adolescentes pode ser um objetivo desafiador. Um colégio de São Paulo realizando uma experiência em que exclui o uso do aparelho de atividades escolares. A diretora da instituição afirma que além dessa medida, funcionários percorrem os corredores durante o intervalo e incentivam alunos que ficam apenas no celular a participar de outras atividades.
Outra estratégia adotada foi a de trancar salas durante os intervalos, a fim de que alunos não fiquem o tempo todo trancados usando os aparelhos eletrônicos.
A profissional afirma que as medidas têm surtido efeito inclusive para identificar estudantes que precisem de ajuda, como precisar lidar com algum tipo de vício, por exemplo.
As famílias também estão ajudando as escolas nesse processo. A pedagoga Ana Carolina Barbi e o executivo do segmento de construção civil Humberto Terra criam os dois filhos de 12 e 10 anos com uso restrito de telas. Barbi afirma que apesar de desafiadora, a decisão só trouxe benefícios à sua família.
A vida sem telas de Tiago, de 12 anos, e Melina, de 10, é recente. A dupla utilizou tablet, videogame e celular até a pandemia de Covid-19, há 4 anos. Naquele tempo, o uso de dispositivos eletrônicos pelos pequenos já se restringia a 20 minutos por dia.
Foi durante sua pós graduação no tempo do isolamento que a pedagoga teve ciência dos malefícios das telas para seus pequenos. Em comum acordo, o casal conversou com os filhos sobre a mudança na rotina da família. Terra relata que confiou nos estudos da esposa sobre o assunto e hoje vê os frutos em seus filhos.
O engenheiro conta que o comportamento das crianças após o fim do uso do dispositivo mudou radicalmente. Ressalta também que estar alinhado com a esposa é fundamental para dar certo.
“Eu acho que eu acabei também comprando essa linha de educação e de criação dos filhos pelo resultado que eu via de forma prática no dia a dia deles. As correções de rota geraram efeitos positivos no humor, na conduta dos meninos”, disse em entrevista exclusiva ao portal Brasil Paralelo.
Barbi relata que o casal encara a criação dos filhos como a missão de desenvolver dois seres humanos íntegros e com bons valores. As decisões do casal se tornam mais fáceis ao observar o comportamento dos filhos.
Muitas vezes fazem ajustes na forma de conduzir as coisas em casa para ajudar Melina e Tiago a desenvolverem alguma habilidade específica ou corrigir algum comportamento.
A mãe afirma também que as vontades pessoais dos pais são colocadas em segundo plano diante da prioridade de cuidar dos filhos.
“Nossas decisões não são baseadas no que é fácil pra nós, mas sim no que nossos filhos precisam no momento”, declarou a especialista em psicologia do desenvolvimento da aprendizagem.
O filho mais velho de Ana Carolina e Humberto só ganhou um celular este ano, ao completar 12 anos. A mãe conta que a decisão de presentear o jovem com o aparelho foi muito conversada entre o casal.
A maturidade do garoto de entender para que o aparelho serve em sua vida foi fundamental para que ele ganhasse o privilégio de ter um smartphone. O dispositivo tem apenas um aplicativo de mensagens para os grupos de whatsapp da escola e do treino de basquete e não possui senhas.
O tempo de uso também é limitado e o menino não leva o aparelho para a escola. Todos os dias os pais olham todas as mensagens trocadas nos grupos e com colegas.
Atleta do time de basquete do Minas Tênis Clube, o Tiago Barbi Terra também não tem contas em redes sociais nem videogame no celular. Perguntado pelo portal Brasil Paralelo como se sente por ter sido o último pré-adolescente de sua sala a ter um aparelho, a resposta foi surpreendente.
“Eu acho que foi bom eu não ter ganhado o celular com poucos anos de vida, que nem meus amigos. Eu tenho um amigo que quando nasceu já tinha um. Outros quando tinham 7, 8, por aí. Eu achei que foi bom, pra não ficar muito viciado em telas que nem eles são hoje em dia” disse Tiago Barbi Terra em entrevista exclusiva à Brasil Paralelo.
O garoto relata que durante o recreio em sua escola observa os colegas no canto da quadra sem interagir com ninguém. Na hora do intervalo, ele costuma jogar ping-pong com seus amigos.
“Eu às vezes vejo os outros no canto da quadra só olhando o celular. Eu acho que se os chamasse para jogar com a gente não iam querer, preferem o celular. Quando volto pra sala vejo as meninas fazendo dancinhas de tiktok com músicas que eu acho muito ruins”, enfartizou o estudante do 7º ano.
Deputados de São Paulo estão discutindo um projeto de lei que visa banir de uma vez por todas o uso de smartphones em escolas do estado. No dia 10 de junho, um debate na Assembleia Legislativa de São Paulo com médicos, pais e educadores discutiu com parlamentares sobre o assunto.
Durante uma das discussões, uma professora da rede pública do estado teria chorado ao declarar que impedir o uso dos dispositivos nas escolas se tornou impossível. Ela afirmou ainda que o corpo docente é cobrado pela direção das escolas a acessarem plataformas digitais. A situação não é diferente em escolas particulares.
Palmieri contou que na escola particular de uma de suas pacientes as atividades de “para casa” são todas colocadas no Google Classroom. As crianças já não copiam mais a lição.
“É tudo muito fácil, rápido. Não há o incentivo para o esforço”, relata a psicóloga.
Ela também afirma que a ausência de esforço para obter quaisquer coisas torna as crianças ansiosas e avessas à frustração. Com o tempo, isso pode refletir na vida adulta, como pessoas que não param em um emprego ou são incapazes de manter uma relação amorosa, por exemplo. Se aprovado, o PL 293/24 irá restringir apenas o uso de celular nas instituições, não interferindo no uso de outros dispositivos como tablets e computadores.
A discussão reflete o desejo da sociedade em encontrar o equilíbrio entre promover um ambiente educacional focado e produtivo, sem privar os jovens das ferramentas digitais que caracterizam sua geração.
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