Naquela manhã de julho de 2016, não houve palavras, nem sermões, nem discursos. Havia apenas o som de passos sobre o cascalho e o ranger das portas de ferro. O Papa Francisco atravessava o portão de Auschwitz, carregando no semblante uma pergunta que o mundo ainda não conseguiu responder: como foi possível tanta crueldade?
A inscrição no alto da entrada, em alemão, continuava ali, “Arbeit macht frei”, o trabalho liberta, zombando de cada vida que não saiu dali. Francisco passou por ela sem dizer uma palavra, e seguiu caminhando sozinho.
Em silêncio, o Papa parou diante do muro das execuções, tocou uma viga usada para enforcar prisioneiros e acendeu uma vela. Dali, foi até o bloco 11, onde encontrou a cela de São Maximiliano Kolbe, o frade franciscano que, 75 anos antes, havia se oferecido para morrer no lugar de um pai de família.
Francisco entrou, ajoelhou-se, e ali permaneceu. Sem jornalistas, sem plateia. Só ele e a memória da dor. A única declaração registrada naquele dia foram duas linhas escritas à mão no livro de visitas do memorial:
“Senhor, tenha piedade do teu povo. Senhor, perdão por tanta crueldade.”
Papa Francisco não foi a Auschwitz para falar, foi para ouvir. Ouvir os escombros, os trilhos, os tijolos quebrados dos crematórios que os próprios nazistas destruíram antes de fugir. Ouvir o choro que ainda parece ecoar no campo de Birkenau, onde 950 mil judeus foram mortos a gás.
Pouco antes de encerrar a visita, o Papa encontrou-se com sobreviventes do Holocausto e com 25 “Justos entre as Nações”, pessoas comuns que, durante a guerra, arriscaram a própria vida para salvar famílias inteiras da deportação.
Após o episódio, Papa Francisco tem falou repetidas vezes sobre a necessidade de lembrar, não para se fixar no horror, mas para garantir que ele nunca volte. Em 2021, visitou a casa de Edith Bruck, uma poetisa sobrevivente do Holocausto. Em outro momento, beijou o número tatuado no braço de Lidia Maksymowicz, presa em Auschwitz ainda criança.
Na madrugada do domingo após a Páscoa, Papa Francisco morreu aos 88 anos, no Vaticano. Francisco foi o primeiro Papa jesuíta da história e o primeiro latino-americano. Em torno de sua figura há muito debate. Sabendo da importância do momento, a Brasil Paralelo está estreando uma série aberta e gratuita sobre o Papa Francisco. Assista logo abaixo:
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