Um episódio do programa gospel Dom Reality trouxe à tona uma denúncia antiga de exploração infantil: o caso da ilha do Marajó.
Na semifinal da competição musical, Aymeê Rocha cantou a música autoral Evangelho de Fariseus, que diz:
"E se inflamam na bolha do sistema
Ah, enquanto isso, no Marajó
O João desapareceu
Esperando os ceifeiros da grande seara".
Após a apresentação, ela disse:
"Marajó é uma ilha que fica perto de Belém, minha terra natal. Lá tem muito tráfico de órgãos, é algo normal. Lá tem pedofilia nível hard. É uma região muito pobre. Quando as crianças veem um barco vindo de fora com turistas Marajó, elas se prostituem dentro do barco por R$ 5,00".
A declaração viralizou nas redes sociais com mais de 2 milhões de visualizações no YouTube. O tema alcançou o trending topics do X, antigo Twitter. Aymeê também alcançou a marca de 1 milhão de seguidores.
Ao denunciar o caso, a senadora Damares Alves, então ministra do governo Bolsonaro, foi zombada na internet. O Ministério Público Federal a acusou de espalhar fake news.
Porém, após a viralização da denúncia, jornais e personalidades condenaram a fala da cantora, afirmando que não existem provas das alegações.
O que está acontecendo na ilha do Marajó? Entenda o histórico da região do Pará.
As denúncias de exploração sexual ocorridas na ilha do Marajó não são de hoje. Uma das principais investigações ocorreu devido ao relato de Dom José Azcona, bispo da região.
Por conta da gravidade dos fatos, o Senado iniciou uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a questão, concluída em 2010.
Um servidor público foi designado para ir à ilha coletar provas. Após sua viagem, o relatório oficial menciona uma de suas descobertas:
"O Vereador 'BOB TERRA' (PT) trancou o cadeado da grade da porta do quarto e também trancou a porta do quarto à chave, forçando-a [garota de 13 anos de idade] a manter relação sexual".
Bob Terra é o apelido do vereador Roberto Alan de Souza Costa, do Partido dos Trabalhadores (PT). Ele foi condenado pelo crime de estupro de vulnerável.
A ilha já tinha relatos de crimes como esse. Durante a CPI, os parlamentares mencionaram o caso do ex-deputado Luiz Afonso Sefer (DEM). Luiz foi condenado por abusar de uma criança de 9 anos.
Ele adotou a garota e a manteve em sua casa até os 13 anos, abusando-a durante esse tempo.
A comissão do Senado afirmou que os casos de exploração sexual nas embarcações são frequentes, destacando os crimes cometidos nas balsas e navios de transporte de cargas para a cidade de Manaus.
O relatório nomeou os casos como “rota da exploração sexual”, abrangendo, principalmente, os municípios de Portel, Muaná, Breves, Curralinho, São Sebastião da Boa Vista e Gurupá, na região do Marajó.
Ao denunciar o caso, a senadora Damares Alves, então ministra do governo Bolsonaro, foi zombada na internet. O Ministério Público Federal a acusou de espalhar fake news. Caricaturas a retrataram como um monstro diante de crianças.
Em 2022, ao conceder entrevista ao Flow Podcast, Lula tentou desacreditar as denúncias feitas por Damares e as classificou como “absurdas”.
“É uma coisa tão absurda que na minha cabeça não passa a ideia de que alguém pode falar uma coisa daquela, não é possível”, afirmou o petista ao Flow Podcast.
Após a denúncia da cantora Aymeê, as falas de Damares sobre o caso alcançaram o trending topics no Twitter no dia de hoje (23/02). Segundo Damares:
"O Marajó pede socorro e não é de hoje. Que dessa vez as pessoas sejam verdadeiramente compelidas a agir ao ouvir o choro silencioso das crianças.
Quando virei ministra de Direitos Humanos coloquei como missão acabar com aquilo tudo. E estive lá dezenas de vezes para ouvir o povo e entender o que acontecia ali. Todo mundo culpava a pobreza e a distância das instituições de Estado.
Nossa resposta foi criar um programa, o Abrace o Marajó, para unir governos e a sociedade civil para a melhoria do IDH da região".
O caso ganhou tanta repercussão em fevereiro deste ano que o governo federal se manifestou ontem (22/02).
Diante da repercussão do caso da Ilha do Marajó, o governo Lula se manifestou através do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.
A nota do ministério afirmou que a situação de exploração sexual é "preocupante e histórica", mas não deve ser "descontextualizada".
A nota oficial do governo diz:
"A realidade de exploração sexual na região sabe-se preocupante e histórica, mas não autoriza sua utilização de forma irresponsável e descontextualizada. Isso apenas serve ao estigma das populações e ao agravamento de riscos sociais.
As vivências das populações tradicionais do Marajó não podem ser reduzidas à exploração sexual, já que é uma população diversa, potente em termos socioambientais e que necessita sobretudo de políticas públicas estruturantes e eficientes, com a inversão da lógica assistencialista e alienante de sua realidade e modos de vida", diz o Ministério.
O governo concluiu a nota afirmando que já desenvolveu projetos para cuidar da população da Ilha do Marajó.
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