Transhumanismo (ou transumanismo), quais são seus benefícios? E seus riscos?

O fundador do transumanismo e da UNESCO, Julian Huxley, é conhecido por defender a eugenia, teoria que separa os humanos em grupos de suposta hierarquia genética e despreza os grupos mais baixos. 

Julian Huxley palestrou no memorial de Sir Francis Galton, fundador do darwinismo social, duas vezes (1936 e 1962). Segundo a obra Julian Huxley and the Eugenical View of Human Evolution, o fundador do transumanismo argumentava: 

"Ninguém duvida da sabedoria de administrar o plasma germinativo de estoques agrícolas, então por que não aplicar o mesmo conceito aos estoques humanos?".

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Argumentos assim apareceram repetidamente em muitos de seus escritos. 

No livro Man in The Modern World (O Homem no Mundo Moderno), de 1941, Huxley dá diretrizes para realizar a eugenia em um cenário de dificuldades sociais:

"[...] Devemos planejar nossa política eugênica ao longo de algumas linhas como as seguintes: [...] os estratos mais baixos, supostamente menos bem dotados geneticamente, estão se reproduzindo relativamente rápido demais. 

Portanto, métodos de controle de natalidade devem ser ensinados a eles; eles não devem ter acesso muito fácil a alívio ou tratamento hospitalar para que a remoção do último controle sobre a seleção natural não torne muito fácil para as crianças serem produzidas ou sobreviverem; o desemprego prolongado deve ser uma base para esterilização, ou pelo menos o alívio deve ser contingente a nenhuma outra criança ser trazida ao mundo; e assim por diante. 

Ou seja, muito do nosso programa eugênico será meramente curativo e corretivo, em vez de preventivo e construtivo”.

Mais adiante, ele defende que a melhor maneira de alcançar uma boa eugenia seria dando um pouco de bem estar às massas. 

Na conclusão dessa análise, o fundador da UNESCO diz:

“Ciência é simultaneamente teoria e prática, conhecimento e controle. A ciência aplicada da eugenia negar o ambiente é uma fonte tanto de confusão quanto de fraqueza prática. 

Eu ainda vou além: eu diria que nós não poderemos ter sucesso em nada da eugenia positiva a menos que nós tentemos controlar o ambiente social simultaneamente com o controle germoplasma humano, assim como Stapledon não poderia ter melhorado suas pastagens acidentadas nas montanhas, exceto por um ataque duplo semelhante”.

Críticas feitas pelo próprio irmão?

Um dos irmãos de Julian Huxley se destacou pelo seu talento na literatura, seu nome era Aldous Huxley.

Uma das obras de maior destaque de Aldous foi Admirável Mundo Novo, livro que figura entre as principais distopias do século XX, ao lado de escritos como 1984 e Fahrenheit 451. 

Em Admirável Mundo Novo (1932), Aldous Huxley cria uma distopia cientificista: toda a sociedade global passa a ser governada por ditadores cientificistas de uma elite exclusiva. A única regra é seguir impulsos carnais e obedecer técnicas científicas que os fortalecem.

O curioso da obra é que Aldous era de uma das famílias da elite cientificista da sua época. Seu avô foi amigo e apoiador de Charles Darwin e seu irmão o fundador e primeiro diretor da UNESCO, órgão da ONU.

Seria a obra de Aldous derivada do que observava de perto? Uma crítica do transumanismo que estava surgindo?

Em um discurso de 1962, proferido pelo próprio Aldous Huxley na Universidade:

“A ditadura científica eu penso que será parecida em muitas partes do mundo, será provavelmente a mais próxima do padrão de Admirável Mundo Novo”.

Em seu discurso, Huxley afirmou a existência de uma oligarquia que controla o mundo. Essa casta busca fazer com que as pessoas aceitem a servidão voluntariamente, disse o autor. 

Em suas previsões, a oligarquia busca desenvolvimento tecnológico para criar métodos mais sofisticados de escravização das massas. 

Em Admirável Mundo Novo, a sociedade é formada por castas definidas por intermédio da engenharia genética, como seu irmão escreveu em Man in the Modern World. O destino das pessoas é decidido em laboratório. 

Os mais limitados são destinados ao trabalho braçal, enquanto os privilegiados são posicionados em serviços de comando. Não há liberdade individual, apenas obediência a elite materialista. 

Os cristãos são considerados selvagens e relegados à margem da sociedade. Os bebês são concebidos em laboratório e iniciados em interações sexuais precoces. 

As mulheres deixam de engravidar e recorrem aos remédios inibidores para manter o corpo perfeito, usando tecnologias semelhantes às preconizadas pelo movimento transumanista. A “droga da felicidade”, uma substância que dá a sensação de bem estar, passa a ser ingerida com frequência. 

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O professor Olavo de Carvalho chama o movimento transumanista de “monstruoso", declarando:

“O que eles querem é dotar o ser humano de capacidades que ele não possui naturalmente, copiadas de animais.

Por exemplo, o símbolo do movimento é o filme ‘Os Lobos Não Choram’, em que um zoólogo que vai para o Alasca estudar lobos e, no fim, acaba 'virando um lobo'. Quando os lobos saem correndo atrás das renas, ele fica pelado e sai correndo, atraído pelo cheiro das penas. Ele consegue um acréscimo em sua capacidade olfativa, como se fosse um artista local capaz de matar uma rena a dentadas. Ou seja, ele se 'lupiniza'.

O objetivo do movimento transumanista é dissolver a imagem do ser humano e transformá-lo em um produto industrial, de modo que a forma dos seres humanos do futuro será determinada por uma equipe de cientistas a serviço do governo.

Isso não é algo novo. O que eles querem não é aperfeiçoar o ser humano, é substituí-lo. Esse grupo quer dizer para a sociedade que ‘as coisas não são como vocês veem, são como nós as vemos'.

Diferente de Aristóteles, que já dizia que a ciência deve partir do conhecimento do senso comum e aperfeiçoá-lo”.

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Em seus discursos, Julian Huxley defendia uma “Nova Ordem Mundial" cientificista, afirma a pesquisadora Glenda Sluga, da Universidade de Sydney, no livro UNESCO and the (One) World of Julian Huxley. 

Para Julian, órgãos como a UNESCO deveriam ser os dirigentes da sociedade. 

Olavo rechaça essa ideia afirmando que um órgão central global nunca conseguirá compreender e ajudar a satisfazer as particularidades de cada local diferente do mundo, afirmando que o globalismo é uma monstruosidade.

Hackear mentes?

Para Elon Musk, o transumanismo seria importante para não permitir que as inteligências artificiais alcancem um nível de superioridade inalcançável para os seres humanos. Sua ideia é unir a mente das pessoas com IAs para fortalecer o ser humano e protegê-los das máquinas.

Mas, e se o chip de uma pessoa for hackeado? E se as informações do cérebro de alguém forem usadas para descobrir pensamentos e sensações que seriam impossíveis de serem descobertos, acabando com a privacidade?

Essas são alguns dos contrapontos levantados que permanecem em debate.

O Transhumanismo hoje

Um dos principais defensores do transhumanismo ou transumanismo nos dias de hoje é Klaus Schwab, o criador do Fórum Econômico Mundial. Sua teoria da Quarta Revolução Industrial preconiza a união de homens e máquinas.

Grande parte de sua militância com governantes das principais potências do mundo busca favorecer essa agenda. Em um dos fóruns, como registrado no Portal da Brasil Paralelo, Schwab perguntou a Sergey Brin, um dos cofundadores do Google:

“A tecnologia agora tem principalmente um poder analítico. Agora, entramos no poder preditivo e vimos os primeiros exemplos. Sua empresa [o Google] está muito envolvida nisso.

Mas então o próximo passo poderia ser entrar no modo prescritivo, o que significa que você nem precisa mais realizar eleições porque já pode prever [o resultado].

E depois, você pode dizer,  por que precisamos de eleições?  Porque sabemos qual será o resultado. Você consegue imaginar tal cenário?”.

Em suas previsões, o mundo transumanista mudaria a vida humana em pontos basilares, criando uma sociedade quase irreconhecível para os padrões atuais.

Além de Schwab, outro grupo que trabalha em prol do transumanismo é a Humanity+ (anteriormente World Transhumanist Association). Uma das organizações mais proeminentes, dedicada a promover o uso ético da tecnologia para expandir as capacidades humanas. 

Eles organizam conferências, publicam materiais educativos e apoiam pesquisas relacionadas ao transumanismo.

Debates internos no movimento transumanista

O transumanismo, enquanto movimento filosófico e tecnológico, enfrenta debates internos significativos sobre prioridades, ética e estratégias. 

Embora seus defensores concordem com o objetivo de melhorar a condição humana por meio da tecnologia, há divergências importantes em relação aos melhores caminhos a seguir e às implicações de cada abordagem.

Ricos Vs. Pobres 

Outro ponto de debate relevante gira em torno do acesso às tecnologias de aprimoramento. James Hughes, do Institute for Ethics and Emerging Technologies, alerta sobre os perigos de criar divisões sociais entre "humanos melhorados" e "não melhorados". 

Ele defende que o acesso às tecnologias deve ser amplamente democratizado por meio de regulamentações globais que garantam equidade. 

Para Hughes, o transumanismo só é ético se suas vantagens forem distribuídas de forma justa. Em contraste, Zoltan Istvan, do Transhumanist Party, acredita que o mercado livre é o melhor meio para acelerar o desenvolvimento e a disseminação das tecnologias de aprimoramento. 

Ele argumenta que, assim como aconteceu com outras inovações tecnológicas ao longo da história, essas melhorias eventualmente se tornarão acessíveis para a maioria das pessoas.