Resumo do primeiro debate presidencial americano. Veja os principais momentos de Trump vs Biden

Dois dias antes do debate, pesquisas indicavam que Trump liderava as pesquisas. Um levantamento realizado pelo jornal Washington Post divulgou que ele estava em primeiro lugar nas intenções de votos em 6 dos 7 estados americanos decisivos. A pesquisa YouGov demonstrou os dois candidatos empatados na margem de erro: 42% dos eleitores declararam que votariam em um dos dois candidatos.

Mesmo com o aumento da relevância das redes sociais em eleições, os debates ainda têm importância fundamental. 

• 1 em cada 5 eleitores pode mudar sua decisão de acordo com o comportamento dos candidatos em debate, relata a revista Forbes.

Ambos disputavam os votos desse eleitorado.

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Joe Biden sai derrotado do debate da CNN

A maioria das análises ressaltou que o atual presidente transmitiu uma imagem fragilizada ao longo do debate. Tanto os principais veículos de mídia quanto as redes sociais destacaram o fato de que a substituição de Joe Biden pode ser uma boa ideia para o Partido Democrata. A imprensa americana reportou a atuação do atual presidente como “desastrosa”, “atrapalhada”, “fraca” e “horrível”.

Stephen Collinson, jornalista sênior de política da CNN, afirmou que: “Biden produziu o desempenho mais fraco desde que John F. Kennedy e Richard Nixon começaram a tradição dos debates televisionados em 1960”. 

Pontuou também que o presidente fez o oposto de atingir seu principal objetivo. Não conseguiu convencer os eleitores indecisos de que ele terá condição de presidir o país pelos próximos quatro anos.

“Biden entrou no debate enfrentando um teste sombrio — provar à maioria dos americanos que acreditam que ele é muito velho para servir que ele é vital, enérgico e capaz de cumprir suas funções em um segundo mandato que terminaria quando ele tivesse 86 anos. 

Em vez disso, o presidente acabou validando esses medos e potencialmente convencendo muito mais eleitores de que suas faculdades mentais se deterioraram”.

O The Economist confirmou a impressão. Em texto publicado nas redes sociais, o jornal afirmou que a missão de Joe Biden em Atlanta era clara: provar que seus críticos estavam errados e que ele tem condição de governar o país. Era essa a possibilidade que ele tinha de reverter o quadro revelado pelas pesquisas:

“O democrata deveria mostrar que estava mentalmente apto e, assim, reverter o déficit nas pesquisas que faz de Donald Trump o favorito para vencer a eleição em novembro. Infelizmente, seu desempenho foi um desastre absoluto, talvez o pior de qualquer eleição presidencial", afirma o texto.

O analista Thomas Friedman, do The New York Times, afirmou que Biden deveria colocar o país acima de si e desistir de concorrer. Segundo ele, essa seria a única forma de vencer a ameaça Donald Trump: “Joe Biden, um homem e um bom presidente, não tem condições de concorrer à reeleição”, afirmou em seu texto.

O jornalista é um crítico assumido de Trump. Ele ressalta que Joe Biden será lembrado por ter “salvado os Estados Unidos de um segundo mandato desastroso de Donald Trump”. 

Seu texto também enfatiza as medidas fundamentais que Biden publicou para enfrentar revoluções climáticas e problemas tecnológicos. Friedman, que se declara amigo pessoal do atual presidente, ressalta que “Biden precisa desistir”.

“Se Biden encerrar sua presidência agora, reconhecendo que, devido à idade, não está apto para um segundo mandato, seu primeiro e único mandato será lembrado como um dos melhores da nossa história”, afirma.

Fragilidade do atual presidente

Entre os principais momentos do debate, chamaram a atenção os que ressaltaram a fragilidade do democrata. Em uma situação, ao responder a uma provocação de Trump sobre os indicadores econômicos de seu governo, Biden confundiu o número de empregos gerados por sua administração: “15 mil empregos”, ele respondeu, provavelmente querendo dizer “15 milhões de empregos”.

Em uma segunda ocasião, ele se confundiu ao comentar sobre as políticas em relação ao “Medicare”, sistema de saúde norte-americano.

“Podemos garantir que tudo o que precisamos fazer, as creches, o sistema de cuidados com idosos, a garantia de continuarmos fortalecendo nosso sistema de saúde, garantindo que sejamos capazes de tornar todas as pessoas elegíveis para que eu possa fazer com... Covid, me desculpem, lidando com tudo o que temos de fazer com....”. Então, o democrata permaneceu paralisado por alguns instantes. Ao retomar a fala, Biden se confundiu e respondeu: “Nós vencemos o Medicare”.

Donald Trump imediatamente enfatizou: “Ele venceu o Medicare. Ele bateu até a morte. Ele destruiu o sistema de saúde”.

As confusões no discurso geraram uma preocupação no eleitorado e na cúpula do partido. Biden, de 81 anos, e Trump, de 78, são os presidenciáveis com idade mais avançada em toda a história política do país. Ao final do próximo mandato, terão respectivamente 86 e 82 anos.

Uma publicação da revista Exame relatou que o conselheiro especial do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, Robert Hur, afirmou que Biden tem uma memória tão prejudicada que sequer lembra de quando foi vice-presidente e de quando seu filho Beau faleceu, em 2015.

No decorrer do debate, Trump provocou seu adversário a realizar testes cognitivos. Biden não respondeu, mas disse que é capaz de jogar golfe. Por outro lado, afirmou que é mais competente do que seu oponente.

Em sua primeira aparição pública após o debate, em um evento para apoiadores na Carolina do Sul, ele ressaltou:

"Não caminho tão facilmente como antes. Não falo tão facilmente como antes, não debato tão bem como antes, mas eu sei o que sei: sei como dizer a verdade. Sei distinguir o certo do errado."

Mentiras e Baixarias

Trump foi acusado de mentir no debate. Ele afirmou que em seu governo a economia norte-americana alcançou os melhores resultados da história.

A declaração foi contestada por diversos veículos de imprensa. Como enfrentou uma pandemia, Trump precisou realizar aportes de 3.1 trilhões de dólares para estabilizar a economia norte-americana.

Foram também contestadas outras declarações polêmicas. O jornal The Guardian afirmou que Trump não falou a verdade quando mencionou que em sua gestão o país teve os melhores indicadores ambientais da história.

O jornalista Michael Gold, do New York Times, destacou que é inverídico que “Biden poderia ter impedido o conflito entre a Rússia e a Ucrânia”.

Outro ponto questionado foi a fala de que a parlamentar Nancy Pelosi teria assumido que recusou a oferta de tropas da Guarda Nacional em 6 de janeiro de 2021. Na ocasião, apoiadores do ex-presidente invadiram o Capitólio.  Pelosi era presidente da Câmara dos Deputados na época. Trump repete que tentou reforçar a segurança e teve sua proposta recusada.

O enfrentamento em Atlanta foi marcado por baixarias.

Ao abordar o recente problema do ex-presidente com a Justiça, Biden chamou Trump de “criminoso condenado”. O atual presidente trouxe à tona o affair com uma atriz pornô.

“Você tem a moral de um gato de beco”, disse o atual mandatário.

O republicano também enfatizou várias vezes que Biden é o pior presidente da história:

“Não temos um presidente respeitado. O que acontece nos Estados Unidos atualmente é uma vergonha.”

Ao abordar a crise migratória nos EUA, Biden afirmou: "Tudo o que o 'Joe sonolento' fez foi abrir nossa fronteira. Temos o maior número de terroristas vindo para os Estados Unidos, não apenas da América do Sul, mas de todo o mundo.", disparou Trump, antes de afirmar que os imigrantes assassinam pessoas em vários estados do país.

“Você é um fraco”, reverberou.

Biden reagiu. Chamou Trump de mentiroso e ressaltou que não há dados que sustentem o que ele fala:

“Nós nos encontramos em uma situação em que, quando ele era presidente, separava os bebês de suas mães, colocava-os em gaiolas, garantindo que suas famílias fossem separadas. Esse não é o caminho certo."

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Temas centrais

Aborto, economia e imigração foram os temas que estiveram no centro do debate. A agenda de política externa também foi motivo de trocas de acusações entre os candidatos.

O atual presidente criticou a política econômica do governo Trump:

“Suas medidas só favoreceram os ricos. Em sua gestão, os Estados Unidos deixaram de receber bilhões para auxiliar quem precisa”, afirmou.

Ele disse que na gestão de Trump, a economia estava em queda, enquanto as pessoas morriam de COVID-19.

Trump, por sua vez, acusou Biden de endividar o país e contribuir para o desemprego em massa. Ele afirma que sua gestão econômica foi a melhor da história.

"Foi tudo muito bem. Todos os outros países nos copiavam. Tivemos a covid-19. E o que a gente fez? Gastamos o dinheiro necessário e depois tivemos uma 'grande depressão', semelhante à que tivemos em 1929, mas fizemos um trabalho excelente".

Sobre a gestão de Biden, afirmou:

“Durante todo esse tempo, em todo o mundo, nós não somos mais respeitados. Não respeitam mais a nossa liderança, não respeitam mais os EUA. Somos como um país de terceiro mundo. Tudo que ele fez tornou o nosso país como um de terceiro mundo. É uma vergonha”.

A expectativa era de que a questão central da noite fosse o aborto.

Joe Biden defendeu o acesso ao procedimento, enquanto Donald Trump enfatizou que essa decisão fosse tomada por cada estado individualmente:

À moderadora da CNN, Dana Bash, Trump afirmou:

“O que eu fiz foi colocar três juízes da Suprema Corte no tribunal e eles derrubaram o Roe vs. Wade (a antiga decisão da corte que dava precedente para permitir abortos)”, disse Trump. “Neste momento, os estados controlam [o acesso ao aborto] e essa é a vontade do povo”, afirmou.

Imigração, Ucrânia e democracia também estiveram no debate

O ex-presidente argumentou que “milhões de pessoas” estão atravessando as fronteiras e recebendo benefícios sociais. Biden rebateu dizendo que seu governo apresentou propostas de segurança na divisa.

Trump ainda acusou o ex-presidente de incentivar a Guerra da Rússia contra a Ucrânia.

Efeito do debate na disputa política

A avaliação positiva na performance de Trump neste primeiro debate fortaleceu a campanha dos Republicanos. As redes sociais do ex-presidente recuperam as gafes e erros de Joe Biden. Os perfis estão repletos de mensagens de apoio.

Os democratas, por outro lado, consideram a viabilidade de uma outra candidatura à Casa Branca. A herdeira política de Biden seria a vice-presidente, Kamala Harris. 

Há outras possibilidades que, nos bastidores, o Partido Democrata pode considerar.

O governador da Califórnia, Gavin Newsom, ou a governadora do Michigan, Gretchen Whitmer, poderiam ser os substitutos.

Ambos são apoiadores de Biden.

“Nunca vou virar as costas para Biden”, afirmou Newsom. “Passei muito tempo com ele, conheço sua visão, e sei do que ele é capaz”, enfatizou.

Whitmer também se posiciona a favor de Biden e não revela disposição em assumir o lugar dele.

O debate entre Joe Biden e Donald Trump marcou um momento crucial na corrida presidencial dos Estados Unidos, destacando divergências profundas entre os dois projetos. 

Biden lutou para reverter a desvantagem nas pesquisas e Trump saiu fortalecido da disputa. O evento não só influenciou a opinião pública, mas também deixou claro que o desafio do eleitorado dos Estados Unidos não será fácil.

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