O ano de 1941 marcou a história do Rio Grande do Sul por ter registrado uma de suas mais graves enchentes. No dia 8 de maio, a bacia do rio Guaíba alcançou o seu maior volume até então: 4,76 metros.
Oitenta e três anos depois esse recorde trágico foi superado. O estado foi atingido pelas maiores enchentes desde a década de 1940. No dia 5 de maio deste ano, o nível do Guaíba já havia atingido 5,35 metros, deixando um rastro de destruição em todo o estado.
O impacto já afetou mais de 2,3 milhões de pessoas, em 463 dos 497 municípios gaúchos.
A pergunta que permanece é: por que o Brasil não consegue evitar tragédias climáticas, como as do Rio Grande do Sul?
O Portal Brasil Paralelo traçou algumas hipóteses sobre as causas da inabilidade brasileira em prevenir eventos climáticos extremos e diminuir os danos causados por eles, como os das últimas semanas.
Uma das primeiras causas que contribuíram para a mais grave tragédia da história do Rio Grande do Sul pode ter sido a ocupação desordenada. Construções perto de encostas ou em vales, sem planejamento adequado, e a impermeabilização equivocada do solo podem ter agravado a situação.
Para Hélio Secco, doutor em Ciências Ambientais e diretor técnico da Falco Ambiental, essa situação pode ter se agravado por falhas em duas respostas às crises climáticas: a mitigação das causas e a adaptação das condições locais. Há ainda uma terceira estratégia, a redução de danos, implementada quando a tragédia já ocorreu.
O planejamento urbano adequado faz parte da primeira estratégia e prepara a cidade para absorver o impacto de crises climáticas e evitar danos graves. A fase de adaptação pode envolver desde a adaptação de áreas de risco até a remoção de moradores para evitar o pior.
O cumprimento do Código Florestal Brasileiro é primordial para a mitigação das causas de tragédias ambientais e, em casos de urbanização já realizada, para a adaptação. Secco enfatiza que o texto prevê áreas de preservação permanentes em margens de cursos hídricos. A vegetação dessas áreas filtra sedimentos de deslizamentos de terra e contém o solo das margens dos cursos d’água, evitando que sedimentos sejam carregados pela enxurrada. Construir em áreas impróprias aumenta o risco de desastres.
Nem sempre é possível prevenir. Muitos desses locais possuem populações que, há décadas, formaram ali sua comunidade. Para casos assim, Secco enfatiza que o ideal é adaptar o local.
“Em casos assim, a solução seria pensar em locais públicos, como praças, que tenham capacidade de filtrar e absorver parte do volume de água em caso de cheias. É o conceito de cidade esponja. Nesses locais, é criada uma espécie de área de enchente onde há parques e praças projetados especificamente para inundar. Isso é feito, por exemplo, com a criação de áreas pantanosas, solos naturalmente expostos, vegetação e área alagadiça. Dessa forma, menos água correrá pelos locais já impermeabilizados por asfalto e concreto, reduzindo os danos danos.”, afirmou em entrevista exclusiva ao portal Brasil Paralelo.
“Poder público, sociedade civil e forças de segurança precisam ter um plano de ação em que fique claro o que será feito em cada cenário. Assim, em situações como a do Rio Grande do Sul, a população já saberá o que deve ser feito”, afirma.
Há países em que este planejamento urbano eficiente já têm revelado resultados. Existem exemplos de sucessos que podem inspirar as políticas públicas brasileiras de prevenção de tragédias ambientais. Secco cita o exemplo da Dinamarca:
“ Eu acho que Copenhague é um ótimo exemplo mundial sobre planejamento urbano e resiliência climática. Lá ocorre a aplicação do conceito de cidade esponja. Além disso, é um local onde a adaptação é bem realizada. Existem lá vários espaços públicos, onde há solo e vegetação para absorver a água das chuvas, inclusive nos telhados das casas. Ao direcionar a água propositalmente para uma bacia artificial de concentração dessa água, a correnteza escoa para uma área predeterminada da cidade. Essa área pode ser inclusive frequentada pela população durante o alagamento”, explicou.
Acrescentou ainda que mais construções urbanas integradas ao verde melhoram não só o microclima local, mas também contribuem para a modernização da engenharia civil.
Entre 2013 e 2015, o governo da ex-presidente Dilma Rousseff encomendou um estudo para criar soluções de enfrentamento a adversidades causadas por fenômenos naturais como as chuvas.
Chamado de “Brasil 2040”, o estudo foi realizado ao longo de cerca de dois anos e apurou desde projeções para o clima no país até ideias de mitigação de danos em caso de eventos climáticos. O documento sugeria soluções conforme o clima e recursos hídricos disponíveis.
“Tais medidas envolvem estruturas caras (por exemplo: barragens para armazenar água ou construção de diques em zonas costeiras), mas contempla também medidas mais simples como, sistemas de alerta de riscos, mudanças de práticas agrícolas ou organização de grupos sociais”, consta no documento.
No caso de enchentes e inundações, os pesquisadores conseguiram estimar como seria a vazão em várias bacias hidrográficas do país. No caso do Rio Grande do Sul, o documento chamou atenção para a necessidade de adaptação dos recursos hídricos.
“O impacto das mudanças climáticas sobre as vazões indica uma tendência de aumento na região Sul do país, [...] Especificamente, há possibilidades de aumento de frequência dos eventos de cheia e inundações na região Sul.” , diz o relatório na página 20.
A pesquisa sugeria medidas a serem implementadas para mitigar os danos potenciais das caso de chuvas em excesso, como as que têm atingido o Rio Grande do Sul desde o final do abril deste ano.
No caso de enchentes, cheias e inundações, as soluções apontadas pelo documento são primeiramente o desenvolvimento e implantação de sistema de alerta precoce. Em Brumadinho, por exemplo, esse sistema foi implementado após o rompimento da barragem do Córrego do Feijão.
Os moradores das regiões que podem ser devastadas em caso do desprendimento de dejetos são avisados do perigo por um sistema de sirene. Também podem acessar um plano de fuga e locais seguros para se abrigarem, caso a crise se estabeleça.
Outro ponto abordado pelo documento é a adaptação da drenagem urbana. O texto aponta a necessidade de criação de mecanismos para diminuir os danos das cidades em caso de inundações.
Sugere também a transposição de bacias hidrográficas para o aumento da capacidade de armazenamento de água em regiões propensas a enchentes.
É justamente o que já acontece na capital dinamarquesa, em que toda a cidade é adaptada às cheias Além disso, toda a população se envolve nas estratégias de prevenção de crises e redução de danos.
Em reportagem à BBC Brasil, a especialista Natalie Unterstell afirmou que o projeto “Brasil 2040”, tinha potencial para prever crises como a do Rio Grande do Sul, tmas foi arquivado em 2015, durante a gestão da ex-presidente Dilma Rousseff. Em nota divulgada na sexta-feira (17), a ex-Presidente Dilma negou a informação.
O estudo vai mais fundo e afirma que as estratégias a serem implementadas não podem ser emergenciais ou de curto prazo. Os analistas acreditam que é necessário uma gestão completa entre governos e sociedade civil para se obter uma prevenção de maiores danos de forma eficaz.
Tal trabalho pode incluir tanto políticas de urbanização como a remoção das famílias de áreas de risco.
Secco destaca a importância de que o poder público impeça invasões em áreas de risco, sejam elas públicas ou privadas. Dessa forma,o risco de construções mal feitas ou até inadequadas para os terrenos serem feitas é bem menor.
Nem sempre esse trabalho é simples, pois envolve a conscientização das pessoas que estão morando ali. Explica que é preciso trabalhar para que a população entenda que ao viver ali não só sua vida está em risco, mas todo o entorno de onde vivem.
“As pessoas têm o direito de querer ficar. É perfeitamente compreensível, pois muitas vezes suas famílias vivem nesses locais há gerações. Existe uma raiz, uma conexão das pessoas com aquela terra. Nesse caso, é preciso distinguir o que é área de risco que precisa ser remanejada o quanto antes. Feito isso, é preciso identificar como melhorar a qualidade de vida desses cidadãos, o que passa, como falei, pelo trabalho de urbanização estratégica dessas áreas.”
Ao viver em um local digno com água e esgoto encanados, iluminação e o mínimo de atenção do poder público, as populações de áreas de risco passarão a entender que a sua segurança e a de seus queridos vale mais que o seu sentimento para com aquele local.
Secco afirma que tal trabalho levará tempo, por isso é preciso entender o sentimento de quem não quer sair.
Até o momento 157 vidas foram perdidas na tragédia. São mais de 2,3 milhões de pessoas afetadas segundo dados da Defesa Civil.
O último boletim divulgado às 9:30 desta segunda-feira (20/5) noticiava que 581.633 pessoas estavam desalojadas, das quais 76.188 estão vivendo em abrigos. Oitocentos e seis cidadãos ficaram feridos em decorrência das enchentes e 88 permanecem desaparecidos.
Enquanto as águas recuam e deixam para trás seu rastro de destruição, emerge uma determinação coletiva de não permitir que a história se repita. O fim desta tragédia iniciará um novo capítulo na história do país, no qual existe a possibilidade de que o impacto de eventos climáticos extremos na vida humana seja minimizado.
Voltou a chover nas regiões já inundadas. Se você estiver em perigo, ligue para:
190 (disque emergência) ou 193 (bombeiros).
Sua vida é muito importante, peça ajuda!
Sabemos que cada um de nós gostaria de ajudar. Se você está distante, isso pode ser feito por meio de doações.
Para oferecer suporte financeiro, recomendamos algumas instituições confiáveis que estão organizando campanhas de arrecadação de doações:
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