Uma pesquisa elaborada pelo Ipec, antigo Ibope, revelou que 41% dos entrevistados se afirma como "de direita", ao passo que 18% se definem como "de esquerda".
Outro levantamento realizado pelo Datafolha, aponta que 26% dos paulistas se identificam como "de direita", enquanto 20% se reconhecem como alinhados à "esquerda".
Os termos direita e esquerda têm sido cada vez mais debatidos no cenário político polarizado que se configurou nos últimos anos.
No imaginário popular, esses dois conceitos podem adquirir uma perspectiva simplista, que desconsidera as grandes diferenças existentes nos dois blocos político-filosóficos.
Os espectros surgiram em meio à Revolução Francesa, quando os jacobinos, ala mais radical, se sentavam à esquerda da Assembleia nacional e os girondinos, ala mais moderada, se posicionavam à direita.
Desde então, direita e esquerda representam diferentes visões de mundo e orientações políticas distintas. Os dois campos são compostos por uma ampla gama de correntes intelectuais conflitantes.
No Brasil, a direita política é associada a dois grupos: o conservadorismo e o liberalismo.
O campo político-filosófico conhecido como “direita” é composto por diversas vertentes associadas, com suas características específicas e distintas.
Algumas correntes de pensamento que podem ser englobadas na direita, como o nacionalismo, defendem um papel mais ativo do Estado na economia e cultura.
O professor Adriano Gianturco afirma que “o nacionalismo é tradicionalmente associado à direita, mas alguns setores da esquerda, sobretudo na América Latina, também o absorveram.”
Outras vertentes como o libertarianismo, acreditam na deslegitimação de instituições que se oponham à vontade individual.
As quatro ideologias mencionadas são apenas alguns dos exemplos de posicionamentos que podem ser classificados como direita.
O parlamentar e comentarista do programa Cartas na Mesa, Luiz Phillipe de Orleans e Bragança, destacou durante sua fala que as pessoas se juntam em torno de personalidades "de direita", mas que o espectro ainda não é muito coeso:
"A direita que está renascendo e se apoia em quem se propõe a ser líder da direita, mas não tem uma coesão muito clara do que é a direita."
De fato, há setores da direita que possuem visões distintas, porém, que se juntam para eleger, muitas vezes, os mesmos candidatos.
O fenômeno em questão tem ocorrido ao redor do mundo. No Brasil, por exemplo, a figura de Jair Messias Bolsonaro conseguiu captar votos de unir grupos ideologicamente opostos, como libertários e conservadores, em suas campanhas presidenciais.
Algo semelhante ao que realizou o presidente Luís Inácio Lula da Silva que uniu grupos alinhados ao campo da esquerda na ampla frente partidária que o elegeu.
O debate sobre polarização política também resulta no resgate de figuras históricas com visões distintas de forma descontextualizada.
Enéas Carneiro era um nacionalista contrário à abertura econômica na década de 1990. Atualmente, entre as pessoas que constantemente o celebram constam pessoas com um discurso muito diferente, como o libertário Paulo Kogos.
Orleans e Bragança afirma que esse tipo de movimento ocorre por conta da falta de definição do que é direita nos dias atuais:
"A gente precisa de um pouquinho de tempo para reforçar o que é a direita no século XXI. Este conceito não está muito bem definido."
O parlamentar seguiu falando que casos como o da Marie Le Pen, na França, chamam a atenção, uma vez que ela é o mais relevante nome da direita em seu país, mesmo trazendo apenas a pauta nacionalista:
"A direita, naturalmente, só tende a dar apoio só por causa dessa questão. E nas outras questões, ela é progressista ou meio socialista."
O comentarista complementa relatando que, em suas palestras, já se deparou com muitas pessoas que descobriram ser conservadoras em questões de costumes e ter uma visão mais próxima da esquerda na economia. Bragança afirmou que tenta esclarecer conceitos:
"Eu tento fazer isso em algumas palestras e apresentações minhas e vejo que é revelador para muitas pessoas até que ela se descobre como: 'Ah, eu era conservador de esquerda, era conservador socialista.' Porque ele tinha algum aspecto que era da direita, mas, nos demais pontos, ele apoia todas as propostas socialistas".
Campos políticos, como direita e esquerda, são muito amplos para definir o posicionamento de indivíduos. Ainda assim, indicam uma tendência da visão de mundo de boa parte da população.
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