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Os ditadores que mais mataram no século XX

Descubra quem foram os maiores genocidas do século passado, um dos mais violentos da história.

Ditadura
Crime
Comunismo
Li Zhensheng/inside history
Redação Brasil Paralelo
Comunicação Brasil Paralelo

O século XX foi marcado por fervorosas disputas políticas e ideológicas. O radicalismo  desse momento histórico o levou a receber o nome de “Era dos Extremos” pelo historiador Eric Hobsbawm.

Em 100 anos, o mundo testemunhou a ascensão de regimes totalitários, como o nazismo e o comunismo, e horrores como as limpezas étnicas, causadas por questões nacionais ou coloniais. Outros regimes violentos também contribuíram para a destruição e o sofrimento inimagináveis em diversas nações. 

Veja a seguir a lista dos maiores responsável por essas atrocidades

1- Mao Zedong

Tipo de regime: comunista

Estimativa de mortes: entre 40 e 80 milhões

Vítimas: opositores políticos

Fonte: AP/Político

Mao Zedong foi o primeiro ditador comunista a governar a China. Ele também exerceu um importante papel como teórico marxista e líder militar durante a guerra civil chinesa e na luta contra a ocupação japonesa.

O revolucionário chinês nasceu em uma família com boas condições financeiras, na cidade de Shaoshan, no distrito de Xiangtan, no ano de 1893. Mao completou o ensino médio e trabalhou na biblioteca da Universidade de Pequim, onde teve o primeiro contato com o marxismo.

 O ditador participou do primeiro congresso do Partido Comunista Chinês (PCCh) e começou a atuar no treinamento de camponeses para a guerrilha revolucionária.

Em 1927, o partido nacionalista Kuomitang,  atacou membros do PCCh, o que levou a uma guerra civil entre as forças dos dois grupos.

Nesse período, a liderança de Mao foi consolidada após ele conduzir as tropas comunistas em uma intensa e letal retirada estratégica pelo interior do país. O movimento ficou conhecido como “A Grande Marcha”.

O conflito seguiu até o acirramento da guerra entre Japão e China, que levou os dois grupos a se unirem temporariamente para combater as forças invasoras.

Ao longo da parceria, o Exército de Libertação Popular, braço armado do PCCh, conseguiu expandir os territórios sob seu domínio. Quando os japoneses perderam a guerra, as hostilidades entre comunistas e nacionalistas foram retomadas. As forças de Mao estavam muito mais poderosas do que antes.

Em 1949, o PCCh controlava a maior parte do país e estava prestes a conquistar a capital, Pequim. Temendo a captura da cidade, Chiang Kai-Shek  transferiu a capital da República da China para a ilha de Taiwan. A ilha seguiu sob um regime ditatorial até 1996, quando ocorreram as primeiras eleições.

A China continental, por outro lado, foi totalmente dominada pelo Partido Comunista, que proclamou a fundação da República Popular da China.

Mao teve que lidar com um país destruído pela guerra e com uma população empobrecida. Após 9 anos no poder, em 1958, Mao Zedong estabeleceu as diretrizes para um plano de desenvolvimento econômico, que ficou conhecido como "o Grande Salto Adiante”. 

O objetivo do governo chinês era estabelecer a autossuficiência agrícola, industrial, educacional e de saúde em fazendas coletivizadas. 

No primeiro ano, o plano foi um sucesso, com um aumento na colheita de  aproximadamente 5 milhões de toneladas em relação a 1957 e a produção de aço quase duplicou, apesar da baixa qualidade. 

As fornalhas improvisadas das comunas derretiam ferramentas de ferro para tentar compor um aço praticamente inutilizável, com o objetivo de arcar com as altas metas de produção estabelecidas pelo partido. 

A safra do ano seguinte, no entanto, foi significativamente menor. Em 1960 pessoas que trabalhavam na indústria do ferro foram mandadas para o campo, apesar da falta de experiência.

A produção agrícola das comunas era levada embora e utilizada pelo Estado chinês para pagar as dívidas com a URSS. O resultado do fracasso econômico foi a maior fome causada pelo homem na história, com estimativa de 36 milhões de mortes.

Após o fracasso “Grande Salto Adiante”, Mao perdeu força política dentro do Partido, sendo aos poucos afastado do centro do poder. 

Em 1966, o líder comunista reagiu, conclamando os jovens a se levantarem contra as novas alas dominantes do PCCh e todas as “forças contrarrevolucionárias”. 

Nesse violento processo foram organizadas as Guardas Vermelhas, grupos de jovens dedicados a eliminar supostos traços de capitalismo dentro da sociedade chinesa. 

Apesar de não ter poder de polícia, as milicias prendiam qualquer um que fosse considerado um “monstro anormal”. O termo era adotado para se referir a donos de terra, capitalistas e pessoas consideradas “de direita”.  

Ao longo da Revolução Cultural muitos intelectuais, professores e membros proeminentes do politburo, nome dado às camadas mais influentes do poder nos regimes socialistas, foram mortos ou mandados para campos de trabalho e reeducação.

As estimativas de mortes causadas pela movimentação de Mao variam entre um e dois milhões de pessoas.

Apesar de perder força, a Revolução Cultural se manteve até a morte de Mao em 1976. O falecimento do líder resultou na ascensão de alas reformistas dentro do PCCh. O grupo de conselheiros extremistas de Mao, conhecidos como “camarilha dos quatro”, foi julgado e seus membros foram condenados à morte, as penas foram depois revertidas em prisão perpétua.

Os novos setores dominantes do Partido seguiram estabelecendo reformas para permitir a entrada de capitais no país, o que levou a China a atingir sua posição econômica atual.  

2 - Josef Stalin

Tipo de regime: comunista

Estimativa de mortes: entre 6 e 20 milhões

Vítimas: opositores políticos

Fonte: Reprodução/Nova Cultura

Josef Stalin é um pseudônimo de Iosif Vissarionovich Dzhugashvili. O nome foi o último de uma série de nomes adotados pelo ditador ao longo de sua juventude na luta armada clandestina. 

O significado da palavra russa Stalin seria algo como “de aço”, o que indica a rigidez de sua personalidade e visão ideológica.

Stalin nasceu em 1878, em uma família pobre na cidade georgiana de Gori, na época pertencente ao império russo. 

Quando jovem, foi estudar em um seminário ortodoxo na capital georgiana, Tbilisi. Lá teve os primeiros contatos com a ideologia marxista.

Aos 20, abandonou os estudos religiosos para seguir uma vida clandestina junto a grupos revolucionários marxistas. 

A partir disso, Stalin começou a crescer dentro da hierarquia partidária por meio de roubos a banco e outros crimes para financiar o movimento socialista. 

Em 1905, o futuro ditador conheceu Vladimir Lenin e começou a ganhar a simpatia do político e teórico socialista.

As ações do georgiano pela causa comunista o levaram a cumprir pena na Sibéria sete vezes, e ganhar cada vez mais importância dentro da estrutura partidária.

Após o sucesso da Revolução Russa de outubro de 1917, liderada pelo Partido Bolchevique de Lenin, Stalin conseguiu se posicionar como uma das figuras políticas mais importantes do país. 

Em 1922, ele alcançou o posto de Secretário Geral do Partido Comunista da URSS. Em seu trabalho lá, o líder foi muito hábil em posicionar seus aliados para aumentar seu poder dentro dos órgãos estatais. 

Poucos meses depois, Lênin teve seu primeiro derrame, passando para Stalin a responsabilidade de estabelecer uma nova Constituição mais centralizadora para o país.

Pouco antes de morrer, o líder comunista percebeu que Stalin não deveria estar na posição de poder que possuía. Seu testamento político determinava que o georgiano fosse substituído devido a seu comportamento rude.

O aviso chegou tarde demais. Stalin conseguiu se consagrar como líder da URSS, expulsando seu principal rival, Leon Trotsky, do país. 

Para se consolidar, o ditador iniciou um grande expurgo, ordenando a execução de supostos oponentes políticos por meio de listas. Estimativas indicam que entre  700 mil e 1,2 milhão de pessoas tenham sido vítimas de Stalin.

O governo stalinista aumentou consideravelmente a repressão política. Entre as ferramentas utilizadas para calar opositores ou cidadãos considerados “contrarrevolucionários” constam assassinatos e prisões em campos de trabalho forçado . 

Dentre as atrocidades cometidas pela ditadura soviética nos anos de Stalin, um dos atos mais brutais foi o Holodomor. O termo se refere à grande fome causada pelo confisco dos grãos cultivados na Ucrânia pelo governo central. As estimativas sobre quantas pessoas perderam em decorrência do confisco apontam para um número próximo a quatro milhões.

A política externa de Stalin também conduziu seu país a participar de guerras e buscar expansão territorial. O Ministro das Relações Exteriores soviético Viatcheslav Molotov selou um acordo com o ministro Joachim Von Ribbentrop, do governo de Hitler, para partilharem a Polônia.

A invasão elevou as tensões entre a aliança de Inglaterra e França contra a Alemanha, o que resultou na Segunda Guerra Mundial.

Durante os primeiros anos do conflito, a URSS de Stalin aproveitou a disputa no ocidente da Europa para começar uma campanha militar pela anexação da Finlândia, que se tornara independente em 1917.

A Guerra de Inverno durou três meses e ceifou a vida de 25,904 finlandeses. Após a derrota,  o governo do país cedeu 11% de seu território à URSS Stalinista. 

Em 1941, a URSS foi vitimada pela Operação Barbarossa, invasão e anexação alemã ao território soviético. O ataque levou Stalin a se alinhar às potências ocidentais para combater o regime nazista.

Com a vitória dos Aliados, o ditador soviético aproveitou a destruição do continente para expandir a zona de influência russa e instaurar diversas ditaduras comunistas ao redor do leste europeu.

Stalin seguiu ajudando a espalhar regimes socialistas ao redor do mundo. Na Ásia, por exemplo, a URSS apoiou Mao Zedong em seus primeiros anos de governo e deu suporte à recém-instaurada ditadura Norte-Coreana.

Após a morte de Stalin em 1953, Nikita Khruschev iniciou um processo de desconstrução do culto a personalidade do ditador. Chamado de desestalinização, o processo causou divisões dentro do bloco socialista. Muitos dos crimes cometidos pelo “homem de aço” foram levados ao conhecimento público. 

3 - Adolf Hitler

Tipo de regime: nazista

Estimativa de mortes: 12 milhões

Vítimas: opositores políticos e minorias.

Fonte: USHMM/Estelle Bechoefer/about holocaust.

Adolf Hitler nasceu na cidade austríaca de Braunau am Inn no ano de 1889. Seu pai, Alois Hitler, era um funcionário público que morreu quando Adolf tinha apenas 13 anos. A mãe do futuro ditador, Klara Hitler, era uma dona de casa que faleceu após lutar contra o câncer de mama em 1907.

Com a morte de sua mãe, Hitler se mudou para Viena, para tentar concretizar o sonho de estudar na academia de Belas Artes da cidade e se tornar um artista. O objetivo nunca se concretizou, já que o austríaco foi reprovado duas vezes no teste de admissão. 

Um ano após chegar na cidade, o jovem Hitler estava sem recursos financeiros e passou a morar em abrigos públicos enquanto tentava ganhar dinheiro com suas pinturas.

Em 1913, Hitler deixou seu país de origem e passou a morar na cidade de Munique, na Alemanha. Lá, o pintor austríaco utilizou seus talentos artísticos para conseguir subsistir até a eclosão da Primeira Guerra Mundial.

Hitler se juntou ao exército alemão e foi lutar na linha de frente do conflito.  Em duas ocasiões, foi ferido.  A primeira em 1916 e a segunda em 1918. A medalha  Cruz de Ferro, uma das maiores honrarias concedida aos militares alemães da época, foi concedida a ele na época. 

O austríaco deixou o conflito  depois de ter ficado temporariamente cego graças a um ataque com gás mostarda. No hospital,  recebeu a notícia de que a Alemanha havia se rendido. 

Em 1919 Adolf Hitler se filiou ao Partido dos Trabalhadores Alemães (DAP), na época liderado por Anton Drexler. Em apenas um ano, os discursos fortes e radicais do soldado condecorado o alçaram ao posto de principal orador e propagandista. No mesmo ano a organização mudaria seu nome para Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP).

O grupo político acreditava na construção de um Estado étnico forte, liderado por uma autoridade suprema, que buscava expandir seu território para o leste, com o objetivo de prover a nação alemã de recursos e mão de obra escrava dos povos eslavos. 

A narrativa dos Nacionais-socialistas era alimentada por teorias da conspiração, populares na época, que falavam sobre um suposto plano judeu para a dominação mundial. 

A máquina de propaganda do NSDAP utilizou textos como Os Protocolos dos Sábios de Sião, para afirmar que o socialismo soviético e o capital internacional seriam partes de um plano judeu para subjugar as demais raças.

A derrota na guerra e o fim do império alemão, chamado de Segundo Reich, foram entendidos como parte da suposta estratégia judaica. Para os nazistas, a Alemanha não perdeu, mas tomou uma “facada nas costas”  de uma suposta elite judia.

Em 1923, o Partido que já estava sob a liderança de Hitler, fez uma mobilização de 2 mil membros para tentar um golpe de Estado contra a República de Weimar, instituída após a derrota alemã. 

O plano era invadir a cervejaria em que membros do governo da Bavária e figuras proeminentes do Estado se encontravam para celebrar o aniversário da República. A partir disso, os revoltosos tentariam pressionar as autoridades a cederem a suas visões contrárias à recém-instaurada democracia e se juntarem em uma marcha até Berlim.

Os membros do NSDAP, com medo das consequências que poderiam ocorrer se o plano falhasse, não seguiram com a tentativa de golpe. Hitler então conduziu uma manifestação em um monumento militar chamado Feldherrnhalle. 

Um grupo de militantes nazistas caminhavam rumo ao monumento, quando  encontrou com policiais militares. Foi iniciada uma troca de tiros que custou a vida de 14 membros do Partido e quatro policiais.

Hitler acabou preso por alta traição e condenado a cinco anos de reclusão, que foram reduzidos para um ano. Foi durante o cárcere que o austríaco escreveu Mein Kampf.

Hitler cumpriu a pena e voltou a liderar o Partido, que havia se tornado uma importante força política em meio à grande crise econômica e política em que o país se encontrava.

A disputa contra os poderosos movimentos marxistas na República de Weimar e a pressão dos nazistas levaram os partidos conservadores a aceitarem uma coalizão com o NSDAP. 

A aliança venceria as eleições e, em 1933, o presidente Paul von Hindenburg, um importante general da Primeira Guerra, nomeou Hitler como chanceler.

Um ano depois, o parlamento alemão foi incendiado. Um jovem comunista foi preso como responsável. Sob a justificativa de combater um suposto golpe da extrema-esquerda, Hitler instaurou um estado de sítio que o permitiu reprimir opositores.

Após a morte de Hindenburg, Hitler fez uma reforma na lei para concentrar os poderes do presidente e do chanceler e criar o posto de Fuhrer, estabelecendo a ditadura no país.

Durante os anos que precederam a Segunda Guerra Mundial, o regime nazista conseguiu resolver os graves problemas econômicos que consumiam a Alemanha, construiu grandes obras de infraestrutura e remilitarizou o país.

Os sucessos econômicos abafavam para a massa as atrocidades cometidas pelo governo, que exterminou seus opositores, conduziu políticas de eutanásia contra deficientes, estabeleceu leis racistas e aumentou a perseguição à comunidade judaica.

A política externa de Hitler, influenciada pelos ideais expansionistas do nazismo, empurrou o país para a guerra contra as forças ocidentais e soviéticas. Ao passo que a Alemanha avançava no território soviético, os judeus e outros cidadãos considerados “indesejáveis” eram exterminados por meio de fuzilamentos.

Os métodos de execução sistemática foram adaptados para atingirem escala industrial. O ápice foi atingido com os campos de concentração e extermínio que ganharam notoriedade após o final da guerra.

À medida que as forças Aliadas se aproximavam da vitória, a velocidade do processo de extermínio aumentava. 

Os horrores da ditadura hitlerista só acabariam depois da chegada do Exército Vermelho em Berlim e o suicidio do ditador. Após a derrota do terceiro Reich, os cúmplices de Hitler foram julgados por seus crimes e a Alemanha passou por um processo de “desnazificação”.

4 - Leopoldo II

Tipo de regime: colonial

Estimativa de mortes: 10 milhões

Vítimas: congoleses

Fonte: Reprodução/Vatican News

 O rei Leopoldo II não cometeu genocídio contra seu próprio povo, o que o diferencia dos demais nomes nesta lista. Na verdade, o rei nem exerceu poder total em seu território de origem, onde o parlamento belga exercia um importante papel na política.

O monarca entra para a lista dos maiores genocidas do século XX devido às atrocidades que liderou durante 23 anos no Estado Livre do Congo, território africano no qual Leopoldo nunca pisou.

Embora os crimes do rei belga tenham sido iniciados no final do século XIX, eles perduraram até os primeiros anos do século XX.

Leopoldo II foi o segundo rei que a Bélgica teve desde a sua independência do domínio holandês em 1830. O monarca nasceu na família real de Wettin, de origem germânica, no ano de 1835, na capital belga de Bruxelas.

As dinastias europeias tinham ligações de sangue entre si nessa época. Leopoldo era o primo em primeiro grau da Rainha Victoria da Inglaterra. O pai de Leopoldo também exerceu um importante papel no casamento da rainha britânica com o príncipe alemão Albert

Antes de reinar sob os belgas, Leopoldo II exerceu o papel de Duque de Brabant e serviu no exército de seu país. O então príncipe se casou com Marie-Henriette, a filha do Arquiduque da Áustria. 

Após a morte de seu pai em 1865, o duque de Brabant é coroado como Rei Leopoldo II da Bélgica. 

Apesar do monarca buscar se utilizar do prestígio de seu cargo para influenciar o parlamento e fazer lobby pelos interesses reais, o poder no país estava dividido entre o Partido Católico e o Liberal, que disputavam no legislativo.

Leopoldo II se encarregava principalmente de desenvolver as capacidades de defesa de seu país. A outra grande preocupação do monarca eram os cofres públicos. Na concepção do rei, uma das poucas funções que restavam para as coroas europeias naquele momento histórico era administrar o dinheiro.

As ambições de conseguir aumentar suas riquezas levou seus olhos e sua volúpia para o continente africano. 

O monarca então passou a se apresentar para as demais nações europeias como um filantropo interessado em levar desenvolvimento e a cultura europeia para a África.

Com as intenções de firmar a presença belga em áreas pouco exploradas por outras potências europeias no continente, o rei passou a financiar exploradores como o britânico Henry Morton Stanley. 

As expedições adentraram pelo Rio Congo até regiões que não tinham grande contato com os europeus por conta do difícil acesso. 

Ao longo da trajetória, os exploradores construíam ruas, estabeleciam pontos de comércio e convenceram os chefes tribais a assinarem acordos se colocando à disposição de Leopoldo II. 

Poucos anos depois, entre 1884 e 1885, aconteceria a Conferência de Berlim. Durante essa reunião, as potências europeias organizaram a partilha da África. Os países mais relevantes receberam fatias do continente para estabelecer colônias.

O reino belga não entrou na partilha, porém Leopoldo II conseguiu articular a criação de uma zona de livre comércio e ajuda humanitária no território que suas expedições operavam. 

Assim, surgiu o Estado Livre do Congo, no território equivalente à República Democrática do Congo nos dias atuais.

Apesar das promessas de administrar as obras das suas instituições de caridade, Leopoldo transformou a região em uma grande propriedade particular, na qual organizou a exploração brutal dos recursos naturais.

Trabalhos forçados eram empregados na extração de riquezas como látex e marfim. O uso de violência extrema para reprimir os trabalhadores escravizados era constante. Métodos como desmembramento de familiares, torturas, estupros, castigos físicos e assassinatos eram corriqueiramente utilizados para  controlar os locais

As estimativas apontam que praticamente metade dos que viviam naquele território pereceu pela brutalidade empregada pelas forças do rei.

Para conseguir estabelecer esse esquema de exploração genocida, o monarca criou a Force Publique, um exército privado formado principalmente por nativos que prestavam contas a mercenários europeus.

Ao longo dos 23 anos em que Leopoldo II foi dono do Estado Livre do Congo, muitas denúncias sobre as terríveis condições às quais a população local era submetida vieram a público. 

Uma das mais famosas veio do escritor Joseph Conrad, que redigiu em 1902 a obra Coração das Trevas para descrever a realidade nos domínios de Leopoldo II.

As denúncias levaram à pressão das demais potências coloniais contra o Rei, uma vez que o mesmo estaria violando os acordos e transformando o Congo em uma área rentável em vez de promover a caridade.

 O monarca cedeu a região para a administração colonial belga. A mudança deu fim ao genocídio orquestrado por Leopoldo II e país seguiu sob domínio europeu até sua independência em 1960.

Durante muitos anos, o Rei que explorou o Congo era visto pelos belgas como uma figura histórica responsável por realizar grandes obras no país e evitar que a Bélgica se envolvesse nos conflitos de seus vizinhos.

O monarca chegou a ser elogiado pelo ex-primeiro-ministro como sendo um “herói com grandes planos para um país tão pequeno". 

A visão positiva dos belgas sobre Leopoldo II se mantém até os dias de hoje. Existem alguns movimentos no país para ressignificar a imagem do rei. 

Em 2019, o primeiro-ministro Charles Michel fez um pedido de desculpas oficial pelo genocídio.    Há episódios de vandalismo das estátuas do monarca desde 2020.

5 - Pol Pot

Tipo de regime: comunista.

Estimativa de mortes: entre 1.2 e 3 milhões.

Vítimas: opositores políticos e pessoas consideradas “intelectuais”.

Fonte: Reprodução/Aventuras na História

Pol Pot nasceu em 1925, com o nome de Saloth Sar, em uma família relativamente rica no Camboja. Aos seis anos, Sar e seu irmão mais velho foram morar na capital do país, Phnom Penh, para estudar. 

O futuro ditador teve aulas em colégios que seguiam o currículo francês, país que se posicionava como protetor do Camboja.

Em 1949, o jovem conseguiu uma bolsa para continuar os estudos na capital francesa, onde teve o primeiro contato com os ideais marxistas.

Durante este período,Saloth começou a participar da atividade revolucionária do Partido Comunista, que na época se assemelhava  ao stalinismo em termos ideológicos.

Quatro anos depois de partir para a Europa, o jovem retornou a seu país de origem. No mesmo ano, o Camboja conseguiu sua independência e passou a ser governado pelo rei Norodom Sihanouk.

Após seu retorno, o futuro ditador conseguiu um emprego como professor de história, geografia e literatura francesa em uma escola particular. 

Em 1963, Sar deixou a capital por temer as suspeitas das autoridades sobre seu envolvimento com grupos de extrema-esquerda. Nesse período adotou o nome Pol Pot

O comunista deixou o país e se hospedou no Vietnam. Posteriormente Pol Pot foi morar na República Popular da China, onde vivenciou a Revolução Cultural.

Depois de se refugiar nos países vizinhos, Pol Pot voltou ao seu país para liderar uma guerrilha na floresta. A intensificação dos bombardeios americanos a alvos do Vietcong em território do Camboja   fizeram o discurso radical da guerrilha ganhar força e legitimidade entre os camponeses da região.

Por conta do desalinhamento do rei Norodom Sihanouk e dos avanços comunistas, os Estados Unidos apoiaram um golpe de Estado orquestrado pelo general Lon Nol.

A partir disso, o exército americano passou a intensificar os bombardeios contra o Khmer Vermelho, nome pelo qual ficou conhecido o grupo de Pol Pot, e bases do Vietcong no Camboja. O movimento só fortaleceu o líder comunista, que avançava cada vez mais contra as forças do governo militar.

No ano de 1975, Phnom Penh foi dominada sem resistência. Lon Nol fugiu do país com a sua família para se refugiar, enquanto Pol Pot conquistava a liderança suprema.

Os habitantes das áreas urbanas foram levados à força para o campo, onde passaram a trabalhar como escravos em plantações coletivas

As primeiras vítimas do regime recém estabelecido foram os funcionários do governo anterior.

Milhões de habitantes das áreas urbanas foram levados à força para o campo, onde passaram a trabalhar como escravos em plantações coletivas. As famílias eram constantemente divididas, com as crianças sendo enviadas para campos onde viviam sob a tutela de oficiais do Khmer Vermelho.

Pessoas consideradas “intelectuais” eram sumariamente executadas. Assim, qualquer cidadão que exercesse um trabalho visto como diferenciado antes da revolução seria morto, assim que descoberto. 

Quaisquer atividades consideradas contrarrevolucionárias eram punidas com a morte. Nesse contexto, atitudes banais, como expressar algum tipo de religião, falar uma língua estrangeira e até usar remédios “ocidentais” levavam pessoas a serem torturadas e mortas.

Os próprios militantes do movimento não estavam a salvo, uma vez que milhares foram mortos por suspeitas de espionagem e traição. 

O terror de Pol Pot chegou ao fim quando o vizinho Vietnã invadiu o país. Pol Pot morreu em uma cabana no interior do Camboja, sem enfrentar nenhum julgamento por seus crimes.

Vale ressaltar que não foram contabilizadas as estatísticas decorrentes de guerras internacionais, uma vez que o objetivo era tratar dos regimes estabelecidos por estes ditadores.

Esses tiranos marcaram seus nomes com sangue nas páginas da história, em alguns dos massacres mais violentos que a humanidade já presenciou.

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