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"O Som da Liberdade" - Para os críticos, libertação sexual e atacar a direita são pautas mais importantes que combater pedofilia

O que está acontecendo com as crianças ficou em segundo plano, pois preferem fazer acusações pessoais e desdenhar do tema.

Cinema
Crítica
© Angel Studios
André Brandão
Comunicação Brasil Paralelo

Semana passada estreou O Som da Liberdade, produzido pela Angel Studios (The Chosen) e dirigida por Alejandro Monteverde. Parte da crítica cinematográfica usual não parece valorizar muito o filme, classificando-o de medíocre a paranóico, e inspirado por teorias da conspiração

Outros se mostram incapazes de enxergar o filme como tal, e o vêem apenas como uma peça de propaganda de rivais políticos a ser atacada. Para a surpresa de poucos, os críticos e o público discordam. Os espectadores têm comparecido às salas de cinema em números impressionantes para um filme independente.

Uma viagem ao inferno

O filme conta a história real de Tim Ballard, interpretado por Jim Caviezel, agente da Homeland Security nos EUA. Ele investiga casos de venda e produção de pornografia infantil e tráfico de crianças que envolvam cidadãos americanos. O trabalho dele era prender pedófilos, mas o que acontecia com as crianças?

Logo ficam claros os limites de seus meios de ação. Ele prendia pedófilos, mas não atuava resgatando as crianças.  Mas um caso em específico o muda. Ele joga tudo para o alto em busca de reunir uma menina à sua família.

É chocante a cena onde ele trabalha no relatório de sua última operação que resultou na prisão de um pedófilo e na apreensão de material pornográfico. Ele deve assistir todo o material e descrever, em detalhes, o que os vídeos contém. O próprio Tim Ballard, em uma entrevista, descreve como teve de assistir a milhares de horas de material verdadeiramente horrível, e como aquilo o afetou de maneira irreversível. 

Ele diz não conseguir evitar projetar os rostos de seus filhos nas crianças abusadas. Usando apenas a expressão de Jim Caviezel, os cineastas nos levam a entender, e sentir, tudo que é necessário.

O grande mérito do filme é exatamente este, o quão contido ele é. Apesar do assunto tão perturbador, os cineastas não nos mostram nada muito intenso ou explícito. Apenas os olhares das crianças já nos levam a entender o que sucede, e o que está em jogo. 

Se essa história real é tão chocante, a ponto da mera sugestão do tema causar repulsa à grande maioria das pessoas, por que então o filme gerou tamanha controvérsia?

A descoberta da sexualidade

O cinema contemporâneo parece ter como um de seus principais temas a descoberta da sexualidade. Grande parte da crítica celebra essa escolha, como vemos na recepção de filmes como Me Chame pelo Seu Nome (2017) de Luca Guadagnino:

Os filmes de Luca Guadagnino são todos sobre o poder transformador da natureza - a maneira como ela permite que nossa verdadeira essência se revele, e nos inspira a perseguir nossas paixões secretas.

Críticas como a acima são muito fáceis de encontrar. São inúmeros filmes ganhadores de prêmios e elogios da crítica onde a trama central é o início ou transformação da vida sexual. 

A "jornada do herói" se tornou a descoberta e a libertação de desejos sexuais reprimidos pela sociedade, esta materializada na forma de antagonistas que não aprovam tal comportamento, como em A Forma da Água (2017), ou de valores "antiquados" que precisam ser superados internamente pelo protagonista, como em O Segredo de Brokeback Mountain (2005). 

Também existem casos em que o ato sexual em si, colocado claramente na tela como no premiado Azul é a Cor Mais Quente (2013), é onde o drama supostamente acontece. É muito difícil encontrar um filme contemporâneo e reconhecido pela crítica onde a mensagem é a oposta, onde a satisfação desmedida de desejos sexuais causa sofrimento. Shame (2011) é uma exceção que prova a regra. 

A impressão que fica é que a simples escolha desses temas já favorece certos filmes aos olhos da crítica e dos festivais de cinema, independente de sua qualidade estética ou dramática. Como dizem muitos em Hollywood, esses filmes são "relevantes" pela sua mensagem. 

Nesta visão, quando a mensagem é "correta" e ataca um alvo que deve ser combatido, então a pedofilia se torna algo realmente escandaloso, como em Spotlight: Segredos Revelados (2016). Neste filme, jornalistas investigam casos de padres que abusaram sexualmente de crianças. Jornalistas heróis, combatendo a retrógrada e poderosa Igreja Católica. É fácil entender por que ganhou o Oscar de melhor roteiro original e melhor filme naquele ano. Ao receber a estatueta, um dos produtores disse: "este filme deu voz aos sobreviventes, e este Oscar amplifica esta voz". Pelas reações até agora, não consigo imaginar O Som da Liberdade recebendo o mesmo reconhecimento.

Nada disso é novo. Queira ou não, somos herdeiros da revolução sexual dos anos 1960. Nessa visão de mundo a libertação total, e a própria ideia de limite, precisam ser combatidas. Esta tem se tornado a norma. 

Ouvimos com frequência da militância de hoje: "todas as expressões de sexualidade são válidas". Som da Liberdade mostra que nem sempre é o caso, e que algumas vezes existem elementos mais sinistros envolvidos. Será possível que a turma que defende a libertinagem é tão apegada às suas pautas que o sofrimento de crianças não os sensibiliza? É o que parece quando desdenham O Som da Liberdade.

Olhar e agir

O cinismo como alguns tratam o fato do filme ser baseado em uma história real não é de se ignorar. O que se passa na cabeça de jornalistas e críticos que atacam quem denuncia o tráfico infantil? De qualquer maneira, ao deixar isto de lado e olhá-lo apenas como filme, nota-se que poucos parecem perceber sobre o que o filme realmente nos convida a pensar.

O sequestro e prostituição de crianças é algo terrível e deve ser combatido. Ninguém disputa este ponto. Mas o filme aborda algo mais sutil e profundo.

Numa cena marcante, um dos aliados de Ballard, um ex-traficante que agora resgata crianças, confessa ter tido relações sexuais com uma prostituta que era muito mais jovem do que aparentava. Ele tinha certeza que se tratava de uma mulher, mas só depois se deu conta do que ela de fato era: uma criança. 

Fica clara a pergunta que o filme nos faz: ao olhar para uma criança, o que você vê? Não à toa, um dos principais elementos desse circuito de abuso infantil, tanto na história real quanto no filme baseado nela, é a produção de pornografia

Ou seja, são imagens, feitas para consumo como tal. É o ato de olhar em si, manifestando-se da maneira mais perversa que se pode imaginar, onde a vida de crianças é destruída em troca de um breve momento capturado em vídeo.

Quando um adulto olha para uma criança ele pode ver várias coisas: uma promessa de continuidade da nossa vida e cultura; alguém a ser libertado de uma cultura sexualmente opressora que precisa ser superada; ou um objeto a ser comoditizado, vendido e revendido. 

Tudo depende de quem olha, e do que vê. Nada disso muda a realidade do que é de fato uma criança; um ser humano em formação - física, psicológica e moral - com pouca ou nenhuma habilidade de se defender de um adulto, um ser humano já formado.

O filme What is a Woman (2022) mostra uma dinâmica que alguns propõem nos tempos de hoje. A abolição da categoria "mulher" começa com a ideia de que essas categorias são relativas. Qualquer um pode tornar-se uma mulher ao chamar-se de uma. O nome toma o lugar da coisa em si. Pensando assim, por que a categoria "criança" seria diferente?

É importante lembrar que nos anos 1970 figuras como Michel Foucault, Jean-Paul Sartre, entre outros intelectuais franceses, militavam abertamente a favor da diminuição da idade legal de consentimento, alegando que crianças (de até 6 anos) eram capazes de tomar decisões sobre suas vidas sexuais. 

Em uma entrevista, Foucault diz: "supor que o fato de uma criança ser incapaz de explicar o que aconteceu e de dar o seu consentimento são dois abusos intoleráveis, completamente inaceitáveis". Michel Foucault é um dos autores mais citados em teses universitárias produzidas no Brasil.

O momento correto

O filme também foi chamado de alarmista e exagerado. Penso o contrário. Se ele tem algum porém, é o de não explorar de maneira ainda mais profunda a destruição psicológica sofrida por uma criança vítima de tal abuso. Mas, apesar dos cineastas dizerem o contrário, o filme não é sobre as crianças. É sobre os adultos. Os cineastas escolheram retratar a história de alguém que decidiu fazer a coisa certa independente do custo. Não se trata do que sobra depois do sofrimento, trata-se do que podemos fazer para que crianças não se encontrem em tal situação. É sobre nós, os adultos, como vemos as crianças, e que escolhas fazemos.

Este ponto da discussão lembra outro filme que gerou controvérsia em seu lançamento, e continua a gerar até hoje: A Lista de Schindler (1993) de Steven Spielberg. Este filme é visto por alguns como sentimental e ingênuo. O diretor Stanley Kubrick o críticou, dizendo que o filme é sobre uma história de sucesso, enquanto o Holocausto não é nada se não o fracasso total da civilização que permitiu a morte de 6 milhões de pessoas. Mas, como coloca Kubrick, Spielberg foca nos "...600 que não morreram".

Entendo o ponto, mas discordo. Em face a tal horror, qualquer obra artística é insuficiente ao tentar representá-lo. Mas não é isso que A Lista de Schindler tenta nos mostrar. O filme é sobre escolhas difíceis, é sobre como agir quando o mundo enlouquece, e o que acontece com aquele que se recusa a juntar-se à loucura e decide resistir como pode. Jim Caviezel compara com o filme de Spielberg, dizendo que este "foi lançado 50 anos tarde demais", mas que O Som da Liberdade ainda pode ter um efeito positivo, ao jogar luz em problema horrível de se contemplar mas impossível de se ignorar, lembrando a todos que "os filhos de Deus não estão à venda".

Assista ao filme que tem gerado tantas polêmicas

Diante dos cancelamentos feitos a produções que defendem bons valores, a Brasil Paralelo decidiu ir na contramão. 

A BP realizou uma parceria com a Angel Studios para divulgar Som da Liberdade no Brasil. Assistir e divulgar o filme faz com que o problema seja mais conhecido. Por isso, estamos dedicados a levar o maior número de pessoas para as salas de cinema. 

Assinando agora qualquer plano da Brasil Paralelo, você ganha um ingresso para assistir ao filme em qualquer cinema Cinemark do Brasil. Aqueles que já são membros da Brasil Paralelo também participarão de sorteios para receber ingressos gratuitos.

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