Você já parou para refletir que a realidade pode ser diferente do que você enxerga? Costumamos pensar que usufruímos de uma percepção razoavelmente equilibrada e completa dos eventos cotidianos em que estamos imersos, considerando-a uma habilidade quase inata.
No entanto, para aqueles que acreditam na existência de uma verdade objetiva, impõe-se uma difícil tarefa: identificar corretamente esta verdade, perceber com clareza como as coisas são e o que está acontecendo.
Em linhas gerais, podemos dizer que a percepção dos fenômenos do nosso dia a dia conta ao menos com a participação de dois mecanismos importantes.
O primeiro deles, de teor moral e individual (ainda que sofra uma interferência patente do meio circundante), diz respeito aos objetivos que estabelecemos para nós mesmos.
Como gozamos de uma capacidade limitada de processamento, o cérebro converte nossas metas em requisitos que usa para filtrar as milhares - talvez milhões ou bilhões - de informações que nos chegam do ambiente a todo momento. Isso quer dizer que não estamos vendo e percebendo tudo, somente aqueles dados que nosso sistema operacional julgou serem relevantes para nós.
Essa inusitada condição é demonstrada por um simples teste de atenção seletiva. No link abaixo, você pode realizá-lo. O intuito é assistir ao vídeo e contar quantas vezes os jogadores vestidos de branco passam entre si a bola.
Apesar de soar uma mera curiosidade, este conhecimento tem um impacto inimaginável na nossa vida. Estar ciente de que não estou captando tudo o que existe ao meu redor me faz continuamente questionar quais são outros possíveis pontos de vista que posso adotar para expandir a minha perspectiva e fisgar as informações que não estou notando.
Contudo, os nossos propósitos e a seletividade da nossa atenção não são os únicos elementos que desempenham um papel fundamental na nossa apreensão da realidade. O segundo mecanismo chama-se linguagem.
Embora também colaborem nas nossas decisões, é neste aspecto que os meios de comunicação apresentam uma atuação mais incisiva e, quem sabe, mais invisível.
Nós percebemos e armazenamos na memória, com mais facilidade, situações que já foram descritas, para as quais já temos um nome e um significado vinculados.
Assim, além de colaborar para a construção da cultura, que influi em nossas escolhas e, portanto, no que percebemos, os meios de comunicação manipulam igualmente aquilo que vemos e, consequentemente, nossa compreensão da realidade, através da linguagem, ao antecipadamente descrever certas manifestações corriqueiras e nomeá-las.
Mas a mídia não se concentra apenas em dar um nome a essas circunstâncias, como também em lhes conferir um significado, chaves de interpretação. Deste modo, esses acontecimentos ganham realce e são notados com maior frequência em detrimento dos demais, sendo, por isso, mais claramente rememorados, tornando-se mais presentes em nosso esquema do que é a realidade.
Para me fazer entender ainda melhor, vou recorrer a um exemplo banal, reiteradamente mencionado e cujo sentido originalmente não daria margem para grandes polêmicas.
Quando um homem abre a porta do carro em um primeiro encontro e gentilmente se oferece para pagar o jantar, podemos dizer que está apenas seguindo regras de etiqueta que, no passado, fariam com que fosse visto como um bom partido e tivesse maior probabilidade de êxito na conquista do coração da dama em questão.
Entretanto, o que para as gerações precedentes era um comportamento de galanteio e educação, transformou-se na manifestação do exercício de um sistema de poder em que os homens ocupam a hierarquia de comando e, desde este ponto, oprimem as mulheres.
A nova geração de mulheres, criada em meio a esse novo contexto interpretativo propagado pelos meios de comunicação, lê textos, escuta entrevistas, assiste a programas, filmes e séries em que são listadas uma série de comportamentos masculinos que são caracterizados como uma expressão do sistema machista opressor e - não é preciso dizer - para os quais se confere um sentido negativo.
Ao começar a se envolver com um rapaz, tendo em vista o objetivo de um relacionamento romântico saudável e bem-sucedido, passam a avaliar as ações e os comportamentos do pretendente. E quais lhe chamarão a atenção senão aquelas atitudes que foram anteriormente nomeadas de machistas e interpretadas pela mídia como opressoras e cujo significado, subjetivamente falando, é um risco para a mulher?
Assim, capaz de identificar o que foi relatado nas revistas, programas de televisão, etc, e aplicando o significado fornecido por essas produções, começa a ter a forte percepção de que o machismo realmente existe.
Esse poder da mídia de catalogar as situações também interfere de uma outra maneira em nossa percepção.
Como nem todos os eventos estão claros, completos, usamos nossa imaginação para cogitar o que está acontecendo. Em outras palavras, o conjunto de possibilidades do que pode acontecer - algo que também é proporcionado pelas produções culturais com as quais temos contato - vão preencher as lacunas quando buscamos entender um determinado cenário.
Portanto, a mídia consegue manipular você através desse sistema em que elabora as possibilidades de trajetória humana (metas pessoais), nomeia e concede uma interpretação para os eventos (tornando mais facilmente identificáveis, mais memoráveis e, portanto, mais presentes no nosso quadro de realidades) e, por fim, através do mesmo esquema imaginativo que traça as possibilidades de vida, que é igualmente utilizado como referência para inteligirmos aquilo que desconhecemos em completude.
Cupom aplicado 37% OFF
Cupom aplicado 62% OFF
MAIOR DESCONTO
Cupom aplicado 54% OFF
Assine e tenha 12 meses de acesso a todo o catálogo e aos próximos lançamentos da BP