A habilidade de enxergar o mundo de maneiras diferentes, encontrar padrões, fazer conexões entre fenômenos distintos e gerar soluções deveria ser uma competência presente em todos os alunos do último ano do ensino fundamental. No entanto, no Brasil, mais da metade dos estudantes dessa faixa etária não consegue realizar uma ou mais de uma dessas tarefas.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revelou hoje (18/6) os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA). Entre outras habilidades, o exame avalia a capacidade de que os alunos desenvolvam soluções inovadoras para problemas do dia a dia, em vez de apenas seguir padrões preestabelecidos.
De acordo com o documento, 54,3% dos alunos avaliados não apresentaram níveis satisfatórios de criatividade. Essa porcentagem está 20 pontos percentuais acima da média dos estudantes dos demais países membros da OCDE, que é de 33%. Ao todo, a organização avaliou estudantes de 56 países, com o Brasil ocupando a 44ª colocação.
A superintendente do Itaú Social, instituição que atua pela melhoria da aprendizagem e trajetória escolar, acredita que a criatividade é desenvolvida quando os professores têm a liberdade de entender as necessidades de cada aluno. Patrícia Mota Guedes afirmou em entrevista à Folha de São Paulo que os estudantes precisam ser estimulados a pensar, não a repetir mecanicamente um conteúdo.
O diretor do Colégio Porto Real no Rio de Janeiro tem um pensamento parecido com o de Guedes. João Malheiros afirmou durante entrevista ao podcast Conversa Paralela, da Brasil Paralelo, que é necessário olhar para o aluno não só no quesito acadêmico, mas como um ser humano.
No colégio dirigido pelo professor há uma tutoria com os alunos. É o momento de o estudante desabafar sobre suas angústias, ser orientado para assuntos de maior interesse ou habilidade e falar sobre expectativas com o futuro.
Paralelamente, os pais realizam reuniões mensais com o tutor de seu filho, que geralmente é um de seus professores. As dificuldades do aluno são debatidas, de forma que escola e família possam trabalhar em conjunto para melhor interesse do estudante.
Questionado sobre esse tipo de abordagem estar hoje restrito às escolas privadas, Malheiros afirma que o Estado tem meios para proporcionar aos pais de alunos de instituições públicas a mesma experiência. O professor tem trabalhado junto com parlamentares em Brasília para a criação de projetos que revolucionem as políticas públicas.
Um exemplo seria criar uma lei que permita o pai ir à escola na na dia da reunião, tal qual há em atestado de acompanhante em hospitais.
“Os pais que trabalham não podem estar presentes na vida escolar dos filhos porque têm que cumprir carga horária. Se há uma lei que impede que o patrão imponha sanções nesses casos, tudo fica mais fácil”, explicou.
Uma das descobertas do Pisa foi a de que os alunos com pior desempenho são os que vivem em periferias, onde tem pouca assistência tanto em estrutura das escolas, quanto socioeconomicamente.
"Essa dificuldade é atribuída tanto ao ambiente desafiador no qual esses alunos vivem como à falta de recursos nas escolas em que vivem", relata o documento.
Patrícia Guedes concorda com o relatório e afirma que o professor precisa receber formação ao longo de sua carreira ou prática pedagógica. Dessa forma terão condições de proporcionar a seus alunos as atividades que cada turma precisa naquele momento, abolindo a chamada “decoreba”.
João Malheiros tem uma opinião semelhante. No colégio em que dirige os professores recebem formação constante por parte da diretoria. Ele trabalha para levar a mesma ideia aos diretores de escolas públicas por todo o Brasil.
Durante o Conversa Paralela, podcast da Brasil Paralelo, Malheiros contou ter sido convidado pelo governador de Minas Gerais, Romeu Zema, para compartilhar o trabalho que tem feito no Rio de Janeiro com 3500 diretores de escolas públicas.
O convite veio após o professor coincidir com Zema em uma reunião e dizer ao mandatário que o problema da educação se resolve com a formação de pais e professores.
“Eu disse ao governador Zema que se ele quisermos ter uma revolução na educação desse país é preciso fornecer mais que material didático e computadores em sala de aula. É preciso formar os pais e os professores”
O diretor do Porto Real ainda ressaltou a importância de que pais procurem o poder público e cobrem essas soluções para a educação de crianças e jovens.
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