A disputa pela prefeitura de São Paulo tem sido o cenário dos principais embates no Brasil. Nos últimos dias, as trocas de acusações se intensificaram. Como principais protagonistas, Tabata Amaral (PSB) e Pablo Marçal (PRTB).
A deputada Tabata Amaral, do PSB. Imagem: Câmara Dos Deputados.
Na madrugada de 26 de agosto, Tabata publicou um vídeo em que propõe um resgate do passado de seu concorrente:
O vídeo se encerra com um chamado pessoal. Tabata prevê que os outros não estarão e desafia Marçal a não fugir, porque afirma que será pior.
A gravação é realizada com estética em estilo investigativo. Sob um fundo preto, uma Tabata séria inicia a narrativa:
“Maio de 2024: o ex-coach Pablo Marçal anuncia a candidatura à Prefeitura de São Paulo. A história que ele conta é a de um empresário bem sucedido, de origem humilde, que fez fortuna do nada[...]”
A seguir, começa a sequência de acusações. Inicialmente, aponta que Marçal foi preso como membro de uma quadrilha que aplicava golpes bancários. Ela também questiona a origem do dinheiro que financia os recursos judiciais que Marçal impetrou para não ser preso:
“A história que ele não conta é que ele foi preso em 2005 por fazer parte da maior quadrilha de fraudes bancárias do Brasil. Ele não conta, só que a gente contou, que em 2010 ele finalmente foi condenado à prisão por aplicar esses golpes. Mas por que ele não ficou preso? Porque recorreu da sentença por oito anos, até a condenação prescrever, em 2018. Ele alega que não teve advogado. É mentira. Recorrer custa caro, e Pablo ainda não era empresário. De onde veio o dinheiro?”.
A seguir, a deputada continua a apresentar seu levantamento sobre a vida de Marçal:
Tabata chega à parte final do vídeo citando a mais recente acusação de que Pablo estaria criando e remunerando perfis para aumentar o alcance de suas próprias publicações em redes sociais e atacar adversários.
Segundo ela, o próprio influenciador teria denunciado o esquema em um áudio que acabou se tornando público.
Tábata finaliza insinuando uma associação entre Marçal e supostos membros do PCC:
“De onde vem esse dinheiro? Quem está por trás do Pablo Marçal? Quem é que banca essa candidatura? Uma pesquisa por seus aliados esbarra sempre nas mesmas letra: P de Pablo, C de coach, C de criminoso”.
Não foi o primeiro vídeo em que as declarações da candidata deram margem a este tipo de interpretação.
No dia 22 de agosto, antes mesmo de a Justiça conceder o pedido liminar, a candidata publicou um vídeo em que realiza uma série de associações ainda mais diretas e robustas do candidato a pessoas ligadas ao PCC.
Já adotando a estética cinematográfica, com cenário escuro e fundo musical de suspense, revela uma série de informações ainda mais graves. Declarações que também envolvem terceiros:
“Renato Cariani é muito amigo do Pablo Marçal. Ele é réu por tráfico de drogas, suspeito de abastecer o PCC.
O maior aliado político do Marçal é Leonardo Avalanche, presidente do partido dele, o cara que bancou o Marçal como candidato. O Avalanche foi gravado confessando que foi ele que soltou André do Rap, um dos líderes do PCC.
Ele também admitiu que tem ligação com outro líder do PCC, o Piauí, que é irmão do Valquito, que foi fotografado em Paraisópolis advinha com quem? Pablo Marçal. Quem também anda junto com Pablo?Escobar. Escobar e o sócio dele, Júlio César Pereira, vulgo “Gordão” estão sendo infestigados por trocar carros de luxo por cocaína, em um esquema com Francisco Chagas de Souza, conhecido como Coringa, preso por ligação com o PCC. Tem uma figura que liga todos esses elementos.”
Neste momento, ela joga uma fotografia de Marçal na mesa. E continua:
“Tem uma coisa que todos eles fazem. Eu não vou permitir que São Paulo caia nas mãos dessa gente”, afirma.
Ao realizar tais acusações, Amaral entra em uma seara arriscada. Ainda que opte por não processar Tabata, Marçal pode endurecer o tom adotado em relação a ela. Até o momento, embora não se esquivasse das trocas de acusações, Marçal havia adotado um discurso mais severo contra os três candidatos nas primeiras posições segundo as pesquisas de intenções de votos. Guilherme Boulos (PSOL), Ricardo Nunes (MDB) eram os principais alvos dos ataques de Marçal.
A seguir, vinha José Luiz Datena (PSDB).
À Tabata eram reservados adjetivos como “PT Kids”, “parachoque de PT”, “apoiadora de ditador”, “adolescente| entre outros. Ele também a acusou de difundir Fake News no debate da Band. Segundo ele, a deputada se apresentava como única candidata à prefeitura de São Paulo, sem mencionar Marina Helena (NOVO/SP).
A primeira acusação de Amaral se refere a uma condenação que de fato ocorreu em 2005 por furto e fraude bancária. Marçal foi preso com base nos indícios encontrados pela Operação Pegasus, noticiada como a operação contra a maior quadrilha especializada em invasão de contas bancárias pela internet.
Marçal foi condenado a 4,5 anos pela Justiça Federal de Goiás, mas o crime prescreveu, após vários recursos, não cumpriu pena.
O ex-coach afirma que não cometeu nenhum ato ilícito. Apenas consertava computadores de algumas das vítimas.
Segundo informações da Folha de São Paulo, ele realizava o chamado pishing, ou seja, operava um programa responsável por captar e-mails, para que fossem enviados spams que captam os dados bancários das pessoas.
A segunda acusação é de anulação da candidatura de Marçal a deputado federal em 2022.
O fato ocorreu. Na época, o presidente do Tribunal Regional Eleitoral negou o registro da candidatura por irregularidades na documentação de registro.
Antes disso, Marçal havia tentado uma vaga para presidente da República vetada pelo TRE por brigas internas de seu partido, o PROS, que preferiu apoiar a chapa Lula/Alckimin.
O atual candidato também foi alvo de busca e apreensão em 2023.
Na Operação batizada de “Ciclo Fechado”, a polícia federal cumpriu sete mandados de busca nas casas de Marçal e de um sócio. A PF investigava uma suposta denúncia de lavagem de dinheiro nas eleições de 2022.
Na época, o ex-coach afirmou que se tratava de 'vitrine de pegar vilão'. Ele realizou uma live em seu canal do youtube, em que afirmou que 'todos que apoiavam [Jair Bolsonaro estavam em uma lista para serem inelegíveis, destituídos de seus cargos'.
"O Brasil está virando uma máquina de punir gente inocente e vitrine de pegar vilão e colocar em pedestal”, afirmou na ocasião.
Na ocasião, a defesa de Marçal esclareceu que o cerne da campanha girava sobre o fato de Pablo ter sido o maior doador de sua campanha. Também enfatizaram que nenhum ilícito havia sido cometido.
A mais grave insinuação de Tabata, entretanto, até o momento não foi comprovada.
Uma parte do que ela afirma se baseia em indícios.
O jornal Folha de São Paulo publicou uma reportagem em que apurou que Leonardo Avalanche, presidente nacional do PRTB, partido de Marçal, foi flagrado em conversas nas quais mencionava ter ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Os jornalistas tiveram acesso a um áudio no qual Avalanche supostamente diz ter contatos com integrantes do PCC e se vangloria de ter influenciado a soltura de André do Rap.
A reportagem afirma ter confirmado a autenticidade da gravação por meio de seis fontes, incluindo participantes do encontro e membros do próprio partido. No áudio, a voz atribuída a Avalanche menciona "o chefe do PCC que está solto", referindo-se a Francisco Antonio Cesário da Silva, conhecido como "Piauí", ex-chefe do PCC na favela de Paraisópolis (SP). Também insinua que seu motorista seria aliado do criminoso.
Na época, questionado sobre a conduta do presidente de seu partido, Marçal afirmou que não tem “nada com isso”.
“Ele que se explique”, afirmou.
Ontem, 26 de agosto, uma série de reportagens acusaram Avalanche de ameaçar de morte outros dirigentes do partido e, assim, favorecer seus aliados.
A ex-vice-presidente do PRTB, Rachel Carvalho, chegou a registrar um Boletim de Ocorrência no qual relata ter sido ameaçada.
Ainda que Tabata não consiga comprovar a totalidade de suas denúncias, os vídeos por ela gravados podem ser o “fio desencapado” de trama complexa e profunda que envolve a política e o crime no Brasil.
“Não são poucos os casos noticiados pela imprensa em todos o Brasil de políticos conectados a milícias e grupos de extermínio; quadrilhas de roubos de veículos e cargas ; traficantes de droga, pedofilia e toda sorte de crime organizado, inclusive, aos dois grupos mais poderosos do país, o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC). Sem falar claro, nas quadrilhas de crimes de “colarinho branco”, afirma o colunista Ricardo Ketzman de O Antagonista.
Alguns fatos recentes apontam que a relação entre o Poder Público e o crime pode ser mais estreita do que se imagina.
A Operação Fim da Linha, realizada em abril deste ano, constatou que empresas de ônibus associadas a organizações criminosas receberam mais de 830 milhões da prefeitura de São Paulo.
Duas empresas, denominadas Transwolff e Upbus tinham a cúpula formada por integrantes do crime organizado.
Em um evento realizado em maio deste ano, o governador Tarcísio de Freitas revelou que o PCC detém cerca de 1.100 postos de gasolina e iniciava operações de aquisições de etanol.
O candidato a prefeito de São Paulo, Pablo Marçal. Imagem: reprodução redes sociais.
As denúncias de Tabata Amaral podem levar ao debate público essa suposta associação entre políticos e eventuais associações criminosas.
Uma vez realizadas as acusações, é necessário prová-las. O criminalista Leonardo Gagno afirma que caso Tabata não consiga comprovar a veracidade do que disse, poderá ser processada no Direito Penal comum pelas práticas de calúnia e difamação.
“Claro que é necessário que se prove que as acusações falsas tiveram impacto no resultado das eleições, prejudicando Marçal. No momento, não há nenhuma condenação contra Pablo Marçal em relação ao tráfico de drogas.
Sobre a condenação que ele teve pela prática de crime de formação de quadrilha, foi declarada prescrita, o que significa que atualmente, ele é considerado primário e de bons antecedentes para o Sistema de Justiça Brasileiro”, afirma.
Tabata Amaral finalizou o vídeo afirmando que já sabe como o ex-coach ganhou tantos seguidores em tão pouco tempo:
“Um spoiller: não foi graças ao seu `rostinho harmonizado´.
E finaliza desafinando seu adversário político:
“Eu sei que você está com medo de ser preso. Sei que você já está pensando em desistir. Mas, calma! Domingo que vem tem debate. Os outros candidatos já disseram que não vão. Vamos ser só eu e você. Eu vou apresentar minhas propostas para a cidade, mas também vou desmascarar você”.
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