O agronegócio brasileiro cobrou respeito ao CEO do Carrefour. Alexandre Bompard. Na manhã de ontem, 21 de novembro, seis grupos repudiaram a suspensão de compra de carnes produzidas no Mercosul, inclusive no Brasil.
No Brasil, a empresa também administra a rede de supermercados Atacadão.
A medida foi anunciada por Bompard em em perfil de rede social em 20 de novembro. Para ele, o produtor francês “está desesperado” com as negociações de um acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e outras importantes associações do setor afirmaram, em nota, que se “o Mercosul não é fornecedor à altura do mercado francês [...] não serve para abastecer o Carrefour em nenhum outro país”.
Já o ministro da Agricultura e Pecuária se disse “indignado” com a situação. Carlos Fávaro criticou um suposto bloqueio a acordos comerciais estabelecidos na Cúpula do G20, que terminou na terça-feira, 19 de novembro.
Afirmou não querer acreditar “em um movimento orquestrado por parte de empresas francesas visando dificultar a formalização do Acordo Mercosul - União Europeia.
“Era mais bonito e legítimo só manter a posição contra, mas não precisava ficar procurando pretexto naquilo que não existe na produção sustentável e exemplar brasileira”, disse ao sair do Itamaraty no dia 20 de novembro, após um jantar em homenagem a Xi Jinping.
Os desafios do agronegócio para reafirmar sua importância para a economia local têm sido constantes. No caso do Brasil, o advogado Christian Lohbauer acredita que a má fama do setor entre alguns se deve, em parte, a um pensamento “impregnado” na cabeça das pessoas.
Para ele, falta informação sobre o papel do agro e, principalmente, atualização dos currículos escolares. Explica que, em muitos casos, os alunos não aprendem corretamente a importância do setor.
Em entrevista ao podcast Conversa Paralela, ele disse:
“O Fazendeiro é visto como assassino de índios nos livros didáticos e o professor acha e diz que está correto. Isso mostra que temos um trabalho longo para que as pessoas entendam a realidade”.
Assista à entrevista completa abaixo:
A medida vai ao encontro de um possível protecionismo do presidente Emmanuel Macron sobre a produção de carne. Em março de 2024, o mandatário justificou as mudanças climáticas como motivo para barrar o acordo de livre comércio.
No entanto, autoridades brasileiras avaliam as declarações como uma desculpa protecionista. O governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil-MT) afirmou que as falas sobre defesa do meio ambiente são “conversa fiada”.
Em janeiro de 2024, o Mato Grosso foi responsável por 15% das exportações do agronegócio brasileiro.
Mendes pediu que as pessoas deixem de comprar produtos do Carrefour para “honrar o país”.
“Fica claro que essa conversa do presidente da França, Emmanuel Macron, e de muitos ambientalistas que dizem defender o meio ambiente não passa de conversa fiada. No fundo, querem usar o meio ambiente para criar barreiras contra o agronegócio brasileiro e de outros países aqui da América do Sul”, disse o chefe do executivo mato-grossense.
Veja o vídeo completo:
No comunicado, Alexandre Bompard menciona que há “risco de inundação do mercado francês com carne que não atende às suas exigências e normas”.
"Em resposta a essa preocupação, o Carrefour quer agir em conjunto com o setor agrícola e assume hoje o compromisso de não comercializar nenhuma carne proveniente do Mercosul”.
A publicação gerou revolta nos produtores, principalmente por mencionar a suposta falta de qualidade da carne produzida na América do Sul.
O Carrefour não foi a única companhia francesa a anunciar o fim da importação de carne da América do Sul. Na noite desta quinta-feira, 21 de novembro, a varejista Les Mousquetaires aderiu à medida.
Em um comunicado na LinkedIn, o CEO do grupo, Thierry Cotillard, afirmou que é preciso respeitar a soberania alimentar francesa. Ele escreveu:
“Sobre esses temas que dizem respeito diretamente à nossa soberania alimentar, devemos agir coletivamente. Por isso, Intermarché e Netto também se comprometem a não comercializar carne oriunda da América do Sul”.
O governo brasileiro respondeu imediatamente. No mesmo dia, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) emitiu uma nota de repúdio.
O texto afirma que Alexandre Bompard colocou em dúvida a qualidade dos produtos e que isso pode influenciar os consumidores de outros países.
“No que diz respeito ao Brasil, o rigoroso sistema de Defesa Agropecuária do Mapa garante ao país o posto de maior exportador de carne bovina e de aves do mundo, mantendo relações comerciais com aproximadamente 160 países, atendendo aos padrões mais rigorosos, inclusive para a União Europeia que compra e atesta, por meio de suas autoridades sanitárias, a qualidade e sanidade das carnes produzidas no Brasil há mais de 40 anos”.
O repúdio do governo brasileiro e dos produtores fizeram o Carrefour reagir. Na manhã de ontem, 21 de novembro, a filial brasileira da empresa alegou que a restrição seria apenas em lojas francesas.
Em nota oficial, a companhia também esclareceu que não questiona a qualidade dos produtos do Mercosul, mas está atendendo a “uma demanda do setor agrícola francês diante de um contexto de crise".
“Todos os outros países onde o Grupo Carrefour opera, incluindo Brasil e Argentina, continuam a operar sem qualquer alteração e podem continuar adquirindo carne do Mercosul. Nos outros países, onde há o modelo de franquia, também não há mudanças”.
Depois da nota de repúdio dos produtores pedindo respeito, o Carrefour não se manifestou. O ministro da Agricultura e Pecuária acredita em uma ação “orquestrada” que vai contra os acordos firmados no G20. Já o governador do Mato Grosso quer que os brasileiros boicotem a empresa.
Até o momento, o Carrefour não falou mais sobre a questão.
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