Confesso que tudo começou de uma forma inesperada, mas já me sinalizando um certo ar de grandiosidade futura.
Fui convidado a integrar uma equipe que iria para Natal, no Rio Grande do Norte. Não sabia o que faria exatamente, nem por que tinha de ir. Mas quando o convite surgiu, senti que deveria aceitar a missão, mesmo com poucos detalhes.
As pontas pareciam soltas. Num certo dia, sequer me lembro qual da semana, passei pelo corredor e meu amigo Danilo me perguntou: Pode entrar agora em uma reunião? É sobre o projeto do Instituto RECEBS, em Natal.
Eu tinha outra reunião no mesmo horário, mas quando percebi já tinha pronunciado: sim.
Entrei e vi pessoas que nunca havia visto antes: Claiton e Carmem. Com pouco tempo, entendi que eles tinham uma história de vida que todos deveriam conhecer e que minha missão era extrair deles essa história.
Na reunião de vídeo, a Carmem já chorou, só de pensar no que me contaria. Mal sabia ela o que viria e que relatarei brevemente aqui.
Mais uma vez, repentinamente, descobri a data em que iríamos: 15, 16 e 17 de maio. Aguardei por esses dias com ansiedade.
Ressalto que sequer aprecio voar, prefiro os pés no chão. De São Paulo para Natal, seriam três horas em uma lataria pesada que sai do chão carregando pessoas e bagagens.
Para o meu alívio, chegamos e tivemos o primeiro encontro.
Danilo, o mentor do projeto; Thais, que já vinha coordenando as relações entre a Brasil Paralelo e o Instituto RECEBS; e eu, em busca de conteúdo, nos deparamos com a comitiva que nos aguardava.
Carmem, Claiton, Magno e o Coronel Helio nos esperavam no aeroporto, com uma faixa, na qual lemos:
“Instituto RECEBS dá as boas-vindas à Equipe da Brasil Paralelo.”
Já surgiu aí aquele famoso nó na garganta. Quem não se sente tocado ao ser surpreendido por uma gentileza inesperada? Não precisavam de tanto, e foram nos buscar em dois carros, com faixa e com sorrisos. Por quê?
Partimos rumo ao instituto, onde as crianças e os pais nos esperavam. Eles próprios tinham feito o almoço para nós e nos aguardavam para fazer a oração e comer.
Quanta ansiedade nos esperando! Sinceramente, parecíamos famosos vindos de um filme querido. Éramos “ninguéns” tratados com pompa.
As crianças cantaram nos recebendo. A comunidade se reuniu porque a “Brasil Paralelo” estava ali por causa deles, para eles.
Começamos as primeiras entrevistas.
Lucimar, Lidiane e Maria da Conceição foram as primeiras mães que pude entrevistar.
Quando fazemos perguntas, precisamos entender quem está diante de nós e sacar, às vezes no mesmo instante, o que perguntar para receber uma partilha dos momentos marcantes de sua vida.
O que ouvi, você poderá ouvir também, em breve. Mas já adianto que tivemos relatos de pessoas que não desistiram de estudar mesmo se encontrando em situações de muita pobreza. Enquanto, para alguns, faltava o que comer; ainda assim havia uma mãe pensando em como educar seus filhos.
A falta do alimento seria passageira, a falta do estudo não era uma opção.
Lidiane, em especial, contou-nos da sua emoção quando o filho autista começou a falar. Nem ela tinha essa esperança. Não acreditava sequer que o ouviria dizer: mãe. Mas isso aconteceu no Instituto RECEBS, com apoio da Carmem, do Claiton e dos professores e demais voluntários.
Na sequência, outra surpresa nos esperava. Luta.
A luta no tatame do mestre Joseano era apenas o símbolo de mais histórias de vida que foram de muita luta contra as mazelas do mundo.
No tatame, os alunos em seus quimonos nos receberam com honra, homenagearam a Brasil Paralelo ostentando uma bandeira com nossa logomarca. Fomos cumprimentados como os mestres são cumprimentados.
Ouvi o mestre Joseano e alguns de seus alunos. Mais lágrimas surgiram, e também sorrisos.
William, o primeiro faixa-preta em taekwondo com síndrome de Down do Brasil, com um sorriso constante, mostrou cada uma de suas medalhas, suas conquistas. Com humildade e simplicidade, disse ter esperança. E sabem o que ele disse que assiste? A Brasil Paralelo.
O mestre Joseano é mais uma pessoa cuja história nos toca permanentemente. Já ajudou pessoas a desistirem do suicídio, a deixarem as más companhias, drogas, a se reconciliarem com a família. Vendo vidas transformadas, como parar sua missão?
Na missão dele, a missão da BP e vice-versa: uma união de propósitos.
Fim do primeiro dia. Tivemos um alegre jantar estreitando mais ainda os laços. Tínhamos chegado ao termo deste dia e parecia que já nos conhecíamos há tempos.
Ao amanhecer, fomos para a praia com as crianças. Mas eles já moram em uma cidade litorânea. O que de especial há nisso?
Natal, infelizmente, não se nos apresentou como uma cidade só. Vimos que existe uma Natal dos turistas, depois da ponte; e uma Natal antes da ponte, sofrida, desprezada.
Nem todas as famílias levam as crianças para a praia. A Carmem levou e nós registramos a alegria que se fez ali.
Como as surpresas não cessavam, após a praia, fomos parar na rádio 94 FM, a Rádio da Cidade, entre as mais ouvidas de Natal. Semio Timeni apresenta o programa Cidade Notícias.
Quem daria espaço para a Brasil Paralelo em uma rádio? Bem, neste caso, o apresentador era um Membro assíduo. Naquele horário, os ouvintes souberam o que é o Instituto RECEBS, o que é a Brasil Paralelo e por que estávamos juntos.
Mais entrevistas, mais histórias de vida.
O Danilo, que começou tudo isso, ouvia tudo em silêncio, interiorizando cada história. Não cessava também de captar imagens, filmar tudo, não perder nenhum detalhe. Thais não soltava as crianças, tornou-se para elas uma professora muito querida. Nenhum de nós tinha tanta simpatia como a Thais para conquistar os pequenos.
Pouco depois, chegou o momento de conversar com o Claiton, marido da Carmem. Ele sustenta o instituto que ajuda as crianças de Natal com dinheiro do próprio bolso.
O Claiton tem uma presença firme e bem-humorada, umas tatuagens e um jeitão irreverente. Quem diria que um homem como ele choraria? E que faria o entrevistador chorar também?
Atribuo a isso a força da vida, da verdade.
Carmem assistiu a tudo emocionada só de pensar no seu momento de falar. Parecia que seria naquele dia, mas a principal entrevista teve de ir para o último dia da viagem. Mais tensão.
Ainda na noite do segundo dia, o Coronel Helio nos levou para um auditório e convocou mais de 150 pessoas de seu círculo para nos ouvir.
Nós três estávamos diante de grandes corações, dispostos a ajudar, preocupados com a educação no Brasil. Membros e apoiadores da Brasil Paralelo reunidos em uma terça-feira à noite para entender o que nos levou até ali.
Finalmente, o último dia teve, para mim, uma emoção especial. O coronel e o Magno reuniram amigos da Aeronáutica, conseguiram três aviões, e nos fizeram sobrevoar a região.
A frase do coronel me inspirava: quanto mais alto, maior o horizonte.
E não fomos somente nós. As crianças e os pais foram levados para voar. Para o coronel, elas deveriam ter contato com as alturas e sonhar grande. Com ele, pequeno, foi assim.
Incansável, Danilo seguiu captando imagens junto ao Magno. Thais criava coreografias com as crianças. Da minha parte, consegui capturar aquela emoção que vem de dentro dos corações, dessa vez, vinda do meu amigo “coroner”.
Partimos para o Instituto RECEBS novamente.
Havia chegado o momento de ouvir aquela que não desistiu quando teve todas as razões para desistir.
Havia chegado o momento de ouvir a mulher que sustentava aquilo ao lado de seu marido, seu porto seguro, como dizia.
Não tínhamos mais tempo para outra coisa. A prioridade era ouvir Carmem Helane, presidente voluntária do Instituto RECEBS. Entender o que a Brasil Paralelo significava para ela e sua visão para o futuro.
Foi a última entrevista. Depois dessas lágrimas, só as da despedida.
Três dias ou três meses? Pouco tempo, mas o impacto de muitas vidas.
A Brasil Paralelo estava lá, no coração deles. Nossos conteúdos chegaram para as crianças, para os pais e para os professores. Eles estavam aprendendo em nossa plataforma e cuidando das gerações futuras com o nosso conteúdo.
Como não ver significado neste trabalho? Como não voltar para o escritório e se dedicar mais ainda?
Pessoas que se consideravam esquecidas, quase escondidas nos bairros mais pobres no além-ponte de Natal, estavam se formando com nossos conteúdos, superando seus problemas e se enchendo de esperança.
Vi, na realidade deles, que onde há vontade, há um caminho.
Continuaremos contando essas histórias. Ainda há muito o que mostrar. Continue acompanhando os relatos.
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