Após meses de ensaio, o primeiro filme ficcional da Brasil Paralelo está ganhando vida. A produção optou por um caminho diferente do cinema mainstream e realizou mais de 20 ensaios, diferente do que grande parte dos filmes adotam, o que pode se resumir a apenas dois ensaios, por exemplo.
Os atores puderam trabalhar mais em seus personagens para trazer ao público da BP uma experiência imersiva. Na entrevista a seguir, Felipe de Barros comenta a história do filme, curiosidades da produção e muito mais.
Felipe, você interpreta Natan, o demônio aprendiz. Esse filme não só é o primeiro filme da Brasil Paralelo, mas também é a primeira vez que você sai do teatro e participa de uma produção audiovisual. Quais são os principais desafios para dar vida a essa obra?
"Esse trabalho é um presente e uma responsabilidade muito grande, algo que me tira da zona de conforto. Uma das coisas que eu estou aprendendo no audiovisual é que o tempo e o modo de atuar é muito diferente do teatro.
Eu sempre ouvi que, no cinema, se você levanta uma sobrancelha, você já passou. Sempre atuei no teatro, então eu sofri muito para me adaptar. Eu me lembro de um caso que elucida bem essa situação, foi quando fui fazer um teste para um filme francês.
Chegando no estúdio, a produção me passou detalhes sobre o personagem e a diretora me disse: 'Vamos fazer assim: eu sou sua amante, e você não tem como continuar comigo'.
Fiz esse improviso, mas sendo muito do teatro, saiu uma coisa meio exagerada, e aí não rolou. Entendo o porquê. O audiovisual é uma outra linguagem, existem cenas que podem ser exageradas, mas na maioria das vezes, a atuação é como esse papo que estamos tendo agora.
Me disseram uma vez: "Felipe, fazer um filme, uma novela, é ter esse papo. Os gestos simplesmente vêm".
No cinema, eu preparo a minha partitura, sei onde saio e entro, só que no dia o diretor fala para fazermos de outro jeito. E aí, a minha partitura cai. Existe uma máxima no cinema que é assim: "Como vai ser a cena?" — "Não sei, só vou saber na hora". Não tem como saber.
Me lembro que uns dias atrás gravamos o bucolismo, uma das cenas com o Natan, e aí teve um trovão. Se você está ali, o trovão vem e você não o ignora. Foi incrível. É gostoso usar essas coisas. É aquele exemplo famoso no qual você está atuando no teatro e passa um rato. Lide com isso. O público vai sentir isso e vai adorar.
Para mim, o cinema é uma delícia. O filme 1917 representa um pouco o que eu acho do cinema. Aquele tipo de cinema, sem cortes. É um teatro na linguagem do cinema.
Na minha opinião, a sensibilidade do 1917 é muito grande. No final do filme, quando o personagem conta para o oficial que o irmão dele morreu, em cinco segundos, é impossível você não chorar. Está tudo ali.
Muitos atores são consumidos pelo personagem que interpretam, principalmente aqueles com uma personalidade mais complexa, que realmente são vilões. Como você enxerga e lida com isso?
Felipe de Barros: Uma vez eu li um livro sobre o Stanislavsky, de um discípulo dele, o Toporkov, que comenta essa questão. Nesse livro, Stanislavski Ensaia, ele pergunta: "Quantas vezes por dia você pensa como o personagem?". Eu acho que isso ajuda muito.
A câmera é apenas mais uma testemunha. Ela está apenas captando. Não estou dizendo que eu vou para a minha casa, encontrar os meus parentes, e vou estar sendo Natan. Não é isso, mas existem alguns momentos que você pode usar isso, se for sadio, claro.
Eu sempre cito o exemplo do Heath Ledger fazendo o Coringa no Cavaleiro das Trevas. O Jack Nicholson, na época, ligou para ele, porque ele já tinha feito o Coringa, sabendo que é um personagem difícil, que se você entrar muito pode te consumir, e foi o que aconteceu.
Foi o melhor trabalho da vida dele, mas também teve esse preço: a própria vida.
Você percebe algo disso com o Natan?
Felipe de Barros: Sim, com certeza. Jamais me compararia com Heath Ledger, mas acho que sim. Quando eu entro na van para ir ao Hotel, o Roberto Mallet, que faz o Fausto, está sentado na minha frente, e eu fico processando certos pensamentos. É uma coisa que te consome, te invade, é uma sensação. O Stanislavski dizia que é um sentir a si mesmo quando você está em cena; você se sente o Natan, se sente o Fausto. Não sei, não é uma chave que você vira, ligando e desligando o personagem. É muito complexo. Tem muito de mim mesmo que está ali também.
Você falou da questão dos cinco segundos que condensam toda a emoção da história. Dentro dessa nossa produção, dessa primeira ficção, há um momento implacável, memorável, nesse sentido que você descreveu?
Felipe de Barros: Sim. Estamos gravando essa conversa no período em que o capítulo sete ainda não foi gravado, mas foi ensaiado. E a última vez que eu passei ele com o ator que faz o Pedro, tem bons momentos ali que trazem isso. Assistimos um ensaio que ficou muito legal. Na minha opinião, o episódio sete tem isso, porque ali é um momento decisivo para o Natan, um momento importante no processo de tentação do protagonista.
É aquela coisa, o demônio não necessariamente precisa ser feio, com uma voz grave e assustadora. Muito pelo contrário. A arte imita a vida, e na vida vamos encontrar muitas pessoas que falam doce, são educadas, te tratam bem, e no final te detonam, te matam, te ferram. Isso acontece muito.
Uma outra referência para mim foi assistir materiais sobre serial killers. Assisti Jeff Dahmer e também conteúdos sobre o maior serial killer brasileiro, que foi o Pedrinho Matador. Eu assisti tudo dele. Ele dizia: "Quando eu ia matar uma pessoa, eu era completamente educado. Dava comida para ela, tratava ela bem". Ele dizia que a pessoa não tem que sentir medo.
Esse personagem do Natan é muito interessante, porque eu imagino que as pessoas vão reconhecer pessoas que elas conhecem".
Por se tratar de uma obra profunda que aborda temas psicológicos e religiosos, a Brasil Paralelo irá realizar um evento de lançamento para melhorar ainda mais a sua experiência com o filme. Este evento será online e gratuito. Para ser avisado quando ele vai ao ar, clique no link abaixo e faça o seu cadastro:
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